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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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​Cosmopolitas, nacionalista e patriotas

28 abr, 2017 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Por definição, cosmopolita é aquele que “proclama não ter pátria e se considera cidadão do mundo”, então o cosmopolita, por definição, não é um patriota.

O Brexit, a crescente contestação em relação às instituições comunitárias e as eleições francesas levaram muitos políticos e comentadores a intitularem-se “cosmopolitas” por oposição aos “nacionalistas”, tentando dividir a preto e branco algo que é muito mais complexo porque tem a ver com afectos básicos.

Ligado com esta questão, tem surgido o tema do patriotismo, acotovelando-se os cosmopolitas na pressa de bradar, como se fosse uma grande novidade, que ser patriota não é necessariamente ser nacionalista. Estou inteiramente de acordo e, se me é permitida uma referência pessoal, tenho a consciência de no passado não ter sido dos menos empenhados em defender isso mesmo. Nada a discordar aqui, portanto.

Mas onde há desacordo, e muito, é com a tentativa inadmissível de arrumar como nacionalistas todos os que não são cosmopolitas.

Conheço muitos exemplos, a começar por mim próprio, de não cosmopolitas que também não são nacionalistas.

O cosmopolita é aquele que considera que o mundo é a sua pátria. No meu caso não considero o mundo, nem sequer a Europa, como sendo a minha pátria. A minha pátria é Portugal. Mas não sou xenófobo nem adiro a nenhuma forma de nacionalismo.

Portanto, autodenominados cosmopolitas, não queiram imitar o simplismo que muito justamente criticam nos movimentos nacionalistas. Até porque poderão cair num terreno movediço.

É que se tomarmos como definição de cosmopolita a da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira como sendo aquele que “proclama não ter pátria e se considera cidadão do mundo”, então o cosmopolita, por definição, não é um patriota.

Comentários
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  • Anónimo
    02 jan, 2019 17:51
    Alguém avise a escumalha das caixas de comentários que Trump e Le Pen vêm de famílias ricas.
  • António Alves Barros
    21 dez, 2017 Afife 10:34
    Ver https://lopesdareosa.blogspot.pt/2017/12/nacionalismos.html
  • Luis
    03 mai, 2017 Lisboa 08:19
    Tudo resulta do facto de quer a classe politica quer a classe jornalistica estar recheada de semi analfabetos.
  • couto machado
    30 abr, 2017 porto 18:19
    A "confusão" reside no facto de, salvo raras e excelentes excepções, termos uma imprensa nas mãos de ignorantes e, como tal, perigosos.
  • Carlos
    29 abr, 2017 Lisboa 14:51
    O problema de ser soberanista ou nacionalista em Portugal é que podemos ambicionar a ser nós, como povo, a tomarmos as nossas decisões mas a fatura tem sempre que ser enviada para outros pagarem porque não temos dinheiro.
  • MASQUEGRACINHA
    28 abr, 2017 TERRADOMEIO 18:46
    Cosmopolita, cosmopolita, só há um: o capital, puro e duro, daquele de cartola, charuto e uma grande pança... ou daquele, também puro e duro, que acredita na família tentacular e reza em capela privada. Embora aprecie um bom debate, tudo isto me começa a parecer aquela história do sexo das anjas, ou dos arcos-íris em subtis gradações de cinzentos. É também por isto que os Trumps e Le Pens vão somando e seguindo : não se atolam em tretas. Se o homem comum é chamado a decidir entre o simplismo básico e o atoleiro da treta, já se sabe o que acontece. Mantenha-se o tom elevado, mas a rasoura simples. De resto, perfeitamente de acordo com o articulista.
  • António Costa
    28 abr, 2017 Cacém 10:22
    Achei interessante o seu artigo. Existem também cosmopolitas, que também são "patriotas", mas a "sua pátria" situa-se mais nas "Ilhas Caimão" ou nas "Seychelles".....