11 abr, 2017 • André Rodrigues
Por esta altura já deve estar a pensar: 'então e as sardinhas dos Santos Populares?'
Não se preocupe. O pior que lhe pode acontecer é ter de pagar um pouco mais por quarteirão porque a escassez do peixe faz disparar o preço. E deve também fazer disparar a consciência.
Porque quando as ONG ligadas à pesca alertam para a escassez de peixe, o que lhe estão a dizer na verdade são três coisas que deve reter: em primeiro lugar, é óbvio que este nosso apetite por peixe vai conduzir a um acelerado esgotamento de recursos. Por outro lado, os barcos portugueses fornecem apenas um quarto do peixe que consumimos. Os outros três quartos são importados. O que significa que, estando Portugal entre os maiores consumidores de peixe do mundo, estaremos certamente a contribuir para um desequilibrio de espécies noutros pontos do globo. E o salmão, muito apreciado pelos portugueses, é um bom exemplo.
E enquanto isso, desperdiçamos o peixe português. Sabia que boa parte do stock de cavala destina-se à alimentação do peixe criado em aquacultura?
Mas não é tudo: desde a adesão à Comunidade Económica Europeia, depois rebaptizada como União Europeia, Portugal tem assistido à diminuição do número de pescadores, embarcações e empresas de pesca.
Dados de 2016 do Instituto Nacional de Estatística - relativos a 2015 - indicam que o país tem aproximadamente menos 18 mil pescadores do que há 30 anos.
Neste espaço de três décadas, Portugal perdeu mais de metade da frota.
A consequência: é que em 1986, Portugal produzia 70% das suas necessidades de abastecimento interno.
Actualmente, só capturamos pouco mais de 30% do peixe de que necessitamos.