Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

O Brexit e a fronteira da Irlanda

17 ago, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda a fronteira é praticamente inexistente. Mas depois do Brexit será uma fonteira exterior da UE.

A Irlanda é uma ilha dividida. A maior parte é território da República da Irlanda, um país independente desde 1949. Mas, no nordeste da ilha, permanece uma parte do Reino Unido: a Irlanda do Norte ou Ulster.

Foi o compromisso possível, que até tinha provocado uma sangrenta guerra civil entre os republicanos independentistas. Entretanto, a partir da década de 60 do século XX multiplicaram-se no Ulster os conflitos violentos entre protestantes (pró-britânicos) e católicos (adeptos da integração na República da Irlanda).

Um complexo processo de paz, em que se empenharam os governos de Londres e de Dublin, além dos representantes das duas comunidades em confronto no Ulster, conduziu ao “acordo de Sexta-feira Santa de 1998”. O nível de violência reduziu-se drasticamente naquela parcela do Reino Unido, mas o risco de um regresso aos conflitos não desapareceu.

A saída do Reino Unido da União Europeia acentua esse perigo. Dá argumentos aos anti-britânicos do Ulster para se separarem do Reino Unido, integrando a República da Irlanda. Mas os pró-britânicos do Ulster opõem-se ferozmente a tal solução.

Ora, um dos problemas mais complexos do Brexit é o futuro da fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Como eram, até aqui, dois territórios integrados na UE, essa fronteira era de livre passagem para pessoas e mercadorias – como é a fronteira entre Portugal e Espanha. Depois do Brexit, passará a ser uma fronteira externa da UE.

Por essa fronteira aberta passaram, em 2015, importações e exportações no valor global de 3,5 mil milhões de dólares. Muitas empresas têm processos de fabrico que implicam atravessar várias vezes essa fronteira. E entre 30 a 50 mil pessoas atravessam diariamente essa fronteira invisível.

A primeira-ministra Theresa May defende manter a livre circulação de pessoas e bens entre a República da Irlanda e o Ulster. Mas não parece possível que os países que se mantém na União aceitem uma fronteira externa tão aberta. Um funcionário comunitário já classificou de “fantasia” a proposta de T. May.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Rui Mendes
    18 ago, 2017 Dublin 08:46
    Caro Francisco Sarsfield Cabral,acho este seu artigo de opiniao totalmente desfazado da realidade Irlandesa. Nao vai haver fronteira fisica depois do Brexit e a independencia da Republica data de 1922 aquando o tratado Anglo-Irlandes para das 32 provincias, 26 serem republicanas como um estado livre e 6 continuarem a ser parte do RU. Antes da EU ja os Irlandeses passavam a fronteira para "baixo" e para "cima" sem papeis, assim como iam de ferry para Gales, Escocia ou Inglaterra. O problema da "Fronteira" e' mais complexo do que parece pois e' uma fonte de rendimento de contrabando(gasolina,tabaco,alcool,armas e droga tudo passa para cima e para baixo pois os impostos no RU sao mais baixos).Nem os Unionistas nem os Catolicos do Norte querem uma fronteira fisica assim como os Catolicos do Sul, mas tambem nao querem uma Irlanda Unida(Apesar de o assim apreguarem),pois este arranjo feito nos tempos do IRA da de comer a muita gente. Conhecendo bem a realidade dos dois "estados", acredito mais que a May tente impingir a Irlanda do Norte a Republica pois so' da despesa e chatices a Londres mas do lado de ca da Irlanda, nao acredito que isso possa acontecer. Os Irlandeses ja nao sao os "primos pobres e abusados" dos Ingleses e hoje em dia,economicamente,estao muito melhores que o RU.O Brexit so vai trazer ainda mais empresas Americanas e Asiaticas para Dublin e a EU vai comer e calar como ja faz com o IRC da Republica e nem fronteira nem Irlanda Unida acontecera nos proximos 30/40.
  • António Costa
    17 ago, 2017 Porto 20:26
    Como democracia das mais antigas da europa tem de mostrar estar à altura da situação em termos políticos, fazer-se valer da arte de adiar problemas, (reformas no nosso caso), incómodos sem no entanto dizerem que os não vão resolver, Todos aplaudirão essas medidas no caso inglês.
  • António Costa
    17 ago, 2017 Cacém 10:54
    Basicamente, "Sol na eira e chuva no nabal", pois é assim a "livre circulação de pessoas". Era mais simples se as pessoas não fossem "ensinadas" e "treinadas" desde "o berço" a odiarem-se. Infelizmente as ideias que promovem o "ódio" continuam a ser ensinado aos mais pequenos. O Medo ao que é diferente, e o "ódio" são assim "cultivados", em nome do "politicamente correto".