Tempo
|

A+ / A-

​Teresa Guilherme em entrevista. Os “reality shows”, o Facebook e as sardinhas assassinas

Renato Duarte


Mudou a televisão e aposta agora na Net, onde mostra “A Casamenteira”. A vida dela dá vários livros. Para já, deu um: “Cheguei Onde Me Esperavam”.

Teresa Guilherme em entrevista. Os “reality shows”, o Facebook e as sardinhas assassinas
Teresa Guilherme em entrevista. Os “reality shows”, o Facebook e as sardinhas assassinas

Começou a carreira de produtora aos 23 anos, na rádio, e passou por quase todas as áreas do espectáculo – da música ao teatro, da moda à televisão, como produtora e apresentadora. Está agora a trabalhar na internet, no programa “A Casamenteira” no qual invade casamentos e oferece luas-de-mel. No dia em que apresenta o seu novo livro, “Cheguei onde me Esperavam”, Teresa Guilherme passou pela Manhã da Renascença.

Há quantos anos esteve aqui na Renascença?

Deve ter sido há uns 20, não sei. Eu e o Manuel Luís tínhamos um programa e era muito divertido. Era um belíssimo pretexto para irmos almoçar ao Chiado.

Recorda com saudades esses tempos da rádio?

Gostava muito de fazer rádio. Curiosamente, a rádio é muito mais próxima das pessoas do que a televisão. A televisão é um meio muito frio. A rádio não: é quase como se estivéssemos ao telefone com muitas pessoas ao mesmo tempo.

Ou então como se estivéssemos a falar ao ouvido das pessoas, que é também uma coisa muito curiosa.

Ouço muita rádio no carro, mas também ouço muitas vezes em casa. A rádio mudou nestes últimos tempos: está muito mais animada e próxima, falando muito para as pessoas. Houve uma altura em que a rádio e a televisão estavam muito distanciadas: a rádio muito séria e a televisão a mudar. Agora não, a rádio está também a ir ao encontro das pessoas.

Tornou-se célebre por programas como “1 2 3” (RTP), “Não se Esqueça da Escova de Dentes (SIC) e “Big Brother” (TVI). Qual é o seu registo favorito? É redutor associá-la aos “reality shows”, um formato no qual apostou nos últimos anos.

Não tenho [um registo favorito]. Sim, é muito redutor em relação a mim como produtora. Produzi durante anos e anos e, no fundo, sinto-me muito mais produtora do que apresentadora, embora recentemente não tenha produzido. A gente vai produzindo coisas, como o que estamos agora a fazer para o nosso Facebook, "A Casamenteira".

O primeiro episódio teve 30 minutos e 500 mil pessoas a ver, que é uma coisa extraordinária. O segundo também teve. Fiquei encantada com a proximidade que o Facebook tem com as pessoas. O senhor [Mark] Zuckerberg, inventor do Facebook, disse que 2017 ia ser o ano em que a televisão ia passar a ser no Facebook.

Esta capacidade de reinvenção constante é um esforço para si ou é qualquer coisa de natural?

A única maneira de nos mantermos interessados pela vida é se nos interessarmos pelas novidades. Quando finalmente apareceu o Facebook ou mesmo a internet e os telefones mais complicados, a minha geração disse que não era capaz de mexer neles. Eu não, fiquei logo entusiasmada. Não sei fazer, quero aprender. Tenho esta oportunidade de fazer um programa de televisão no Facebook, que podia passar claramente na televisão. É invadir casamentos e dar a lua-de-mel às pessoas. Invadir um casamento é uma coisa muito divertida e uma energia muito levezinha comparada com a de um “reality show”. É um dia todo feliz, uma coisa toda para cima.

Quando e como pensa regressar à televisão ou à rádio?

Quando aparecer um programa que seja interessante de se fazer ou quando eu tiver uma ideia para propor. Mas eu gostava bastante de experimentar só fazer e bem num canal de cabo.

Acha que teria mais liberdade?

É mais direccionado para um público específico. Adoraria ter um canal de cabo para produzir e apresentar as muitas pessoas novas que têm passado pela minha mão. Dou aulas de apresentação e já passaram umas centenas de miúdos pela minha mão. Alguns completamente prontos para avançarem ou por serem bonitos ou engraçados ou por falarem bem português.

Lendo “Cheguei Onde Me Esperavam”, lembramo-nos ou aprendemos que produziu séries como “Floribela”, que passou pelo teatro, que adora viajar. Este livro é um resumo da sua vida?

Não é um resumo da minha vida nem é uma biografia propriamente. São memórias de momentos que por acaso mudaram completamente a minha vida. Foi difícil escolher as histórias porque há muitas.

Demorou muito tempo a seleccionar?

Na verdade, demorei. As que deixei [de lado] davam para fazer outro livro. Tentei escolher aquelas histórias que mudaram mesmo a minha vida profissional, ao longo do tempo. É o caso da "Floribela", que foi uma época em que estive a fazer novelas, mas podia também ter escolhido muitas histórias da [telenovela] "Vingança", histórias muito ligadas à produção. Depois, não resisti à tentação de contar algumas histórias da minha infância, também extraordinárias.

Como o “ataque” por um cardume em Bali, na Indonésia.

Eu estava com uma amiga, a Ana Torres, e ela dizia "Mas tu não queres entrar no mar?” – adoro água. "Não, não quero. Há aqui qualquer coisa nesta água que não...". Andámos nisto três dias até que lá fui. Era daquelas praias onde a gente tinha que andar muito, muito, muito para a água chegar até ao peito. De repente, comecei a sentir uma coisa nas pernas e disse: "Ana, não estás a sentir nada?". Ela estava mesmo ao meu lado e havia outras pessoas a tomarem banho. De repente, levantou-se de um lado e do outro uma fonte de milhares de peixes – chamo-lhes sardinhas, não sei se eram sardinhas, podiam ser carapaus pequeninos. Batiam na cara e no corpo.

Como é que saiu dali?

Para já, lembro-me de vir a correr até à beirinha da praia com as sardinhas sempre atrás de mim e com a mão na frente da boca para elas não entrarem. Foi pena não ter ficado gravado. Depois, vi umas pessoas a aproximarem-se para me salvar, vinham dos restaurantes. Lá cheguei à beira da praia e lá consegui sair. As sardinhas atiraram-se a mim até morrerem na praia. As pessoas que vieram ter comigo...

... vieram apanhar as sardinhas para grelhar nos restaurantes. São espertos, os indonésios.

Quando chegámos a Lisboa, ninguém queria acreditar em mim nem na Ana. Diziam: "Vocês inventaram essa história!". Mas depois viram outras sardinhas assassinas no Discovery Channel e ligaram-me anos depois a dizer: "Vocês afinal estavam a dizer a verdade!".

O livro está cheio de histórias destas?

Está. Estas e outras profissionais: como é que fui para a RTP; como é que passei de produtora para apresentadora; como é que fui evoluindo. Se pensarmos, estive duas vezes em cada canal. Fui saltando da RTP para a SIC, depois da SIC fui para a RTP outra vez, depois para a TVI.

Isso revela também um desprendimento e uma capacidade de arriscar que a caracterizam ainda hoje?

É verdade e que cria muitas histórias. Conheço toda a gente e isso dá para fazer um segundo livro.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.