30 ago, 2017
Quando António Costa, apesar de ter perdido as eleições para Passos Coelho, conseguiu fazer aprovar no Parlamento um governo socialista por ele chefiado, graças ao apoio do BE e do PCP, levantaram-se dúvidas sobre a estabilidade da chamada “geringonça”.
Ao longo de 2016, porém, A. Costa mostrou que tinha “metido no bolso” os seus apoiantes de extrema-esquerda e que iria mesmo cumprir – como cumpriu – as metas orçamentais acordadas com Bruxelas.
2017 trouxe notícias ainda mais favoráveis, com o “boom” do turismo, o crescimento económico em alta e o desemprego a cair. Foi o fim da crispação, apesar de a propaganda governamental quanto ao alegado fim da austeridade ser contrariada por um investimento público irrisório e por cortes cegos na despesa do Estado, causando sérios problemas em escolas, hospitais, Forças Armadas, polícias, etc.
Em 2016, o tempo de espera para uma cirurgia no Serviço Nacional de Saúde foi o maior dos últimos seis anos.
A boa disposição de António Costa só foi abalada pela tragédia de Pedrógão Grande, apesar de uma sondagem (“focus group”) logo mandada fazer pelo PS indicar que o governo se mantinha popular.
O problema foi que no mês e meio que se seguiu raro foi o dia em que os incêndios florestais não encheram as televisões. Essa onda teve agora uma pausa com algumas chuvas, mas não sabemos se ainda irão arder mais hectares.
Entretanto, tornaram-se claras as deficiências no combate às chamas. Falhas de coordenação, sobretudo. Por alguma razão Portugal é, desgraçadamente, o “campeão” dos fogos florestais na Europa.
Costa e o Governo em geral procuraram adiar respostas, “chutando para canto” e tentando arranjar alguns bodes expiatórios. Mas o primeiro-ministro percebeu que a confiança no seu executivo tinha sido mesmo afectada por este flagelo.
Assim se compreende o tom agressivo, mal disposto e até malcriado com que A. Costa se referiu aos líderes do CDS e do PSD na “rentrée” política do PS. Por exemplo, acusou Passos Coelho de diariamente criticar os bombeiros – coisa que ele sabia, ou devia saber, que o líder do PSD nunca fez.
É uma agressividade que lança as maiores dúvidas sobre a seriedade da proposta feita dias antes por A. Costa de aprovar no Parlamento por maioria de dois terços (logo, com o PSD) os grandes investimentos públicos.
As eleições autárquicas só em escassa medida explicam o regresso a este desagradável clima de crispação.