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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A outra austeridade

17 abr, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A austeridade mudou, mas não acabou nem acabará tão cedo. Pôr ordem nas contas do Estado implica restrições.

“Abrandar na nossa determinação em ter boas contas públicas podia pôr em perigo a situação de longo prazo do país”. Não se pode estar tranquilo “mesmo que o rating das agências de notação se altere (...) pois não é no dia seguinte que a nossa dívida pública diminuirá drasticamente”.

Frases sensatas como estas foram ditas na semana passada pelo ministro do Planeamento, Pedro Marques, em entrevista à Renascença e ao “Público”. E afirmações semelhantes foram feitas por outros governantes, como o ministro das Finanças.

Elas mostram que, para o Governo de António Costa, a prioridade está na redução do défice e da dívida do Estado, cumprindo as metas de Bruxelas. Prioridade confirmada pelo Programa de Estabilidade aprovado no último Conselho de Ministros.

Como tanta gente, até há meses eu não acreditava que essa prioridade fosse concretizada, dado que ela é detestada pelos apoiantes de extrema-esquerda do Governo – PCP e BE.

Para esse engano contribuiu o enorme alarido propagandístico que A. Costa fez em torno do alegado “fim da austeridade”, “virámos a página da austeridade”, e por aí fora. Parecia um retorno ao despesismo que nos levou em 2011 ao resgate.

O Governo repôs salários da função pública, pensões e alguns cortes em apoios sociais. Mas, em contrapartida, e “pela calada”, cortou muita despesa pública corrente, prejudicando os utentes dos serviços públicos nas escolas, nos hospitais, nos transportes públicos, nos tribunais, etc.

Ora isso também é austeridade. Como é austeridade o dramático corte no investimento público em 2016, colocando-o ao seu nível mais baixo em décadas; e já houve algum recuo na prometida recuperação do investimento público este ano. Num Governo de esquerda, é curioso.

Ou seja, a austeridade mudou, mas não acabou. Prometem, agora, aliviá-la sem pôr em causa as metas europeias. Ora pôr ordem nas contas do Estado implica restrições. A menos que a economia crescesse o dobro do que prevê o Governo.

Nem sequer sabemos se o crescimento económico irá acelerar para níveis compatíveis com os encargos de juros e amortizações da dívida pública. Aí também estou céptico, pois não julgo que o apoio parlamentar do PCP e do BE admita condições atractivas para as empresas privadas e para o investimento empresarial.

Oxalá António Costa nos surpreenda outra vez.

Comentários
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  • Antonio Pereira
    23 abr, 2017 00:33
    A austeridade e o mal económico deste país foram causados pelos super homens da troika. Em vez de trazerem exemplos de como se governa um país, a começar pela maquina do estado, dando exemplo de austeridade para depois estenderem ao resto da população, não, ordenaram sim que se subissem impostos, cortassem vencimentos etc. Só estes dois itens deixam claro porque o país não cresce. Não há poder de compra, perdemos com o euro metade dele, não há dinheiro excedente ao fim do mês para fazer planos, não havendo sonhos não há obras não havendo obras não é preciso produzir não sendo preciso produzir mais desemprego mais precariedade mais subsídios mais impostos para quem ainda consegue ter um já miserável vencimento que alguns senhores acham que é incomportável no entanto a miséria é só para pagar esses salários. Enfim não sei que exemplo vieram esses super homens trazer, tem o exemplo da Dinamarca onde a educação e a saúde são gratuitas, não há motoristas para ninguém nem subsídios para habitação dos deputados e outras mordomias, aliás os Dinamarqueses quando questionados dizem que os impostos não são para pagar luxo aos políticos, realmente não sei o que esses senhores vieram cá fazer, construir ... ou destruir...
  • Ângela Veloso
    17 abr, 2017 Lisboa 20:18
    A dita austeridade do governo de Passos Coelho foi um roubo monumental aos portugueses, escondido pelo Sr. Sarsfield Cabral (muito amigo de Cavaco Silva). Foi também motivo para um autêntico ataque aos postos do Estado que pagavam melhores salários. O CDS-PP ficou sem gente para ocupar os lugares. Nessa altura, Sarsfield ficou calado. Não era com ele. Agora, culpa o governo de António Costa. É o que se chama de verdadeiro hipócrita, no bom sentido da palavra.
  • MASQUEGRACINHA
    17 abr, 2017 TERRADOMEIO 16:53
    A austeridade, como o Sr. S. Cabral muito bem sabe, nunca poderá ser realmente desafogada enquanto Portugal alancar com oito mil milhões de euros anuais de juros da dívida. Ponto final, parágrafo. Ao contrário do governo anterior, que se comportou como uma verdadeira quinta-coluna em território ocupado, esmagando com indisfarçado entusiasmo os mais indefesos e ainda os apodando de "piegas" e "gastadores", o actual governo vai avançando num campo minado, tapando aqui, destapando acolá - é verdade, mas de que outra maneira poderia ser? Só falsificando moeda. Comporta-se, pelo menos, com um mínimo de dignidade e sensibilidade social - e os partidos que o apoiam com evidente patriotismo, o que é não só inesperado como muito, muito difícil de engolir, para algumas pessoas. Sendo a austeridade inultrapassável sem renegociação da dívida (pagá-la, sim, e integralmente : mas com mais tempo e sem usura), espera-se que as conjunturas e políticas europeias nos sejam, por uma vez, mais favoráveis, e que a solução governativa se mantenha, não se deixando deslumbrar (sobretudo o PS, claro) por eleitoralismos. Estou em crer que, para Portugal, esta foi, e continuará a ser, a melhor solução governativa, talvez até coligação no futuro. Como já tive ocasião de dizer, mesmo entre os "bons alunos" há os espertos e os inteligentes - dos primeiros, já tivemos dose mais do que suficiente; nos segundos, e apesar de tudo, mantemos a esperança. Até o Sr. S. Cabral, pelo que vejo... De facto, oxalá.
  • Jose
    17 abr, 2017 Oeiras 14:57
    Tudo o que o Sr. Sarsfield Cabral disse é a pura verdade nua e crua. Mas apareceram aqui uns entendidos a querer atacar o PSD e Passos Coelho pela austeridade esquecendo-se de dizer porque houve a referida austeridade, ou será que o governo do PS comandados pelo sr. Sócrates deixou os cofres do governo cheios e sem dividas?
  • André
    17 abr, 2017 Lisboa 14:55
    "Para esse engano contribuiu o enorme alarido propagandístico que A. Costa fez em torno do alegado “fim da austeridade”, “virámos a página da austeridade”, e por aí fora." A RR contrata fazedores de opinião desatentos. Ainda durante as eleições, já António Costa e o PS badalavam o famoso "rigor orçamental". O caro fazedor de opinião não justifica o salário. "Mas, em contrapartida, e “pela calada”, cortou muita despesa pública corrente, prejudicando os utentes dos serviços públicos nas escolas, nos hospitais, nos transportes públicos, nos tribunais, etc." Questão importante: tem usado recentemente algum serviço público? Se usar os serviços públicos, certamente verificará que até tem havido melhorias significativas nalgumas áreas. Aquilo que o Governo está a demonstrar é a possibilidade de competência, algo que o PSD e CDS-PP não apresentaram durante o seu mandato. Por outras palavras, eu até acredito nas boas intenções de Passos Coelho, mas ele nunca deveu muito à inteligência. Os resultados práticos estão à vista.
  • Justos
    17 abr, 2017 Espinho 14:38
    Demorou tempo, mas S. Cabral reconhece agora que se enganou redondamente sobre a política do atual governo e o cumprimento dos objetivos. Para quem andou um ano inteiro a inventar erros e desastres que não se verificaram é muito pouco e sabe a completa hipocrisia. E, com o bichinho da inveja e despeito a roer-lhe por dentro, vem logo, como de costume, lançar dúvidas e incertezas para o futuro. Foram repostos salários e pensões, as contas públicas estão equilibradas, os portugueses vivem melhor, mas tudo isto é, para S. Cabral, irrepetível e, pasme-se, pura austeridade! Ser rigoroso com os gastos e contas públicas, melhorar a vida dos portugueses e o tecido social, económico e financeiro é algo a que alguns escribas intelectualmente desonestos não estavam habituados. Por isso, dada a evidência e como já não cola a teoria do desastre e do diabo, estão agora a inventar nova teoria, ou seja, a teoria da "austeridade da esquerda". Melhorar a vida dos portugueses e o nosso tecido económico e social é, para estes hipócritas e invejosos do sucesso português, austeridade! Só não foi austeridade o empobrecimento forçado, violento e traiçoeiro do governo de P. Coelho, a ponto do próprio Marques Mendes ter dito que se tratava de um "roubo à mão armada". Mas já nada nos espanta nestes escribas enfeudados a ideias e interesses que têm por fim manter os privilégios das elites e das castas. Vão martelar agora na "outra austeridade". São os paradoxos dos hipócritas que já não enganam ninguém.
  • ALETO
    17 abr, 2017 Vila Franca de Xira 14:17
    Este é o modo manhoso como Francisco Sarsfield Cabral defende a política do seu partido (PSD) e como usa a «Renascença» como instrumento de propaganda contra o governo de António Costa. Escreve acerca de uma outra austeridade, obliterando aquela que não descreveu antes. Será esta a imparcialidade que queremos ver numa coluna de opinião, dita isenta e transparente? Aquela que só ataca as políticas do actual governo e de quem assinou o acordo que deu origem à sua legitimidade no parlamento? Lógico que não. Daí que esta crónica servil aos interesses da chamada «social-democracia» de Passos Coelho, é pura demagogia.
  • João Galhardo
    17 abr, 2017 Lisboa 12:36
    Sem mencionar a primeira austeridade (a de Pedro Passos Coelho), Sarsfield Cabral aborda a «outra austeridade». Puro cinismo de quem nunca abordou a austeridade imposta pelo seu partido, entre os anos de 2011 e 2015.
  • Miguel Botelho
    17 abr, 2017 Lisboa 09:24
    O mais contraditório ou cínico desta opinião é a ausência de crítica ao governo de Pedro Passos Coelho que impôs um período de quatro anos de austeridade sobre austeridade. Nessa altura, Sarsfield Cabral esteve muito calado, deixando os seus amigos do PSD governar à vontade, sem crítica e oposição da sua parte. Vergonha!