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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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​Explicação necessária

26 mai, 2017 • Opinião de João Ferreira do Amaral


O que é que um ministro das Finanças da Zona Euro? Alguém que põe e dispõe do nosso dinheiro e que retira a capacidade de decisão orçamental à Assembleia da República?

Na sua campanha, o presidente francês Macron propôs como uma das grandes reformas do espaço da moeda única a criação de uma capacidade orçamental própria da zona euro e a nomeação de um ministro das Finanças para a zona.

Como não podia deixar de ser todo o federalismo de serviço, que sonha com a criação de um superestado europeu, aplaudiu entusiasticamente. Sem cuidar, como aliás é típico, da realidade. A realidade é que nem a Alemanha parece muito interessada no assunto nem os eleitorados estão para virados.

O que é que significa uma capacidade orçamental própria? Significa a instituição de impostos europeus. E os federalistas mais assanhados até tomam como referência o orçamento federal dos EUA para exemplificar o nível de receita e despesa “federal” europeia que virá a ser necessário. Mas será que já estudaram minimamente a questão? Vejamos.

Suponhamos que se apontava para um orçamento comunitário equilibrado representando 5% do PIB em vez dos cerca de 1% actuais. Mesmo assim, seria muito menos que o orçamento federal norte-americano.

Mas mesmo este aumento para “só” 5% do PIB iria, por exemplo, representar para o contribuinte português ter que suportar um aumento de 60% no IRS a pagar. Ou então transferir boa parte das despesas, pagas pelo nosso dinheiro, para os serviços da Comissão Europeia, para serem gastas de acordo com critérios que beneficiariam prioritariamente os grandes estados. Alguém aceita isto?

E o que é que um ministro das Finanças da Zona Euro? Alguém que põe e dispõe do nosso dinheiro e que retira a capacidade de decisão orçamental à Assembleia da República?

Pergunto outra vez: alguém aceita isto?

Quantos mais exits se sucederão?

Seia bom que as autoridades portugueses que apoiaram tão entusiasticamente as propostas de Macron nos expliquem o que o que as levou a manifestar tal apoio.

Comentários
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  • couto machado
    30 mai, 2017 porto 19:42
    MUITO BEM EXPLICADO E SÓ QUEM FOR MUITO BURRO, NÃO ENTENDE PATAVINA DA CRISE DE VALORES (NÃO SÓ MATERIAIS), PELA QUAL ESTAMOS A PASSAR E CADA VEZ MAIS ATASCADOS. PARABÉNS AO DOUTOR JOÃO FERREIRA DO AMARAL.
  • MASQUEGRACINHA
    26 mai, 2017 TERRADOMEIO 19:29
    Subscrevo inteiramente e agradeço as explicações e o alerta. Para serem gastas de acordo com critérios que beneficiariam prioritariamente os grandes estados, mas, pior e como já se viu à saciedade, sem qualquer hipótese de defesa... Estaremos já esquecidos da nossa pesca abatida e do nosso olival arrancado, e de, e de, em nome de um pretenso "equilíbrio" - também amplamente aplaudido pelos nossos estúpidos governantes, dedicados à monocultura do asfalto e do assobio para o lado perante a voracidade dos gananciosos profissionais, e de um povo inculto, despreparado, histérico com os "programas", a fazer circular os mesmos porcos de pocilga em pocilga para cevar o "subsídio comunitário". Um "equilíbrio" que beneficiou sobretudo o RU e a França, mas que não os impediu de serem sempre os maiores chorões. Nada disto foi por acaso, evidentemente, mas sim política de semear hoje para colher amanhã: e cá estamos como estamos, onde nos quiseram. E nós aplaudimos! Para lá de outras considerações, as instituições europeias já perderam a vergonha do seu próprio cinismo (o inefável Junker e o "a França é a França"; e os oportunismos fiscais do Luxemburgo, e de vários outros; e atropelarem as regras do Eurogrupo, reunindo-se sem um dos ministros, tornado "pária", e etc.). Mas já rosnam com as facilidades fiscais de Portugal a reformados de outros países... É incrível. Fomos ineptos. Mas seria inaceitável se nos enfiássemos ainda mais na boca de um lobo que já nem cuida de disfarçar que o é.
  • André Souza
    26 mai, 2017 Alverca 17:33
    Não concordo com o sr JFA, mas tem direito à sua opinião. Com o escudo estaríamos bem piores. Eu concordo com Europa federalista.
  • António Costa
    26 mai, 2017 Cacém 09:54
    O problema é que para "explicar" tem de se ter dúvidas. E evidentemente, "muitos" dirigentes tem dúvidas: - quais os paraísos fiscais onde se pode colocar o dinheiro (sem ser "apanhado")?
  • Silva
    26 mai, 2017 Lx 08:29
    O isolacionismo, o regresso ao passado, a pobreza longe da UE é o que este sr. defende. Em nome de uma pseudo soberania que nunca poderemos ter porque não temos dinheiro.