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Maria Rosário Carneiro
Opinião de Maria Rosário Carneiro
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Ideias feitas

16 mai, 2017 • Opinião de Maria Rosário Carneiro


Eliminar estereotipias e desconstruir preconceitos é essencial para o desenvolvimento equitativo das comunidades.

Olhamos o mundo segundo ideias feitas, arrumadas, estabilizadas. Aliás, grande parte da nossa aprendizagem é feita a partir dessas ideias que se vão encaixando e que nos vão dando segurança para passarmos para a fase seguinte: fazer e aprender mais.

O problema está quando não nos questionamos acerca dessas mesmas ideias, feitas de percepções cristalizadas que nos impedem de ver e fazer diferente, de olhar a realidade na sua permanente mudança, de conhecer o outro na sua especificidade. É confortável, sentimo-nos seguros.

O nosso quotidiano está cheio de histórias de equívocos e mal-entendidos que coartam a nossa liberdade, sem que de tal tenhamos consciência, que tornam invisíveis pessoas e problemas, que são fonte inesgotável de discriminação, exclusão e injustiça.

Podemos encontrar tantos exemplos quanto as estereotipias que construímos, os preconceitos que nos dominam e nos impedem não só de ver com olhar crítico como de actuar adequadamente. Dominam o cidadão individual na sua vida privada e pública, dominam o decisor político em tantas das opções que formula e põe em prática.

A educação, nas suas múltiplas formas, é um instrumento nuclear de reprodução ou de supressão de preconceitos e estereotipias. Cito a título de exemplo dois produtos recentes para crianças que perpetuam e/ou tentam combater estes modelos: uma produção franco-canadiana de desenhos animados “leap” que ao incentivar, e bem, as crianças a serem persistentes na luta pelos seus sonhos propõe que a menina seja bailarina e o rapaz inventor, reproduzindo os papéis expectáveis para cada um, não ousando propor o contrário; um livro de duas autoras italianas com histórias de embalar para “meninas rebeldes”, composto pelas histórias adaptadas de 100 mulheres, dos mais variados domínios profissionais, origens étnicas e geográficas, procurando pelas narrativas romper barreiras interditas de intervenção, mas esquecendo que os meninos também precisam de as ouvir contar.

Eliminar estereotipias, desconstruir preconceitos é essencial para que cada comunidade se abra e desenvolva de forma mais justa e inclusiva, para que cada um seja em liberdade o seu próprio autor.

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  • MASQUEGRACINHA
    16 mai, 2017 TERRADOMEIO 18:39
    Bom, na hiper-produção reinante (e ainda bem que o é!), decerto se encontrarão produtos a incentivar meninos bailarinos e meninos "bons" rebeldes, que compensarão os exemplos apresentados e reequilibrarão o politicamente correcto. Para lá da questão dos objectivos da aprendizagem de sucesso, tão bem exposta pelo Sr. ANTÓNIO COSTA, muitas outras se levantam que tornam a tal ideia de "cada um ser em liberdade o seu próprio autor" coisa de líricos votados ao fracasso - a menos, evidentemente, que se trate de gente excepcional, pela inteligência, pelo talento, ou pelo dourado do berço em que nasceu. Às vezes não percebo este género de artigos, num mundo em que somos constantemente bombardeados com a necessidade de a educação fornecer recursos aptos para as necessidades empresariais... Teremos sempre, como sempre tivemos, criaturas excepcionais, que perseguem os seus sonhos. Mas não podemos ser todos físicos teóricos, cantores de ópera, bailarinos ou filósofos, pois não? E etc. e tal, por aí fora, a argumentação é bem conhecida. Portanto, este género de lindo prosear é algo falacioso e perigosamente conducente à frustração - ou, pior, aos tristes espectáculos de "cinco minutos de fama" que já se normalizaram. O que seria bom é que se entendessem, para sabermos que peixe afinal vendemos aos nossos filhos - o sonho pode comandar a vida, e ser-se o seu próprio autor é magnífico, mas só para os Alfas, ou quando muito Betas . Para o massivo resto, comida no prato e bilhete pró futebol.
  • MASQUEGRACINHA
    16 mai, 2017 TERRADOMEIO 18:39
    Bom, na hiper-produção reinante (e ainda bem que o é!), decerto se encontrarão produtos a incentivar meninos bailarinos e meninos "bons" rebeldes, que compensarão os exemplos apresentados e reequilibrarão o politicamente correcto. Para lá da questão dos objectivos da aprendizagem de sucesso, tão bem exposta pelo Sr. ANTÓNIO COSTA, muitas outras se levantam que tornam a tal ideia de "cada um ser em liberdade o seu próprio autor" coisa de líricos votados ao fracasso - a menos, evidentemente, que se trate de gente excepcional, pela inteligência, pelo talento, ou pelo dourado do berço em que nasceu. Às vezes não percebo este género de artigos, num mundo em que somos constantemente bombardeados com a necessidade de a educação fornecer recursos aptos para as necessidades empresariais... Teremos sempre, como sempre tivemos, criaturas excepcionais, que perseguem os seus sonhos. Mas não podemos ser todos físicos teóricos, cantores de ópera, bailarinos ou filósofos, pois não? E etc. e tal, por aí fora, a argumentação é bem conhecida. Portanto, este género de lindo prosear é algo falacioso e perigosamente conducente à frustração - ou, pior, aos tristes espectáculos de "cinco minutos de fama" que já se normalizaram. O que seria bom é que se entendessem, para sabermos que peixe afinal vendemos aos nossos filhos - o sonho pode comandar a vida, e ser-se o seu próprio autor é magnífico, mas só para os Alfas, ou quando muito Betas . Para o massivo resto, comida no prato e bilhete pró futebol.
  • António Costa
    16 mai, 2017 Cacém 14:33
    Assim não nos entendemos....quando não se repetem as ideias feitas, estabilizadas e cristalizadas é logo diagnosticada "dificuldades de aprendizagem". As pessoas que assim se comportam são "rapidamente" medicamentadas com "Ritalina"( por exemplo ). O objetivo é que as pessoas tenham sucesso na aprendizagem ( repetir, e executar as "instruções recebidas" com êxito ). Ou se é "papagaio" ( sucesso na aprendizagem ) ou se pensa, não se pode ter tudo.....