Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

Tentar Perceber

Trump e a economia

19 ago, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os republicanos e agora também os empresários estão a afastar-se de Trump, travando o crescimento económico.

Trump prometeu acelerar o crescimento económico americano. Por enquanto, passados sete meses desde que é Presidente, ainda não conseguiu atingir esse objectivo.

A economia dos EUA cresceu a cerca de 2% no primeiro semestre deste ano, menos do que crescia quando Obama estava na Casa Branca. Por isso, Trump refere frequentemente a alta na bolsa, que é um facto. Mas na campanha eleitoral ele dizia mal de Wall Street e dos jogos financeiros…

Porque tem subido a bolsa americana? Porque Trump é um homem de negócios, próximo da vida empresarial. E os investidores ainda depositam esperanças no programa de obras públicas (infra-estruturas) que Trump anunciou há meses, mas que tarda a concretizar-se.

Segundo o economista Nouriel Roubini, “perante a ineficácia política da administração Trump, é seguro assumir que, se houver algum estímulo, ele será menor do que o esperado”.

Wall Street recebera com agrado a prometida reforma fiscal, com menos impostos para as empresas e para os ricos, bem como a redução da regulamentação do sector financeiro. Só que tudo isso terá de ser aprovado no Congresso, o que não será fácil.

A política bloqueada

Mas não dispõe o partido republicano de maioria nas duas Câmaras, Senado e Câmara dos Representantes? De facto, detém essas maiorias. Simplesmente, há cada vez mais congressistas republicanos que se distanciam do presidente Trump. Por isso, e contra tudo o que fora prometido, a reforma da saúde de Obama (“Obamacare”) ainda não foi eliminada – nem se sabe se um dia virá a sê-lo.

O que se passou esta semana quanto à manifestação racista de Charlottesville acentuou ainda mais o fosso entre Trump e os republicanos, bem como entre ele e os empresários.

No plano político-partidário, o facto de Trump ter colocado no mesmo plano os racistas adeptos da “supremacia branca”, muitos deles neo-nazis, e os seus críticos (alegadamente violentos na contra manifestação) suscitou significativas tomadas públicas de posição.

Dois ex-presidentes republicanos, Bush pai e Bush filho, afirmaram, em conjunto, que os EUA têm que rejeitar o ódio racial, o anti-semitismo e a intolerância. Jeb Bush (outro filho), que entrara na corrida à Casa Branca nas primárias de 2016, escreveu que “este é um tempo de clareza moral e não de ambivalência”.

O ex-candidato republicano à presidência em 2012, Mitt Romney, condenou a afirmação de Trump de que haveria culpas semelhantes dos dois lados: “não, não é o mesmo. Um lado é racista, intolerante, nazi; o outro opõe-se ao racismo e à intolerância”.

O presidente republicano da Câmara dos Representantes, o assumido conservador Paul Ryan, disse que “não pode haver ambiguidade moral” e condenou o que designou de “fanatismo vil”.

Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, defendeu que “as mensagens e ódio e fanatismo” de supremacistas brancos, do Ku Klux Klan e de grupos neonazis, não são bem-vindas em qualquer lugar dos Estados Unidos. “Não podemos ser tolerantes com uma ideologia de ódio racial” – acentuou ele – “Não há neonazis bons e quem apoia as suas posições não é um defensor das liberdades e dos ideais americanos.”

O republicano John McCain foi claro: “Não pode haver equivalência moral entre racistas e americanos que se erguem para combater o ódio e a intolerância”. Um conhecido comentador de direita, Charles Krauthammer, classificou na Fox News a posição de Trump (ou posições…) como “uma desgraça moral”.

O desapontamento empresarial

Curiosamente, importantes gestores empresariais tornaram pública a sua discordância de Trump. Nada menos de oito demitiram-se do conselho empresarial consultivo de Trump (que de seguida o presidente dissolveu). James Murdoch, filho de Rupert Murdoch (grande magnate da comunicação social, dono da Fox News, por exemplo) alertou para que “é necessário enfrentar os nazis”. Significativamente, um ex-líder do Ku Klux Klan, David Duke, louvou a “coragem e a honestidade do Presidente”…

Entretanto, prosseguem os conflitos internos na Casa Branca. Steve Bannon, um nacionalista da direita radical e considerado o grande inspirador ideológico de Trump, deu uma entrevista na qual chamou “palhaços” aos neonazis, criticou a estratégia americana quanto à Coreia do Norte e advogou uma guerra comercial com a China. Trump demitiu-o.

Ora, uma guerra destas seria péssima para a actividade empresarial nos EUA. Como os limites à imigração terão custos para muitas empresas. Mas é sobretudo a ausência de uma linha de actuação coerente e a paralisia política em Washington (apesar da dupla maioria republicana no Congresso) que levam a um crescente cepticismo dos empresários em relação a Trump.

O perigo de o Presidente, com as suas intervenções fanfarronas e contraditórias, desencadear uma guerra nuclear contra a Coreia do Norte também não estimula o investimento empresarial nos EUA.

O semanário “The Economist”, influente nos meios empresariais e financeiros dos EUA, apesar de ser britânico, escrevia na sexta-feira em editorial que os empresários foram inicialmente atraídos pelo facto de Trump ser um homem do seu meio e por se opor ao “politicamente correcto”.

Mas, diz o “Economist”, estas esperanças estão hoje desfeitas. E conclui: “Trump é politicamente inepto, moralmente estéril e temperamentalmente inadequado para o cargo”.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Albano
    24 ago, 2017 Lisboa 09:40
    Países onde a democracia é plena existem partidos da esquerda radical á direita tb radical.Que no politicamente correto defendam a existência dos radicais de esquerda e ilegalizem os de direita fazendo um constante branqueamento das suas açoes anti-democr´ticas é irracional e incompreensível pois são regimes ditatoriais .Em Portugal temos só partidos de esquerda ,todos á esquerda do que sao por exemplo os Burros e Elefantes do EUA logo é uma democracia parcial.
  • Frederico
    22 ago, 2017 Lisboa 10:24
    Increditavel como temos comentarios a defender o indefensavel... Aos dois jovens que comentaram da mesma forma a noticia, proponho que vao ter com os vossos pais e perguntem se o que escrevreram esta certo... Antes 1000 radicias de esquerda que 1 nazi de direita. Se nao percebem a diferenca, estao completamente a parte do planeta em que vivem.
  • andré
    20 ago, 2017 Porto 19:42
    extrema direita e etrema esquerda sao iguais: "embora os neo-nazis e os supremacistas brancos tenham um pensamento absurdo, os seus contra-manifestantes não são melhores. Entre eles há muita gente que, no passado, apoiou os grupos criminosos, comunistas, de Khmer vermelhos, por exemplo, e, também, muita gente, que, hoje em dia, tudo faz para tenta branquear os crimes do radicalismo islâmico" de outro comentário.
  • Francisco
    19 ago, 2017 13:00
    "...o facto de Trump ter colocado no mesmo plano os racistas adeptos da “supremacia branca”, muitos deles neo-nazis, e os seus críticos (alegadamente violentos na contra manifestação) , suscitou significativas tomadas públicas de posição" diz Sarsfield Cabral, nesta crónica. Ora Trump tem toda a razão com esta atitude. Muito embora os neo-nazis e os supremacistas brancos tenham um pensamento absurdo, os seus contra-manifestantes não são melhores. Entre eles há muita gente que, no passado, apoiou os grupos criminosos, comunistas, de Khmer vermelhos, por exemplo, e, também, muita gente, que, hoje em dia, tudo faz para tenta branquear os crimes do radicalismo islâmico.