25 set, 2017
Circunstâncias da vida profissional levaram-me recentemente até Sarajevo, capital da Bósnia e Herzegovina. Como o local da conferência em que participava era perto, pude visitar o Museu dos Crimes contra a Humanidade e do Genocídio 1992-1995. A data reporta-se ao período do cerco a que a cidade esteve sujeita e o museu, no primeiro andar adaptado de um prédio vulgar, procura dar conta das atrocidades cometidas pelos grupos que se guerrearam e as formas de resistência protagonizadas pela população.
O primeiro choque que tive na visita foi constatar que algumas das ruas que apareciam nas imagens como cenário do horror eram aquelas que tinha acabado de percorrer. É impossível ver aquele espaço e não fazer a pergunta: será que depois disto algo de semelhante pode voltar a acontecer? A história dos povos, e nomeadamente os daquela região do mundo, diz-nos, desgraçadamente, que pode. Basta desaparecer a geração que viveu a tragédia – e às vezes nem isso!
Deste ponto de vista, os múltiplos sinais que a Europa tem vindo a dar, de recrudescimento da xenofobia, dos discursos nacionalistas e dos diferentes tipos de populismo (a entrada da extrema-direita alemã no parlamento é apenas mais um sintoma) deveriam fazer soar os alarmes. Ao ressuscitar de velhos fantasmas, ao desconhecimento do que é diferente ou estranho e a uma série de outras formas e visões da realidade baseadas na antinomia nós-eles é necessário que se responda com iniciativas educativas e culturais que promovam o interconhecimento, o diálogo, a dignidade de cada pessoa e o valor da vida.
Neste Museu de Sarajevo foi reservado um pequeno compartimento para que os visitantes possam pegar em post-its e afixar as suas mensagens. Num quarto repleto delas, várias diziam: “Sejamos humanos, não animais”. Mas outras alertavam: “Os animais não fazem coisas destas”.
A vingança premeditada, as violações em massa, as matanças indiscriminadas exprimem o lado mais sórdido, hediondo e cruel dos seres humanos. Com ironia me comentava um alto funcionário da ONU, com quem falava sobre esta visita: “aquilo que distingue os humanos dos animais não é a inteligência mas a crueldade”.