09 set, 2017
Sentaram-se, lado a lado, quatro vítimas da guerrilha. Escolhidos de entre as seis mil vítimas reunidas com o Papa, nesta sexta-feira, em Villavicencio, provaram que a vingança e o ódio não têm a última palavra. E partilharam a sua dor e desejo de que sofrimentos destes que vitimaram mais de 8 milhões de colombianos nunca mais se repitam.
Deisy foi recrutada para a guerrilha com 16 anos, abraçou as armas, foi presa pelo exército e, quando saiu, voltou a combater ao lado dos paramilitares, até 2006. Hoje ajuda as vítimas da violência a desfazer o ódio e a perdoar.
Juan Carlos combateu 12 anos nas FARC, foi comandante de um esquadrão e, nesses anos de violência, perdeu a mão com uma granada. Hoje tem uma fundação que ajuda a promover jovens através do desporto.
Pastora Mira viu a guerrilha matar o pai, o marido, raptarem a sua filha - cujo corpo só encontrou sete anos depois - e, em 2005, os paramilitares também assassinaram o filho mais novo. Três dias depois de o sepultar, Pastora Mira encontrou um jovem ferido, levou-o para sua casa e deitou-o no quarto que era do filho. O jovem desconhecido recuperou e, ao ver as fotos do filho, confessou a esta mulher ter sido ele um dos assassinos que o torturaram e mataram. “Dou graças a Deus que, com a ajuda de Maria, me deu força para o servir sem lhe fazer mal, apesar da minha dor indescritível”, disse esta mulher ao Papa.
Francisco abraçou-a e agradeceu-lhe a coragem de quebrar esta corrente de violência, com o perdão, a reconciliação e a esperança de que a paz triunfe na Colômbia.
Presidiu ao encontro, a perturbadora Imagem do Cristo de Bojayá: um Cristo partido, sem braços nem pernas - o que resta de uma violenta explosão que, em 2002, massacrou dezenas de pessoas refugiadas na sua igreja. Mas o valor simbólico deste Cristo remete hoje para o sofrimento, a morte e tanto sangue derramado na Colômbia.
Misteriosamente, e apesar de mutilado, o rosto de Cristo de Bojayá mantém-se intacto, com um olhar de serenidade e amor. Foi esse olhar que Francisco procurou, no final do encontro, confiando-Lhe o destino deste povo tão sofrido e tão sedento de paz.