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Luís Cabral
Opinião de Luís Cabral
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​Maryam Mirzakhani

20 jul, 2017 • Opinião de Luís Cabral


O nome não é conhecido. O maior prémio que recebeu, a medalha Fields, também não é conhecido (tanto assim que alguns se vêm obrigados a referir-se-lhe como o "Nobel da Matemática”).

Na sexta-feira passada, a Universidade de Stanford e o mundo em geral perderam uma das melhores matemáticas: aos 40 anos, Maryam Mirzakhani sucumbiu a um cancro que a atacava desde 2014.

O nome não é conhecido. O maior prémio que recebeu, a medalha Fields, também não é conhecido (tanto assim que alguns se vêm obrigados a referir-se-lhe como o "Nobel da Matemática”). Os temas em que Mirzakhani trabalhou não são conhecidos (teoria de Teichmüller, geometria hiperbólica, teoria ergódica, geometria simplética; e concretamente a topologia e geometria da superfície de Riemann).

Porquê, então, escrever sobre Mirzakhani?

— Porque as áreas mais estranhas e esotéricas da Matemática frequentemente acabam por ser muito úteis nas mais variadas aplicações práticas. Quem sabe se os jogos de computador das próximas décadas não utilizarão resultados sobre geometria de Riemann devidos directa ou indiretamente a Mirzakhani?

— Porque Maryam Mirzakhani foi a primeira mulher e a primeira pessoa do Irão a vencer a medalha Fields, dois "primeiros" num só acontecimento.

— Finalmente, porque, apesar de reconhecer as diferenças entre os homens e as mulheres nas qualidades e aptidões para diversos campos do conhecimento, vivemos num mundo ainda cheio de preconceitos a este respeito; e um desses preconceitos é que as mulheres não são boas em Matemática.

O problema dos preconceitos sociais é que, apesar de serem apenas "teorias" (frequentemente "teorias" erradas), têm um efeito prático. E o efeito prático é o de desviar da Matemática uma abundância de talento promissor.

Oxalá haja mais Maryam Mirzakhanis no futuro.

Comentários
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  • nm
    06 out, 2017 lisboa 08:34
    Desnecessário comentário o de M12-95040. Falta-lhe a ciência para perceber o alcance do que lê. Vê numa proposição um alcance que ela não tem nem quis ter. Não percebe a polissemia. Onde o autor escreveu "não ser conhecidos", assume o comentador que o autor escreveu que ninguém na humanidade inteira conhece aqueles temas. Ficaram de fora, vá lá, o comentador e o círculo com formação superior em análise matemática). Recomendava-lhe que entre os zeros e uns da booleana colocasse ao menos os numerozinhos todos do conjunto dos reais. Verá que há mais que zeros e uns a dar sentido a uma proposição.
  • m12-95040
    20 jul, 2017 lx 12:56
    "Os temas em que Mirzakhani trabalhou não são conhecidos (teoria de Teichmüller, geometria hiperbólica, teoria ergódica, geometria simplética; e concretamente a topologia e geometria da superfície de Riemann)." Podera entao vexa dizer o que sao temas conhecidos em matematica? é que qq um desses temas é um tema antigo e conceituado em matematica (geometria daS superfícieS de Riemann- nao é uma, quase todas as superficies que vexa possa pensar sao superficies de Riemann ( esquecendo pequenos detalhes......) "Porque as áreas mais estranhas e esotéricas da Matemática ... etcetc" -nota-se que vexa nao sabe do que fala. geometria de riemann e superficies de riemann nao sao a mesma coisa e qq uma dela tem 100 anos -alguns dos temas até sao bastante simples e terrestres (compreender a sua importância é menos evidente). Vexa faça um triangulo com 3 espelhos (uma sala triangular), agora emita um raio de luz ou de laser. Este raio sera reflectido pela paredes espelhadas da sala. Qual sera a sua trajectoria ao fim de 50 reflexoes? e se se mudar um bocadinho a direcçao de emissao como é que muda a trajectoria? etce.Em vez de uma sala com triangular poder-se-ia ter escolhido uma sala poligonal (um quadrilatero, etc). A razao da importancia destes temas é menos facil de explicar ao comum dos mortais. -a sua intençao é seguramente louvavel, a meu ver vexa deveria ou nao fazer comentarios matematicos elogiando apenas MM ou fazendo-os devia tê-los feito de forma mais informada...
  • João Lopes
    20 jul, 2017 Viseu 12:54
    Excelente artigo!