22 jul, 2017
O homem é um animal racional, diz-se. Mas é menos racional do que geralmente se pensa.
Na área da economia permaneceu demasiado tempo a ideia de que, quando fazem operações – comprar, vender, etc. – as pessoas são dominadas pelo irresistível desejo de maximizar o seu ganho. Ora isso não é verdade em muitos casos. Aquilo a que poderemos chamar o “egoísmo económico” cede frequentemente frente a outros sentimentos, mais ou menos conscientes.
Já há muitas décadas se falava no exemplo das gravatas inglesas, que vendiam tanto mais quanto mais caras fossem. É que uma gravata inglesa barata não era considerada de boa qualidade. A ânsia de mostrar um determinado status social leva hoje pessoas a comprarem uma automóvel topo de gama, quando seria mais sensato ficarem-se por um menos vistoso utilitário. Há mesmo quem poupe na alimentação para poder gastar em símbolos de um elevado estatuto social.
É felizmente possível que muita gente se mova por sentimentos de solidariedade para com quem se encontra em dificuldades – e não só quando acontecem tragédias, como foi o grande incêndio de Pedrogão Grande. E também existe quem ajude outros monetariamente, mas de forma muito discreta, de maneira a que a sociedade não se dê conta disso.
O moralista Adam Smith
Adam Smith, que morreu em 1790, é considerado o pai do liberalismo económico e do livre mercado. Mas isso não o impediu de criticar patrões que estabeleciam entre si coligações ou acordos no sentido de não pagarem salários superiores a certo montante, prevendo determinadas penas para quem o fizesse. E denunciou leis injustas, como a que proibia, sob pena de pesados castigos, a todos os mestres-alfaiates de Londres, ou de cinco milhas em redor, pagarem, e a todos os oficiais de receberem, mais de dois xelins e sete dinheiros e meio por dia.
Adam Smith não escreveu apenas a “Riqueza das Nações”. Ele era também um filósofo, interessado na ética, sendo autor de um “Tratado sobre os Sentimentos Morais”.
Depois, a suposta racionalidade das pessoas não passa muitas vezes de um mito. Um psicólogo que ganhou o prémio Nobel da Economia em 2002, Daniel Kahneman, aponta inúmeros exemplos de conclusões irracionais, devidos a erros e preconceitos de que as pessoas não se dão conta. Até casos logicamente impossíveis, como o facto de as sondagens revelarem que 90% dos americanos se considerem a si próprios acima da média na condução automóvel…
Psicologia comportamental
Como escreveu recentemente no Público um académico português que trabalha na Grã-Bretanha, António Silva, “os modelos tradicionais da economia clássica prevêem que as pessoas se comportem de forma racional. Porém, estudos nas últimas décadas deixam entrever uma imagem mais complexa dos seres humanos”. E dá, entre outros, o exemplo da moda – isto é, o nosso comportamento é aí influenciado pelo comportamento das outras ou de algumas outras pessoas.
Daí a importância das ciências comportamentais têm recentemente assumido no estudo da economia. Através de múltiplas experiências com pessoas, essas ciências pretendem, e muitas vezes conseguem, descobrir como nos comportamos na vida real, com racionalidade ou sem ela. Ganha-se realismo na economia e, portanto, maior eficácia das medidas propostas pelos economistas.