26 mai, 2017
Trump disse que a NATO estava “obsoleta”. Dias depois desmentiu-se a si próprio: afinal a NATO não era obsoleta. Estes zig-zags são frequentes no personagem. A vinda do Presidente americano à reunião da NATO, ontem, tranquilizou um pouco os seus parceiros na Aliança Atlântica: se não lhe atribuísse importância, Trump não teria vindo.
Relembre-se que o isolacionismo tem profundas tradições na América. O que é natural, pois o país nasceu de imigrantes que fugiam de guerras na Europa, sobretudo guerras religiosas.
Os EUA participaram na última fase da I Guerra Mundial, mas o presidente Woodrow Wilson não conseguiu convencer o Congresso a aderir à Sociedade das Nações. Pelo contrário, as coisas mudaram no fim da II Guerra Mundial. Nessa altura iniciava-se a guerra fria e Washington liderou a criação de uma série de organizações multilaterais, desde a ONU e o FMI até à NATO.
Com o colapso do comunismo, a guerra fria acabou. Os EUA emergiram, então, como a única superpotência. O sucesso subiu à cabeça de alguns políticos americanos, sobretudo dos chamados neoconservadores, que tiveram grande influência na presidência de George W. Bush. Defendiam eles que os EUA não se deviam embaraçar com organizações multilaterais, incluindo a NATO, nem com o direito internacional. Como potência dominante, fariam o que bem entendessem, com alianças pontuais envolvendo países que as desejassem. Assim foi desencadeada a desastrosa invasão do Iraque.
Este fracasso, assim como os resultados pouco brilhantes da intervenção americana no Afeganistão, por um lado desacreditaram os neoconservadores, por outro tornaram a opinião pública dos EUA mais avessa a aventuras militares no estrangeiro. Ora Trump mandou bombardear uma base na Síria e ameaça atacar a Coreia do Norte. E conseguiu que a NATO apoiasse a coligação contra o “Estado Islâmico”, embora sem soldados europeus a participarem nesse combate.
A imprevisibilidade de Trump e o susto de que ele poderia deixar de proteger militarmente os aliados da NATO deve servir para que os europeus levem a sério a sua defesa. Para já, e correspondendo a sucessivos apelos de presidentes americanos, importa que aproximem os seus gastos militares da meta a que se comprometeram em 2014: 2% do PIB em 2024. A protecção americana não é necessariamente eterna.