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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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Um discurso desastrado

15 set, 2017 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Juncker, a propósito do estado da União, fez um dos mais nocivos e repelentes discursos que alguma vez têm sido feitos por uma autoridade europeia.

O Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a propósito do estado da União, fez um dos mais nocivos e repelentes discursos que alguma vez têm sido feitos por uma autoridade europeia.

De forma surpreendente, principalmente tendo em vista o que tem sido a experiência da União e as suas (dele, Juncker) posições anteriores, vem agora defender um avanço sem precedentes na centralização de poder na União. Se as suas propostas viessem a ser aprovadas, os Estados-membros deixariam praticamente de ter poder algum relevante. Um ministro das finanças europeu (alemão, claro) passaria a dirigir as finanças de todos os países e a definir as reformas estruturais que cada Estado teria que fazer a mando da Comissão; a política externa da União passaria a ser definida por uma maioria de países (leia-se a Alemanha) e não por unanimidade; a defesa seria centralizada numa defesa europeia arrastando todos os estados para as opções dos estados dominantes (neste caso Alemanha e França); os sistemas de apoio social caminhariam para uma uniformização total através de uma primeira fase de estabelecimento de padrões mínimos (que rapidamente se tornariam muito mínimos), os parlamentares europeus começariam a ser eleitos como representantes da Europa (mas o que é isso?) e não dos estados, que é a forma de haver mais deputados alemães, e por aí fora... Vale a pena ler o discurso, se quisermos ter uma noção do que é o absurdo em política e a subserviência em relação aos interesses alemães.
Estou convencido que, felizmente, os povos europeus não deixarão avançar tão descabelado projecto. Na verdade, com excepção da Alemanha, que teria maior facilidade ainda em dominar as decisões comunitárias, o que sucederia é que os Estados-membros passariam a ser meras regiões da Europa, perdendo o estatuto de estados soberanos da comunidade internacional. Penso que isso seria demais mesmo para eleitorados alheados das questões europeias, como o nosso.

Discursos como estes só demonstram que o fim da União poderá estar mais próximo do que julgamos.

Comentários
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  • Frederico
    16 set, 2017 Lisboa 14:39
    Este "senhor" escreveu um texto que atesta a sua completa incompetencia e visao desfasada da realidade. Quem me dera que a europa fosse governada à imagem da Alemanha; só quem nunca viveu na Alemanha pode pensar o contrário. Este "senhor" e outros nunca fizeram de Portugal alguma coisa positiva, fez parte dos bandos que teem esurpado os portugueses de tudo e ainda vem para aqui escrever astas cavalidades... Quem nao sabe ler ou pensar, quem nao percebe que é cidadao europeu e nao apenas portugues, nao compreende a realidade. Todos os dias entrao milhoes e milhoes de euros em portugal para sustentar as nossas empresas e estado e ninguem dá valor. Escrevem estas patranhas e continuam a negar a realidade portuguesa onde a fome e miséria seriam totais se nao existisse europa. Tenha vergonha e deixe de escrever cavalidades.
  • CF
    16 set, 2017 Beja 11:19
    Sendo o Sol o centro do sistema e a terra não, porquê levitar o chão?
  • Carlos
    16 set, 2017 Lx 07:47
    Ele bem quer o fim da UE mas ainda vai ter que esperar, a alternativa seria rapidamente a venezuelização de Portugal pois não temos recursos nem riqueza para estar fora da UE. Tudo o que contribua para aproximar Portugal dos mais ricos assusta este sr. Portugal pode crescer e estar na UE basta que os politicos se empenhem e tomem as medidas certas, não é a UE que nos impede de crescer.
  • Macela
    15 set, 2017 Porto 21:52
    Para este senhor nem sequer faríamos parte da moeda única. Estaríamos melhor se continuássemos no velhinho escudo? Duvido. Não ponho de parte uma federação europeia. Pode não ser a panaceia, mas não vejo outro processo que países como o nosso possam deixar de ser vistos como uns desgraçadinhos. Não quer dizer que , no fundo o sejamos, mas é tão lá no fundo, que ninguém dá por nós. Quando um país precisa de dizer que é o país de um tal CR7 , para se saber que existe, está tudo dito. Daqui a algum tempo, o dito CR7 será substituído por outro. Esperemos que também seja português.
  • MASQUEGRACINHA
    15 set, 2017 TERRADOMEIO 21:06
    Bem aparecido e melhor regressado, que já temia o desamparo da sua ausência! Pois eu dediquei-me ao repelente discurso, como lhe chama, e encontro nas palavras deste artigo exatamente o que pensei. Nem se percebe bem o que Junker pretende, em tempo de sustos nacional-populistas, só se é assanhá-los mais ainda, ou arregimentar prosélitos... Desastrado parece (enfim, é o Junker), mas desastroso é-o de certeza. Ai a Alemanha, a Alemanha... Nem os seus (aparentemente) melhores resistem aos apelos do superior ADN - veja-se o Schultz, no debate com a Merkel, a dizer que a Turquia estava definitivamente (!!) fora do baralho da UE porque nenhum alemão podia lá ir em segurança! Razão mais que suficiente, ao que parece. Ah, lá foram dizendo, ele a Merkel, in fine, que "evidentemente" falariam com os "parceiros"... Quanto à França : a França não é Macron, o Pragmático, a França é um país onde TODAS as vilas e aldeias têm, pelo menos, um monumento aos seus mortos das Guerras, por vezes também museus e memoriais - depende dos episódios e atrocidades sofridos. São todos esteticamente diferentes, todos bem cuidados, exibindo as listas, mais ou menos longas e pormenorizadas, dos nomes dos seus "enfants", militares e civis, mortos pelos alemães... É um povo que tropeça, literalmente, nas suas tumbas. Como alguém disse, um povo sem memória é um povo sem história, e os franceses mantêm a memória fresca e a guarda alta. Este discurso de Junker é, pois, um convite para a Le Pen defender a Pátria.
  • couto machado
    15 set, 2017 porto 18:36
    Seja bem aparecido Senhor Doutor João Ferreira do Amaral, após ausência prolongada. Não sei como classificar o "beijoqueiro" e, parafraseando o Doutor Pacheco de Amorim, consola-me saber que tudo isto já não vai durar muito. Deus queira que esteja certo.