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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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OPINIÃO

​A Catalunha e a legalidade democrática

11 out, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Respeitar a legalidade é uma coisa em democracia e outra, bem diferente, em países não democráticos.

Tem-se dito que a questão da Catalunha é política, não se devendo dar demasiada importância aos aspectos jurídicos. Talvez, mas há uma distinção essencial a fazer.

Em Portugal, que não era democrático antes do 25 de Abril, a mudança de regime fez-se com uma revolta militar. Não havia outra saída, já que Marcello Caetano não iniciou uma transição pacífica para a democracia, ao contrário do que se passou em Espanha, que logrou chegar à democracia sem revolução, muito por influência do PREC – processo revolucionário em curso em Portugal. Mas em países democráticos, como é hoje Espanha, respeitar a legalidade democrática é um imperativo que não se pode menosprezar.

Os independentistas catalães não respeitaram a legalidade democrática. Por isso nem a UE nem qualquer dos seus Estados membros, bem como outros países democráticos, reconheceriam uma eventual Catalunha independente saída da presente crise. A possibilidade de a Catalunha integrar a UE é nula.

Ao isolamento internacional de uma Catalunha autoproclamada independente soma-se o isolamento económico. Inúmeros catalães foram colocar as suas poupanças fora da Catalunha. E muitos bancos e empresas deslocaram as suas sedes em Barcelona para outros locais de Espanha.

Como escreveu Luís Salgado de Matos no seu blogue, “se os catalães não forem pedir os documentos alfandegários a Madrid, em breve ficarão sem petróleo e não poderão exportar nada no mercado legal. Os bancos da Catalunha independente não terão acesso aos créditos do BCE”.

Por isso o líder do governo autonómico catalão, Puigdemont declarou uma independência adiada que é sobretudo “um desejo de independência futura”, nas palavras de Salgado de Matos, escritas antes da intervenção de Puigdemont. O partido independentista catalão de extrema-esquerda classificou essa intervenção de “traição inqualificável”.

Resta saber se num futuro referendo legal, que é uma exigência respeitável da maioria dos catalães, mas implica uma revisão da Constituição espanhola, essa maioria rejeitará uma independência unilateralmente declarada. Até há semanas as sondagens apontavam nesse sentido, mas a falta de jeito de Rajoy nesta crise, criando “mártires” na Catalunha, pode ter mudado a posição de catalães moderados.

Comentários
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  • Valdemar Rodrigues
    12 out, 2017 Sintra 04:25
    Para que precisa uma democracia de uma constituição?
  • Mário Sousa
    12 out, 2017 Sintra 01:59
    Oh FSC que lírico que você é ao acreditar que a actual Constituição Espanhola é democrática. Basta dizer-lhe que foi feita em 1978, por Adolfo Suarez, franquista convertido, e sob a vigilância dos militares franquistas ... acha que isto é democracia ??? porque em Espanha não houve um 25 de Abri, com Revolução mas sim uma Evolução que matem ainda hoje os tiques do franquismo ... E será que você acha que o Mundo está parado - tal como a Inquisição que condenou Galileu - e que a Espanha de hoje é igual à de 1978 ??? Olhe que é bem diferente o Mundo de hoje de há 40 anos. Por isso, evolua e actualize-se porque está em 2017 ! ! ! E já que é tão legalista o que acha da ilegalidade de Espanha continuar com Olivença sob a sua jurisdição ? Gostava de ouvir a sua opinião, já agora, em nome do legalismo seu e das Cortes de Castela ...
  • F. Almeida.
    12 out, 2017 Porto 00:24
    Dr; Francisco S. Cabral ja' se informou sobre LEGALIDADE e LEGITIMIDADE? Nem tudo que é LEGAL é LEGITIMO.O 25 de Abril, à luz da constituição da época , foi ilegal mas o povo legitimou o acto revoluciona'rio, de imediato, por aclamação.A legalidade democra'tica veio muito depois !!!,
  • Vasco
    11 out, 2017 Olivença 23:21
    Pois é tantos exemplos de democracia à força das armas e da bastonada! E porque razão então uma diferença de pareceres entre a Catalunha e a ex-Jugoslávia, não será tudo isto estranho? E quanto a sabotagem da economia catalã de onde vem, de Barcelona ou Madrid?
  • pedro miguel
    11 out, 2017 19:38
    O Francisco e outros, tambem ou merce do seu oficio , estao melhor colocados que a generalidade das pessoas, dos leitores. No entanto, nao se conteve e resvalou para o tradicional de assustar as populaçoes. . E sabe melhor que eu, que entre avanços e tragedias, o mundo nao seria o que é se nao tivesse havido avanços, se tudo e sempre se conformasse á constituiçao do momento. E lamento que assim seja, pois acontece agora na catalunha, o que acontece pelo mundo sobre outras questoes, em que as forças presentes se pronunciam e o povo escolhe. Mas, o Francisco parece nao admitir desde logo isto : que os catalaes, a favor e contra a independencia, absolutamente preferem um processo negociado. . E por muito legalista que seja, tambem sabe melhor que eu que os catalaes sentem-se colonizados, coisa que nao gostam, nem querem. Lógicamente se a independencia implica fome e guerra, a mesma generalidade prefere continuar submisso. Insisto qualquer que seja o seu pendor, e é evidente, existe uma populaçao que se quer libertar de espanha. E vou aproveitar para rematar com duas narrativas que tambem ja escrevi :: os portugueses continentais festejariam se a madeira se libertasse de portugal . Já os espanhois, como outros tradicionais que expulsam de casa os filhos desobedientes e ou gravidos, nao querem largar a catalunha.
  • Amadeu Rodrigues
    11 out, 2017 lisboa 19:37
    Mas o governo central deu oportunidade de fazer um referendo dentro da legalidade (como aconteceu no Reino Unido com a Escócia) ? Assim nem foi possível fazer a discussão entre as vantagens do "sim" e do "não" (mais uma vez veja-se o exemplo atrás indicado) !
  • ADISAN
    11 out, 2017 Mealhada 19:05
    Não sei se se recordam que a UE apoiou totalmente o desmembramento da ex-Juguslávia, apoiando todos os paśes que declararam a sua independência, mesmo à força de armas, como se sabe. Não quero dizer que isso fosse errado, mas certo é que os Catalães se baseiam em poder usufruir dos mesmos direitos, embora as situações sejam bem diferentes. Certo é também que, se não estamos agora em situação idêntica à da Catalunha, devêmo-lo muito aos nossos heróis de 1640. Compreendo perfeitamente os catalães, pois, apesar de Espanha ser agora um país democrático, isso não significa que os catalães sempre estiveram na Espanha por vontade própria, portanto, democraticamente espanhóis.