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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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​Helmut Kohl

22 jun, 2017 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Não é difícil perceber qual a razão de tantos elogios a Kohl. Vêm em grande parte daqueles que querem a todo o custo criar a imagem de Merkel como um novo exemplo do “bom” europeísmo alemão.

Foi extraordinária a unanimidade de elogios a Helmut Kohl na hora da sua morte. O grande europeísta, o pai da nova Europa foi incensado de todas as formas e feitios. Tal unanimidade e tal entusiasmo fazem suspeitar de que há aqui aproveitamento para outros fins.

Por mim, não creio que o nosso país tenha muito para ficar agradecido ao antigo chanceler alemão. Na realidade, Helmut Kohl foi um obreiro da Europa – mas de uma Europa alemã. Foi Kohl que soube aproveitar muito bem a inépcia de François Mitterrand para criar uma moeda única assente em instituições que são réplica das instituições alemãs e que estabeleceram o contexto necessário para que Alemanha ganhasse um peso desmedido nas instituições comunitárias, como de facto aconteceu e de que maneira.

E não esqueçamos o exemplo do reconhecimento, em antecipação, da Croácia, com as consequências que daí advieram, que foi bem um indício de como a Alemanha de Kohl só usaria o seu europeísmo como veículo para o avanço dos interesses germânicos.

Kohl foi sem dúvida um grande chanceler. Mas foi um grande chanceler para a Alemanha e não para a Europa que sofre hoje do legado caótico que a sua acção, mais do que qualquer outra, ajudou a criar.

Não é difícil perceber qual a razão de tantos elogios a Kohl. Vêm em grande parte daqueles que querem a todo o custo criar a imagem de Merkel como um novo exemplo do “bom” europeísmo alemão, tentando fazer esquecer a sua acção desde o início da crise grega e apostando no pseudo-federalismo germânico que está a levar a Europa para o precipício.

Comentários
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  • João carlos
    23 jun, 2017 lx 11:31
    "Intelectuais" antiliberais que nem se apercebem que automóveis, computadores, smartphones, que não dispensam, são frutos do liberalismo que tanto "odeiam".
  • Palma
    22 jun, 2017 Colónia 20:55
    Helmut Kohl foi o iniciante do neoliberalismo na europa e primeiro na Alemanha. Ele destruiu aos poucos a Sozialer Markt Wirtschaft= Economia Social, e tirou poder aos sindicatos. A unica finalidade de Kohl foi sempre abrir e expandir os novos mercados alemães, sob protexto de nunca mais haverem guerras na europa. A Merkel oriunda da alemanha comunista sabe como funciona uma ditadura e sem a maior parte se aperceber já há muito que está a aplicá-la na Alemanha e na Europa. A Merkel pôs a Europa de rastos mas a imprensa alemã completamente neoliberal capitalista apoia-a, isto é, nenhum jornal a critica. Que bem que calha á Merkel HK ter morrido no ano das eleições, veio mesmo a calhar, ele o unificador das Alemanhas? E os outros chancelers antes dele não trabalháram tambem nesse sentido? não é injusto atribuir os méritos só a ele? Mas na verdade quem reunificou as alemanhas foi o Senhor Gorbatschow, mas nestes não convem falar em vésperas de eleições.
  • MASQUEGRACINHA
    22 jun, 2017 TERRADOMEIO 19:47
    Li agora (no "Expresso") que o Directório já decidiu para onde vai a Agência Europeia do Medicamento : para Lille, França. Ah, e também para onde vai a Autoridade Bancária Europeia : para Frankfurt, Alemanha. Claro que importante, importante, era esta última. E deu-se à França o rebuçado para não levantar ondas. E a França, toda contente, por também ter decidido. Que o Parlamento Europeu ainda esteja a debater para onde as coisas vão (Lisboa? Porto? Sim, sim, está tudo sobre a mesa, ora essa!) é pormenor de somenos, a farsa democrática que é preciso ir mantendo em serviços mínimos e tachos máximos. Todos os palhaços têm a mesma dignidade, sejam o Rico ou o Pobre. Não sei o que mais falta provar.
  • MASQUEGRACINHA
    22 jun, 2017 TERRADOMEIO 19:01
    E, para ajudar à festa, até já apareceu o Inimigo Comum que a todos nos unirá, ficando, evidentemente, toda a parte estratégica e tática a cargo do Bom Europeísmo Alemão. Foi, de facto, deveras tocante ver a triste desilusão, mas logo seguida de tom galvanizante, com que Merkel se propôs enfrentar(mos) Trump... Habemos pastor, para mais alemão, o rebanho só pode estar bem entregue. A História, que tantas vezes parece escrever direito por linhas tortas, talvez um dia nos leve a abençoar o brexit... De resto, Deutshland uber alles - e quem não gostar, olhe, que trabalhe muito, como os alemães, porque o trabalho liberta, e a fénix alemã sempre se levanta das cinzas a que reduziu os outros. De bigodinho ou tailleur, a Alemanha pode mudar de estilo, mas nunca mudará de objectivo uber alles. Recebem refugiados? Bom para os refugiados, e nada mau para uma Alemanha a braços com uma grave crise demográfica, vai já prevenindo a sua futura fraqueza... E assim é com tudo, e gravemente com o tal pseudo-federalismo de que o artigo fala : quando o precipício se abre, agarramos nem que seja a mão do Diabo. E é para aí exactamente que o rebanho está a ser levado.
  • couto machado
    22 jun, 2017 porto 18:12
    Uma apreciação isenta, como é característica do Doutor João Ferreira do Amaral. Estamos sempre prontos a comprar mercedes, audis, bmw e outros carros de luxo, que todos os dias vemos chegar a esta santa terrinha. o homem da cadeira de rodas, que tanto critica os os gastos sumptuarios dos portugueses, podia dizer uma palavra: não gastem tanto dinheiro em automóveis. Ó dizes.
  • JC
    22 jun, 2017 charneca da caparica 16:30
    ​Helmut Kohl foi sem dúvida um grande chanceler para a Alemanha e outra coisa não era de esperar de um alemão, Atitude bem diferente dos nossos governantes que sem qualquer patriotismo venderam o país a retalhos e a qualquer preço !!!!
  • Andreas Jacobi
    22 jun, 2017 Setúbal 14:39
    Helmut Kohl foi um grande Bundeskanzler porque conseguiu a unificação da Alemanha num contexto muito difícil europeu e mundial. Teve de aceitar o Euro em troca do Marco Alemão, até então uma moeda fortíssima e garante da estabilidade económica alemã. É compreensível que Helmut Kohl exigiu e conseguiu o sistema do Euro nas mesmas bases (BCE independente, combate à inflação). O problema é que muitos países aderentes ao Euro não estavam preparados para uma economia de poupança e investimento (muitos nem hoje estão), mas isto não é culpa de Helmut Kohl. Angela Merkel, promovida por Helmut Kohl, continua este caminho abrindo o CDU para o centro-esquerdo, até agora com muito sucesso. Sempre se diz que a Alemanha aproveitou-se do sistema do Euro, mas as condições não são iguais para todos?
  • Silva
    22 jun, 2017 Lx 13:29
    Antes o europeismo alemão do que outro qualquer europeismo mais sinistro. Se não temos soberania é porque a nossa economia não é competitiva e não temos dinheiro e dependemos de outros para pagarmos as contas.
  • António Costa
    22 jun, 2017 Cacém 09:51
    A "Europa" de Kohl está muito diferente da de Merkhel. Na altura em que os "terríveis exércitos russos" ocupavam parte da Alemanha e o leste da Europa, o "diálogo", a "detente" era a politica, que era enaltecida e promovida. E Hoje? Os "exércitos russos" retiraram-se dos países da Europa de leste. Países que faziam parte da antiga URSS abandonaram a aliança que tinham com esta. A NATO "estendeu-se" até às fronteiras russas. Por fim a Ucrânia colocou fim à aliança que de 350 anos com a Rússia. A aliança "Rússia-Ucrânia" tinha sido o núcleo duro do Império Russo. E o "Diálogo" e a "Detente"? Foram pelo "cano abaixo"! E os russos? Novamente "empurrados" até quase "Estalinegrado" (hoje Volgogrado), são apresentados como a grande ameaça ao "Ocidente". É incrível!