14 abr, 2017 • Francisco Sarsfield Cabral
Hoje, Sexta-feira Santa, os cristãos celebram um Deus que, em Jesus Cristo, assumiu a condição humana com toda sua fragilidade. A qual inclui a morte – e, no caso de Cristo, morte de cruz, a mais vergonhosa condenação judaica; e, também, a angústia perante a morte. O paradoxo é a marca da fé cristã.
“Quem quiser ganhar a sua vida terá que perdê-la”. “Os últimos serão os primeiros”. O Evangelho está cheio de paradoxos com estes, desafiando o senso comum. Mais perturbante, ainda, é Cristo ter gritado da cruz: “Meu Pai, porque me abandonaste?”. O próprio Deus sofreu... com o silêncio de Deus.
Tudo isto por amor sem limites pelas pessoas, que, enquanto filhos de Deus, entram na “família divina”. Difícil de entender pela mera razão humana? Sim, mas lembremos a advertência de Sto. Agostinho: “Se dizeis compreender Deus, não é Deus”. Cristo transmite-nos o que podemos saber de Deus, que é amor – “quem me vê a Mim, vê o Pai”.
O mistério divino vai ao ponto de um Deus omnipotente se autolimitar em Cristo como servo dos homens, aos quais dá plena liberdade, incluindo para o negarem e matarem. Mataram Cristo, que comia e bebia com os detestados cobradores de impostos, falava com prostitutas e não condenou a mulher adúltera.
Às autoridades religiosas do seu tempo e lugar, e aos fariseus, Cristo chamava “sepulcros caiados”. E lembrava-lhes que o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.
O amor no seu grau máximo – o amor de Deus por nós – é paradoxal. E à Sexta-feira Santa, dia de trevas, segue-se a Páscoa da Ressurreição, que é o triunfo do amor.