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José Miguel Sardica
Opinião de José Miguel Sardica
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​Depois do a-Deus

17 mai, 2017 • Opinião de José Miguel Sardica


Francisco não veio a Fátima; veio para estar com os que estavam em Fátima.

Por escassas, mas intensas, 24 horas, nos dias 12 e 13 de Maio, a sede espiritual do catolicismo transferiu-se do Estado da Cidade do Vaticano, na grande Roma, para a pequena charneca da Cova da Iria, transformada, ao longo de cem anos, no Santuário de Fátima que hoje conhecemos. Cada viagem papal tem o seu contexto e história, e deixa as suas impressões e legados. Que dizer desta última, que apresentou pela primeira vez Francisco aos portugueses, depois de quatro anos de Pontificado?

A ocasião era das mais solenes, mas o estilo papal foi dos mais despojados. O prelado que quis chamar-se Francisco, como o de Assis, canonizou – fora de Roma – um outro Francisco que, com Jacinta, passaram a ser os santos não-mártires mais jovens da Igreja, e esteve sempre bem ciente da data redonda – um século – que se celebrou. Menos “mariano” do que João Paulo II, fez, todavia, lembrar mais o Papa polaco que o seu antecessor, Bento XVI, por ser mais um peregrino entre peregrinos, um pastor de almas e um operário da Igreja, do que um teólogo reservado e doutrinal, como era Ratzinger.

Os portugueses adoram quem os adora e os católicos ainda mais um Papa de estilo bonacheirão e simpático. Francisco não veio a Fátima; veio para estar com os que estavam em Fátima. Saiu apressado do avião, sem esperar a passadeira vermelha, e desviou-se do tapete de flores para segurar bonecas e dar autógrafos. No Santuário, orou sem especial aparato e fez questão, à noite, de descer parte do recinto a pé. Na Missa de dia 13, imitou os peregrinos, de lenço na mão, despedindo-se da imagem da Virgem, depois de ter produzido uma homilia extraordinariamente simples. Relida, parece que qualquer crente com ilustração média seria capaz de a escrever. E, no entanto… a beleza das coisas simples só está ao alcance de muito poucos.

Depois do pico de emoções do centenário, especialmente propício à revisitação intensiva de Fátima, pela história, pela teologia, pelo sentimento e pela iconografia, a crença continua, mas o foco de atenção vai diminuir na exacta proporção da menor noticiabilidade das aparições, fechada a efeméride.

A vida moderna é mesmo assim. Para lá do que os adversários ou críticos não aceitam, ou gostam menos, em Fátima – o “joelhódromo” (palavra de mau gosto!), o comércio, o negócio, a exploração “barata” de emoções e crendices – o futuro, aos cem anos, da mensagem de Nossa Senhora é tão actual e tão prospectivo como se anunciou em 1917, numa paisagem rural pobre, a três crianças, numa das conjunturas nacionais e internacionais mais difíceis de sempre. Foi desse futuro, extraído do passado de Fátima e do presente de centenas de milhares de pessoas reunidas no Santuário, que tratou, afinal, a homilia do Papa Francisco. Em Fátima, como em todo o lado, uma “Igreja pobre de meios, mas rica de amor”, precisa de ser agente de paz, de solidariedade e de esperança, que são “alavancas na vida de todos nós” e antídotos para a “miopia do olhar” (a indiferença), com que os homens se fazem “esperança abortada”.

Os problemas, os males e os desafios vão mudando, de 1917 para 2017 e daqui para o futuro. Mas um caminho foi aquilo que a Cova da Iria inaugurou e que o gigantesco fenómeno global de Fátima hoje relembra: mediadora de Cristo, Nossa Senhora oferece aos seus muitos filhos “o manto de luz que nos cobre, aqui como em qualquer outro lugar da Terra”. No dia seguinte à vinda do Papa, talvez o Santuário tenha estado já quase vazio. Mas mesmo vazio de gentes, e fora das peregrinações dos dias 13, é sempre esta verdade (d)e vida que ali se encontra.

Comentários
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  • Ângela Veloso
    18 mai, 2017 Lisboa 13:04
    Um homem que se supõe inteligente, como o Sr. José Sardica, não deve iludir os seus leitores, como fez neste artigo. Não nascemos ontem, Sr. Sardica e não nos faça de parvos com textos para ser entendidos por crianças da primária.
  • António Costa
    18 mai, 2017 Cacém 00:48
    O Amor de Cristo pela Humanidade é infinito e incondicional. Saímos de ao pé Dele por nossa própria vontade. "Mergulhamos" nesta "Terra" por nossa exclusiva vontade. E Ele sofreu, mas deixou-nos vir, apesar de tudo, sem interferências....Mas está sempre ao nosso lado "até ao fim da nossa aprendizagem", até regressar-mos para Ele. Porquê "intermediários" como se Ele não nos ouvisse....como se fosse preciso chamar a "atenção" a alguém "distraído".......
  • João Galhardo
    17 mai, 2017 Lisboa 22:13
    Cova da Iria, a mediadora de Cristo? Mas que grande disparate este artigo de José Sardica. Jesus Cristo, rabi ou profeta dos tempos antigos, nada tem a ver com uma imagem de uma santa (que não é a mãe de Jesus). Quanto muito, a «Nossa Senhora», como José Sardica chama (e venera de modo infantil), é o símbolo pagão dos tempos modernos; culto do Deus Dinheiro.
  • MASQUEGRACINHA
    17 mai, 2017 TERRADOMEIO 19:17
    O Sr. Sardica ou não ouviu o que o Papa disse, ou ouviu e selecionou o que lhe pareceu menos traumatizante... É curioso que se dedique a uma descrição, aliás algo confusa, de minudências papais inconsequentes e umas coisas avulsas sobre Fátima, e não refira o que toda a gente ouviu - mesmo quem não compreendeu : Maria como Primeira Crente, e não Maria como santinha a quem se pedem favores. A Maria do "Magnificat" de S. Lucas, de tão belas e claras palavras... e não a Maria dos pagadores-de-promessas. Por outro lado, não percebi mesmo aquela de "Os portugueses adoram quem os adora e os católicos ainda mais uma Papa de estilo bonacheirão e simpático" - quer isto dizer que o Papa adora os portugueses?, ou só os católicos portugueses?, ou que os não católicos não gostam do Papa?, ou que os povos não-portugueses adoram quem não gosta deles? Confuso. Para mais, nem todos os católicos, como é público e notório, gostam deste Papa, que acha e diz que o "clericalismo é a peste da Igreja" - são católicos que já descobriram que o "bonacheirão simpático" é mesmo só estilo. Quanto à vida moderna ser mesmo assim, como estás?, vai-se andando!, eu ainda gostaria de saber, em opinião directa e clara, o que é que o Sr. Sardica afinal pensa do tal lado mais... comercial que Fátima também tem. Não sendo o Sr. Sardica adversário nem crítico, expõe as opiniões dos que o são - mas ainda não consegui perceber exactamente qual a sua opinião pessoal sobre o assunto. Pareceu-me pouco inspirado, hoje.
  • Alexandre
    17 mai, 2017 Lisboa 18:59
    Verdade de vida que ali se encontra? O que dizer do negócio que ali se encontra? O que dizer de quartos de hotel a dois mil euros por noite? O que dizer da exploração das imagens de «Nossa Senhora»? Será essa a mensagem de «Nossa Senhora»: venha a nós o negócio e o dinheiro? José Miguel Sardica, não nos iluda com estes textos medíocres e ingénuos.