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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Os moderados vencem no Irão

22 mai, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Embora o poder religioso islâmico ainda controle o Estado, há sinais de evolução democrática no Irão.

O filho do antigo presidente do Irão, o moderado Rafsanjani, conquistou todos os lugares no Conselho Municipal de Teerão (21). Os conservadores foram afastados da gestão da capital iraniana, dominada por eles há 14 anos.

No mesmo dia, o também moderado Rohani conseguiu ser reeleito presidente do Irão com uma margem confortável (57%, contra pouco mais de 50% há quatro anos). A afluência às urnas foi de cerca de 70%, superior ao esperado. Na capital, Teerão, registou-se o dobro dos votantes relativamente à eleição presidencial de 2013.

Apesar de todas as limitações impostas pelas autoridades islâmicas (xiitas), a democracia atrai os iranianos, sobretudo os jovens – ao contrário do que vemos na Europa. Os resultados desta sexta-feira permitem a esperança de que, a prazo e gradualmente, a teocracia do Irão evolua no sentido democrático.

Claro que o reeleito presidente Rohani é limitado no seu poder pelo Guia Supremo, o ayatollah Ali Khamenei. Bem como pelos Guardas da Revolução, ultra conservadores. Mas uma derrota de Rohani, importante artífice do acordo nuclear do Irão com os EUA e outros seis países, teria dado mais um pretexto a Trump para rasgar esse acordo – que não é ideal, mas representa o menor dos males.

Trump parece tomar partido pelos sunitas contra os xiitas, ao visitar a Arábia Saudita na sua primeira saída dos EUA. E ao vender aos sauditas 110 mil milhões de dólares de armamento, numa operação em que interveio o genro de Trump, Jared Kushner. Armas sofisticadas “para combater a má influência iraniana”, nas palavras do Secretário de Estado Rex Tillerson.

É uma política arriscada, pois aposta num país de monarquia absoluta, onde impera a lei islâmica pura e dura (por exemplo, na falta de direitos das mulheres) e de onde eram originários 15 dos 19 terroristas do 11 de Setembro do 2001. E hostiliza um Irão, decerto ainda teocrático, onde a aproximação à democracia é menos improvável.

Comentários
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  • António Costa
    22 mai, 2017 Cacém 13:46
    Só mais um ponto: Entender Donald Trump. A posições politicas de Trump só "aparentemente" são "imprevisíveis". As diferenças estão no "saco de gatos", formado por Arábia Saudita, Turquia e Israel. Esta "santa aliança" é que apoio o "Estado Islâmico" pela "porta do cavalo". Esta aliança, está interessada no "aniquilar" do Irão, ou no mínimo na sua "retirada" da cena internacional. Mas o problema esta no "papel da Rússia". E é aqui a grande diferença! Israel veria com bons olhos a "aproximação" da Rússia ao Ocidente, "isolando" o Irão. A Arábia Saudita prefere mais "matar dois coelhos com uma cajadada". Para os Sauditas tanto a Rússia como o Irão são seus "inimigos". E é destas posições que "nascem" as "aparentes surpresas" de "Trump". Para o JORGE de Sintra: "....artigo de poucas linhas, mas muito acessível e sintético..." descreve também na integra, o seu excelente comentário.
  • António Costa
    22 mai, 2017 Cacém 11:05
    Uma posição de Trump, previsível desde Novembro passado, quando foram tornadas, cada vez mais públicas, as "posições politicas" dos seus "conselheiros" mais próximos. No conflito entre os Xiitas do Irão e os Sunitas da Arábia Saudita existem muitas alianças. A Rússia está do lado do Irão, assim como os movimentos "radicais" como o Hezbollah e o Hamas(palestinianos). Do lado Sunita vamos encontrar a Turquia, os movimentos "radicais sunitas" de onde "nasceu" o "Estado Islâmico" e .....Israel. E a "coligação" a que Israel pertence é fortemente "anti-Irão". A politica "americana" irá tentar afastar e isolar o Irão como "potência terrorista". Vamos ver, gostei do seu artigo.
  • Jorge
    22 mai, 2017 Sintra 10:43
    Um artigo de poucas linhas, mas muito acessível e sintético, que descreve dois momentos importantes da semana que findou. Eleições no Irão, com vitória da linha mais moderada(felizmente, um mal menor, mas que continuará a ser um país, onde não se respeita direitos humanos fundamentais) e a visita de Trump à Arábia Saudita(santuário do terrorismo) principal base de apoio/estratégico ao E. Islâmico e de outros fundamentalismos islamitas. É pacifico inferir se parte dessas armas não irão cair nas mãos desses grupos terroristas? Ou, a América a crer estar bem com Deus e o diabo! Sem dúvida, Os EUA com Trump ao leme e de fácil acessibilidade ao botão nuclear,representam literalmente na atualidade uma ameaça à paz mundial e um insulto à inteligência humana.