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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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​A culpa é do populismo

09 jun, 2017 • Opinião de João Ferreira do Amaral


A intenção é clara e tem-no sido desde a adesão às comunidades: manter os portugueses distantes dos assuntos europeus e confrontá-los depois com factos consumados.

Por notícias de meios de comunicação social estrangeiros ou por documentos e declarações das autoridades europeias e de governos de estados membros, vamo-nos apercebendo que já vai adiantado o processo de reformulação da União Europeia. Como tem sido sempre o caso, os portugueses são mantidos na mais completa ignorância. Mantidos intencionalmente, diga-se.

Qualquer debate sobre o futuro da Europa que vá para além de balofas proclamações federalistas ou de expressão de acrisolados discursos europeístas é rapidamente anulado ou, no mínimo, desvalorizado.

A intenção é clara e tem-no sido desde a adesão às comunidades: manter os portugueses distantes dos assuntos europeus e confrontá-los depois com factos consumados. As elites europeístas portuguesas nas negociações da União sempre acharam que o perigo poderia vir da reivindicação dos portugueses e não da subordinação aos interesses dos outros estados, que nunca lhes fez engulhos – desde que em compensação o país ganhasse mais umas migalhas de fundos estruturais.

Se não fosse assim não se compreenderia a permanente menorização das questões comunitárias e as múltiplas fantochadas que foram encenadas para evitar um referendo sobre temas europeus.

Assistimos, desta forma, a situações verdadeiramente grotescas de sem-vergonha como as de personagens que pugnaram pela aceitação de tratados e de acordos virem depois, sem pedirem desculpa ao país, criticar esses acordos e tratados quando os seus efeitos lesivos se fazem sentir. Foi o caso da moeda única, do Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental, da União Bancária, etc.

Pelo vistos é esse o caminho que se quer continuar a trilhar.

Até um dia… E depois a culpa será do populismo.

Comentários
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  • MASQUEGRACINHA
    12 jun, 2017 TERRADOMEIO 19:04
    Na mouche. E suponho que só a boa educação, ou a intenção de não repisar o óbvio, o leva a dizer que a inépcia crassa que tem norteado as ditas "elites europeístas" portuguesas SÓ é motivada por eventuais ganhos do País, mesmo que em migalhas... Ná, não me parece que o elitismo patriótico se contentasse com as migalhas ao País, e cotão nos bolsos da esforçada elite. Mas enfim, adiante. Texto excelente. Não só se aprende, como se apreende. Por favor, não desista.
  • Jorge
    09 jun, 2017 Seixal 16:56
    Desde que venham mais uns milhões para distribuir pelos amigalhaços do costume, até assinam em branco, e pelos vistos andam por aqui alguns.
  • Silva
    09 jun, 2017 Lisboa 14:02
    O cidadão comum e interessado só não está informado se não quiser, mas quem pode participar nas negociações são os técnicos nomeados pelo governo legítimo, não podem ser os cidadãos que não estão apetrechados para a complexidade dessas negociações. Se 85% dos portugueses votam em partidos europeistas, para quê um referendo. Subordinação aos interesses de outros estados acontece a todos, basta haver interesses comuns, temos sempre de ceder em algumas coisas.
  • Américo Sá
    09 jun, 2017 lx 10:44
    Não há ninguém que arranje um tacho para este sr.? Já cansa!
  • Para refletir...
    09 jun, 2017 Almada 10:36
    Quando alguns só vêm uma parte da realidade também é um problema. Os portugueses são mantidos distantes de vários assuntos e depois confrontados com factos consumados. Além disso com os media que temos os portugueses são mantidos na ignorância em relação a vários assuntos importantes, mas sabem "tudo o que é lixo". São estratégias de manipulação já conhecidas há muito tempo.