21 ago, 2017
O racismo está no centro da política americana. Os partidários da “supremacia branca”, ajudados pelas posições ambíguas de Trump, vêm para a rua com símbolos e cânticos nazis. Na Europa o problema dos refugiados deu palco a agrupamentos de extrema-direita, abertamente racistas.
Em Portugal gabamo-nos de grupos desses não terem por cá expressão significativa. Provavelmente tal acontece porque ainda está presente na nossa memória colectiva o quase meio século anterior ao 25 de Abril e raros são os que gostariam de regressar a esse regime não democrático. Mas é um mito a ideia de que os portugueses não são racistas. Foram durante o período colonial e são hoje.
Talvez haja povos mais racistas do que o português, mas de nada serve iludirmo-nos. Só reconhecendo o que somos realmente poderemos lutar com legitimidade contra outros racismos, a começar pelo islamismo radical e fanático, que leva ao terrorismo.
Por isso é de louvar a iniciativa do diário “Público”, que no sábado começou uma série de artigos sobre a desigualdade racial em Portugal, designadamente na vida quotidiana. Nada como os exemplos vividos entre nós por negros das mais diversas condições para evidenciar que o racismo existe na nossa sociedade, por muito ignorado que seja por quem manda.
A manchete do jornal destaca que “há dez vezes mais presos africanos do que portugueses” (em proporção, claro). E acrescenta que “magistrados e outros agentes do sistema judicial reconhecem que há duas justiças, uma para negros, outra para brancos”.
“Um preto é sempre suspeito”, terá dito um polícia a um jovem negro, conta a reportagem do “Público”. Entre os habitantes da Amadora, nos arredores de Lisboa, um cabo-verdiano tem 19 vezes mais probabilidade de ser preso do que um português. Diz o editorial do jornal que, “quando a polícia envia os agentes com pior classificação para as esquadras dos bairros sociais, está a juntar lume à gasolina”.
É óbvio que deveria ser ao contrário. Nas zonas suburbanas problemáticas seria sensato colocar agentes especialmente treinados, e porventura melhor pagos, para lidar com as situações difíceis que se conhecem.