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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Trump e a NATO

26 mai, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os europeus têm de perceber que a protecção dos EUA pode não durar sempre.

Trump disse que a NATO estava “obsoleta”. Dias depois desmentiu-se a si próprio: afinal a NATO não era obsoleta. Estes zig-zags são frequentes no personagem. A vinda do Presidente americano à reunião da NATO, ontem, tranquilizou um pouco os seus parceiros na Aliança Atlântica: se não lhe atribuísse importância, Trump não teria vindo.

Relembre-se que o isolacionismo tem profundas tradições na América. O que é natural, pois o país nasceu de imigrantes que fugiam de guerras na Europa, sobretudo guerras religiosas.

Os EUA participaram na última fase da I Guerra Mundial, mas o presidente Woodrow Wilson não conseguiu convencer o Congresso a aderir à Sociedade das Nações. Pelo contrário, as coisas mudaram no fim da II Guerra Mundial. Nessa altura iniciava-se a guerra fria e Washington liderou a criação de uma série de organizações multilaterais, desde a ONU e o FMI até à NATO.

Com o colapso do comunismo, a guerra fria acabou. Os EUA emergiram, então, como a única superpotência. O sucesso subiu à cabeça de alguns políticos americanos, sobretudo dos chamados neoconservadores, que tiveram grande influência na presidência de George W. Bush. Defendiam eles que os EUA não se deviam embaraçar com organizações multilaterais, incluindo a NATO, nem com o direito internacional. Como potência dominante, fariam o que bem entendessem, com alianças pontuais envolvendo países que as desejassem. Assim foi desencadeada a desastrosa invasão do Iraque.

Este fracasso, assim como os resultados pouco brilhantes da intervenção americana no Afeganistão, por um lado desacreditaram os neoconservadores, por outro tornaram a opinião pública dos EUA mais avessa a aventuras militares no estrangeiro. Ora Trump mandou bombardear uma base na Síria e ameaça atacar a Coreia do Norte. E conseguiu que a NATO apoiasse a coligação contra o “Estado Islâmico”, embora sem soldados europeus a participarem nesse combate.

A imprevisibilidade de Trump e o susto de que ele poderia deixar de proteger militarmente os aliados da NATO deve servir para que os europeus levem a sério a sua defesa. Para já, e correspondendo a sucessivos apelos de presidentes americanos, importa que aproximem os seus gastos militares da meta a que se comprometeram em 2014: 2% do PIB em 2024. A protecção americana não é necessariamente eterna.

Comentários
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  • António Costa
    27 mai, 2017 Cacém 10:39
    Perceber o que é a "censura": As pessoas terem ideias "próprias" e diferentes não é censura. Expressar as nossas ideias em vez das outras pessoas não é "censura". Uma coisa é apresentar-mos ideias "diferentes", outra coisa é limitarmo-nos a insultar o "outro", perseguir e proibir o que é diferente ou que pensa "diferente". As pessoas, antes do 25 de Abril não pediam que os órgãos de informação, do Estado Novo fizessem "propaganda" às Ideias da oposição! Apenas pediam, para poder ter, órgãos próprios, jornais, onde pudessem apresentar as suas ideias sem cortes e sem censura! Ter um jornal que defendesse ideias diferentes dava direito a espancamento dos jornalistas e ao "fecho" do mesmo! No mínimo "partes dos textos" eram "censurados"! Censura não era o governo defender as suas "ideias" nos "seus" jornais! Era PROIBIR os outros de terem jornais próprios, para defender ideias de "oposição"! Ser Tolerante não é ser Ignorante! É respeitar o "outro" apesar de "diferente"!
  • C. Duarte
    27 mai, 2017 Porto 08:55
    Esta artigo encerra um elevado numero de imprecisoes. A guerra contra o Iraque foi votada no Congresso por todos is congressistas republicanos e democratas com uma unica excepcao democratica. Nao foi portanto obra dos neoconservadores, que nao estao assim tao confidantes da sua supremacia militar. Eles sabem que um ataque nuclear ah Russia, implicaria o desaparecimento puro e simples de algumas cidades Americans e outros graves problemas, como a contaminacao dos solos e aguas por decadas. Trump mandou bombardear uma base na Siria e outra no Iemen. O homem nao eh controverso. Faz o que a Military Industrial Complex e Israel lhe dizem para fazer. Um ponto interessante de SC, eh o total desrespeito dos USA pelo Direito Internacional com o qual a comunidade internacional coexiste servilmente. Trump eh eventualmente o mais mentiroso e ignorante presidente de toda a historia dos USA.
  • ASDRUBAL MARTINS
    26 mai, 2017 Lisboa 19:07
    Quero agradecer ao gentil doutor Francisco Sarsfield Cabral o facto de ter censurado os comentários de Miguel Botelho, João Galhardo e Alexandre. Desta maneira, a caixa de comentários fica mais livre de literatura comunista e estalinista. Os meus parabéns ao Doutor Cabral por este feito.
  • Justus
    26 mai, 2017 Espinho 17:35
    Uma ou outra vez reparo que alguns comentadores se insurgem contra o articulista, neste caso Sarsfield Cabral, imputando-lhe a responsabilidade pela não publicação dos seus comentários. Comigo e apesar das críticas que geralmente lhe faço, algumas por sinal nada meigas, nunca tal aconteceu. O certo é que não podemos responsabilizar Sarsfield Cabral pela não publicação deste ou daquele comentário já que, tanto quanto sei e me apercebo, ele nada tem a ver com isso. Esta tarefa, publicação ou não publicação, depende da Direcção de Informação da Renascença que, aliás, explicita muito bem os termos e condições a que estão sujeitas as publicações dos comentários. Insurjam-se, pois, contra quem se devem insurgir e não contra os articulistas que, nesta matéria, não são ouvidos nem achados. Penso eu de que...como dizia um ilustre e bem humorado pensador nortenho.
  • Telmo
    26 mai, 2017 Toronto 15:54
    Como pode aver tanta IGNORANCIA pior deijarem fazer comentarios assim
  • Justus
    26 mai, 2017 Espinho 15:11
    "Desastrosa invasão do Iraque"! O senhor deve estar a brincar ou então é daqueles que só muitas décadas depois é que se apercebe dos erros! Não apoiou o senhor, na altura da invasão, Bush, Blair, Aznar e o mestre de cerimónias Barroso? Pelo menos calou-se quando, como jornalista, deveria tomar posição sobre uma matéria de inegável interesse mundial. O único português que, publicamente, se insurgiu contra a mentira que estes senhores propalavam (a existência de armas de destruição maciça) Mário Soares foi então apelidado de traidor! Lembra-se Sr. S. Cabral? É ridículo agora escrever que a invasão do Iraque foi um desastre! E, como sempre, não diz porque foi um desastre e devia dizê-lo. Ir à Enciclopédia ou a outros documentos históricos e retirar umas tantas frases deste ou daquele acontecimento encadeando-as umas nas outras, para depois se deleitar com comentários de quem apenas sabe dizer "gostei muito", não é a melhor opção. Um jornalista tem que ter opiniões e expressá-las, dando, assim, o seu contributo para o debate e pluralismo de ideias. Narradores de histórias e fatos há muitos. Jornalistas honestos, isentos, com verdadeiro carácter de homens honrados também os há, mas são muito poucos. Dizer agora que a invasão do Iraque foi desastrosa é uma afronta aos povos que a suportaram, como também é uma afronta vir agora, passados quase dois anos, colar-se aos bons resultados económicos deste governo, depois de propalar, dia sim dia sim, previsões que sabia serem erradas.
  • Vítor Lopes
    26 mai, 2017 Lisboa 14:21
    Os meus aplausos por mais uma brilhante crónica e ter censurado qualquer comentário vindo de Alexandre, João Galhardo ou Miguel Botelho.A falta de respeito destes senhores merece o seu lápis azul. Queremos uma caixa de comentários limpa das ideias desta gente. Ainda bem que o Sr. Francisco Sarsfield Cabral os censura.
  • António Costa
    26 mai, 2017 Cacém 13:37
    A NATO goste-se ou não, como "contrapoder" ao "Pacto de Varsóvia" ficou “obsoleta" nos moldes em que existia. A "ameaça soviética", que ocupava parte da Alemanha "recuou" para os confins da Ucrânia. É uma realidade. A NATO tentou "atribuir-se" de novas funções, como o "combate ao terrorismo". O Problema como o comentador JP de Lisboa disse é que "...quando se fala em terrorismo nunca se menciona a razão porque existe....". Porquê? As forças que estão por detrás das ações "terroristas" não possuem meios "convencionais" para se imporem pela força. Ao falar de "terrorismo" coloca-se logo de lado a "origem" do problema. Com Portugal e as ex-colónias era a autodeterminação destas a "origem" do problema. Com o "Terrorismo Islâmico" é o modo de vida Ocidental que está em causa. Os patrocinadores do "terrorismo islâmico" pretendem impor pelo Terror o seu modo de vida ao Ocidente. Os patrocinadores do "terrorismo islâmico" são também os "antigos aliados" do Ocidente do tempo da guerra fria. E o problema é "apenas esse".
  • JP
    26 mai, 2017 Lisboa 08:37
    Porque razão o sr Cabral omitiu na sua narrativa a intervenção da NATO na Líbia que originou o caos. A Líbia hoje é repartida por tribos não tem um governo estável. Eu nunca percebi aliás até percebo porque razão quando se fala em terrorismo nunca se menciona a razão porque existe, as suas causas e os países que o originaram. Eu combati o (terrorismo) em Africa e compreendo a razão porque ele existiam. A diferença desse terrorismo é que tinha fronteiras e hoje não. Na ânsia de certos líderes ocidentais terem mão de obra barata aceitam pessoas que eles ocidentais obrigaram a fugir dos seus países. Mexeram num ninho de vespas e agora estão a por inocentes expostos a esses enxames. Deixemos a hipocrisia de lado.
  • SELMA
    26 mai, 2017 Lisboa 08:27
    Li e gostei do seu artigo. No entanto, devo apenas acrescentar que censurar comentários que não gosta, só porque vão contra si, é mau para a democracia. Por favor, deixe o debate existir e não deixe apenas aparecer os comentários a seu favor.