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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Uma auditoria indispensável

28 abr, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A CGD perdeu muito do nosso dinheiro. Temos o direito de saber porquê.

Finalmente, parece que vai avançar a tão reclamada auditoria independente à Caixa Geral de Depósitos. A EY (antiga Ernst & Young), uma empresa de serviços financeiros presente em 150 países, irá analisar, em 15 semanas, a gestão da CGD entre 2000 e 2015. O Governo tinha aprovado a auditoria há dez meses, mas as trapalhadas quanto à administração da CGD atrasaram o processo – que, aliás, ainda não se iniciou.

A CGD é, desde a sua fundação em 1876, um banco do Estado. E assim deve continuar, até porque é a única maneira séria de evitar que toda a banca actuando em Portugal seja dirigida por estrangeiros. Disse-o na altura (2002) em que o “manifesto dos 40” veio reclamar protecção para os centros nacionais de decisão empresarial.

O ministro Centeno já avançou um problema na gestão da CGD: uma deficiente gestão de risco. Mas as suspeitas quanto à CGD envolvem o eventual favorecimento de interesses particulares, incluindo interesses político-partidários. Ora, se for por aí, um banco do Estado atraiçoa a sua vocação e a sua razão de ser.

Esperemos que a auditoria conclua se houve, ou não, concessão de créditos a “amigos”, em detrimento de empresas merecedoras do financiamento. Por exemplo, confirma-se ou não que a CGD emprestou dinheiro a pessoas envolvidas na luta pelo poder no BCP para comprarem acções deste banco? Um facto é público: o então presidente da CGD, Santos Ferreira, e um seu administrador, Armando Vara, passaram directamente para, respectivamente, presidente e administrador do BCP, o principal concorrente da Caixa.

A auditoria da EY deverá, também, investigar a aquisição e a alienação de activos da CGD, bem como as decisões estratégicas dos negócios. Aguardemos, portanto. Todos nós, contribuintes, temos o direito de conhecer os motivos que levaram a CGD a perder tanto do nosso dinheiro.

Comentários
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  • Evelyn MCH
    28 abr, 2017 23:39
    A auditoria da EY à CGD tem que se tornar num instrumento legal para responsabilizar criminalmente todo aquele, seja ele qual for, que cometeu delitos na gestão da CGD. Só assim se justifica fazer a auditoria à CGD.
  • Indignada
    28 abr, 2017 F. Foz 23:30
    Que ingenuidade... não compreendo a pergunta vinda de um colaboracionista desta cleptocracia. Quem apoia governantes corruptos, o que pode esperar? É como se Béria (foi director do KGB) perguntasse para onde iam os presos num campo de concentração socialista situado na Sibéria.
  • MASQUEGRACINHA
    28 abr, 2017 TERRADOMEIO 21:01
    P.S. Acabei de ler um artigo, de hoje, no DN, do tovarich Vítor Bento, a explicar de maneira que toda a gente entende por que é que os economistas alemães estão errados (sic) quando dizem que o famigerado excedente não tem importância nenhuma... Eu, que acredito em coincidências, mas não em todas, achei muito curioso que este acesso de patriotismo se desse exatamente no mesmo dia em que veio à luz o relatório pézinhos-de-lã PS/BE sobre a dívida e respectivo pagamento - em que, ao que parece, também o BE terá tido um acesso de patriotismo... Esforços patrióticos concertados, em diversas frentes, na preparação da posição portuguesa quando esta questão for, enfim, aceite para discussão por Bruxelas? O exemplo da geringonça a dar frutos, em prol do bem da pátria? A consciência individual a usar o talento para nos tentar tirar de uma situação impossível, de forma inteligente? A luz, na estrada de Damasco, enfim?
  • MASQUEGRACINHA
    28 abr, 2017 TERRADOMEIO 18:29
    Completamente de acordo. Nunca se saberá tudo, mas alguma coisa se saberá - e, uma vez que estamos num país à la Trump, em que não há responsabilização por trafulhices e gamanços de alto nível ("fui esperto, não sou?"), sempre teremos o consolo de nos divertirmos com os engalfinhanços político-partidários... A CGD ser pública é uma decisão político-estratégica : quem for a favor, tem que ser a favor também de meter lá dinheiro. É o meu caso, por acaso. Então, vamos lá pagar à EY uma pipa de massa para sabermos quem nos roubou uma pipa de massa, só para ficarmos a saber - que o conhecimento não ocupa lugar, isto apesar de já sabermos quase tudo. E vamos lá a pagar 11% de juros perpétuos aos bons samaritanos que a fazem ser um bocadinho menos pública, e contribuir com comissões iguais ou maiores do que as dos privados para ajudar ao disfarce, e idem, idem para as remunerações dos esforçados salvadores da pátria que se sacrificam na gestão da problemática coisa, e deixar fechar balcões em sítios que nem os privados querem (??!!)... Pois é, a CGD está muito bem disfarçada! E o povo refila, mas depois habitua-se a tudo.
  • De Cabeça
    28 abr, 2017 lisboa 09:38
    Claro que a existe uma Caixa que funciona como um banco normal e apresenta bons resultados. Uma Caixa que inova e que lidera o mercado em vários segmentos. E depois, existe uma Caixa instrumentalizada por políticos que, a mando da tutela, fez negócios desastrosos. É esta a Caixa dos prejuízos e dos buracos que todos temos o direito de conhecer e ver os responsáveis ... responsabilizados. Mas nada de misturas as coisas. Tudo deve ser feito para que a "Caixa boa" prevaleça e continue a trabalhar como sempre o fez.