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José Luís Nunes Martins
Opinião de José Luís Nunes Martins
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​Muita comunicação, pouca verdade

• Opinião de José Luís Nunes Martins


A ilusão de estarmos à distância de dois toques com a ponta do dedo pode criar a ideia de estarmos próximos... Não, não estamos.

Já quase ninguém se obriga a preparar com cuidado o que vai dizer. Um encontro, um diálogo ao telefone ou uma mensagem escrita merecem cada vez menos atenção ao detalhe. O discernimento e o acerto dependem muito mais da qualidade do que da quantidade das palavras.

Sentimos a obrigação de comunicar tanto que acabamos por não nos preocupar em dizer tudo, de forma completa, cuidada e ponderada, tal como devia ser. Julgamos, mal, que teremos sempre mais e mais oportunidades.

Se hoje me esqueci de dizer algo, julgo que não terei dificuldade em dizê-lo depois. E esquecemo-nos sempre de coisas... a maior parte das vezes, das mais importantes.

Falamos tanto, e de forma tão despreocupada, que nos desvalorizamos a nós mesmos por não sermos capazes da verdade que os outros precisam – e que nós merecemos.

Comunica-se muito, mas cada vez há mais confusões, equívocos e discórdias. As palavras servem para nos desentendermos.

Pessoas diferentes falam idiomas diferentes. As mesmas palavras têm significados, pesos e valores diferentes, por vezes até para uma mesma pessoa em tempos e espaços distintos... até há quem mude de referências de um momento para o outro.

Com uma comunicação tão volumosa, flexível e constante, cada palavra perde sentido face ao todo.

O silêncio é hoje, mais do que nunca, um valor absoluto, pela paz de que é capaz. O silêncio pode ser uma arma que isola e sufoca, mas também é só no silêncio que se diz a verdade e se pode ser feliz.

… e é ao silêncio que cabe sempre a última palavra…





(ilustração de Carlos Ribeiro)
Comentários
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  • judite gonçalves
    16 mai, 2017 lisboa 11:34
    Tem toda a razão, prof, hoje há informação tão a mais que é dificil discernir os valores, aqueles que nos foram transmitidos pela geração anterior. Mas enfim. Tenho pena de não assistir a 5ª feira as aulas dos Senior na JFAreeiro, mas leio sempre, com muito prazer, as suas crónicas. Um abraço. Judite Gonçalves