17 ago, 2017
A Irlanda é uma ilha dividida. A maior parte é território da República da Irlanda, um país independente desde 1949. Mas, no nordeste da ilha, permanece uma parte do Reino Unido: a Irlanda do Norte ou Ulster.
Foi o compromisso possível, que até tinha provocado uma sangrenta guerra civil entre os republicanos independentistas. Entretanto, a partir da década de 60 do século XX multiplicaram-se no Ulster os conflitos violentos entre protestantes (pró-britânicos) e católicos (adeptos da integração na República da Irlanda).
Um complexo processo de paz, em que se empenharam os governos de Londres e de Dublin, além dos representantes das duas comunidades em confronto no Ulster, conduziu ao “acordo de Sexta-feira Santa de 1998”. O nível de violência reduziu-se drasticamente naquela parcela do Reino Unido, mas o risco de um regresso aos conflitos não desapareceu.
A saída do Reino Unido da União Europeia acentua esse perigo. Dá argumentos aos anti-britânicos do Ulster para se separarem do Reino Unido, integrando a República da Irlanda. Mas os pró-britânicos do Ulster opõem-se ferozmente a tal solução.
Ora, um dos problemas mais complexos do Brexit é o futuro da fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Como eram, até aqui, dois territórios integrados na UE, essa fronteira era de livre passagem para pessoas e mercadorias – como é a fronteira entre Portugal e Espanha. Depois do Brexit, passará a ser uma fronteira externa da UE.
Por essa fronteira aberta passaram, em 2015, importações e exportações no valor global de 3,5 mil milhões de dólares. Muitas empresas têm processos de fabrico que implicam atravessar várias vezes essa fronteira. E entre 30 a 50 mil pessoas atravessam diariamente essa fronteira invisível.
A primeira-ministra Theresa May defende manter a livre circulação de pessoas e bens entre a República da Irlanda e o Ulster. Mas não parece possível que os países que se mantém na União aceitem uma fronteira externa tão aberta. Um funcionário comunitário já classificou de “fantasia” a proposta de T. May.