Tempo
|
João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
A+ / A-

​Fuga para a frente

31 mar, 2017 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Já cá não estarei, mas gostaria que a visão dos historiadores futuros sobre as elites portuguesas actuais não viesse a ser “conseguiram dar cabo de um país com novecentos anos de história”.

Quando a propósito das transformações por que a União Europeia irá inevitavelmente passar vejo e oiço os defensores da tese de que Portugal deverá manter-se, custe o que custar, doa o que doer, no pelotão da frente, a minha primeira reacção é perguntar: como é possível?

Como é possível que quase todos esses defensores sejam os mesmos que, seguindo o mesmo dogma, nos fizeram entrar na zona euro, com todas as consequências desastrosas que hoje conhecemos? Como é possível que ainda tenham o topete de continuar a defender o mesmo depois de que tudo o que se passou e o defendam para uma situação nacional de ainda muito maior melindre e debilidade do que a que enfrentávamos em1999? Como é possível que ainda não se tenham apercebido da enorme falácia que é defender o ”pelotão da frente” com a justificação da nossa situação periférica, fingindo ignorar que estarmos no pelotão da frente é obrigar-nos a obedecer a regras que não temos qualquer possibilidade de cumprir, assim nos tornamos muito mais periféricos? Como é possível esquecer que estar no pelotão da frente significa sermos absorvidos por um espaço liderado pela Alemanha perdendo as nossas representações internacionais e deixando de ser um estado como tal reconhecido pela comunidade internacional?

Mas depois desta reacção um outro pensamento me ocorre. Afinal temos precedentes. As elites do Estado Novo trataram o problema colonial com a mesma teimosia e o mesmo dogmatismo, arrastando o País para um enorme desastre.

Desastre que ainda será mais terrível e irremediável de deixarmos que a fuga para a frente da miragem do núcleo mais avançado da integração europeia não seja revertida.

Já cá não estarei, mas gostaria que a visão dos historiadores futuros sobre as elites portuguesas actuais não viesse a ser “conseguiram dar cabo de um país com novecentos anos de história”.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • E Dos Santos Figueir
    01 abr, 2017 Lisboa 22:46
    Curiosamente, até hoje, nenhuma previsão sobre o futuro próximo ou longínquo bateu certo! Mais curioso ainda é o facto de continuarmos a não percebê-lo.
  • J. Matos
    01 abr, 2017 Lisboa 10:13
    Até final do mês de Julho, Portugal recebeu 1016 milhões de euros dos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento, o que o coloca na linha da frente dos países que mais verbas já conseguiram obter, se sairmos não há mais fundos. E depois quem aplica as normas europeias de qualidade da água, do ar, da poluição, etc. que tanta qualidade de vida nos trouxeram ...? a melhoria das inspeções automóveis, o controlo da qualidade dos medicamentos, etc. tudo isso vem da UE.
  • MASQUEGRACINHA
    31 mar, 2017 TERRADOMEIO 19:19
    De facto, como é possível insistir em tão trágico erro, de querer pertencer ao que nunca se pertenceu, nem se tem capacidade de pertencer - nem nunca se poderá ter, dada a dimensão do país? Triste povo, sempre em bicos de pés, sempre em embaixadas ao Papa... Pelotão da frente? Só se for nalguma competição de tipo paralímpico, ou, pelo andar da carruagem, para fuzilamento. Atente-se, como a vingança da BlackRock e da Primco se serve ainda quentinha, ou alguém supõe que o descalabro da venda do Novo Banco é coincidência? Disseram que Portugal ia pagá-las, de uma ou de outra maneira, e cá estamos. Saíram do défice excessivo? Lindos meninos... agora é descerem de 130% do PIB para 60%, se não, já sabem... Uma continha de merceeiro: a 8 mil milhões por ano em juros, em 10 anos não só já pagámos o que devíamos, como demos muito a ganhar pela gentileza dos nossos "amigos e parceiros". Chega? Não. Perante Bruxelas, mesmo perante as puras e simples ilegalidades de Bruxelas, Portugal está impotente, e ainda pede por mais. Reitero a minha admiração e gratidão pela inteligência e perseverança do articulista.
  • CF
    31 mar, 2017 Beja 15:50
    Os cronistas idóneos relatarão que à época, os que se aperceberam da situação e apresentavam propostas diferentes para uma solução não eram os que habitualmente dispunham da experiência e conhecimento da medicina oficial, mas outros que habitualmente seriam alcunhados como adeptos de métodos alternativos irrealizáveis e que até se disponibilizavam naquela conjunção particular para orientar os que persistiam na terapêutica recomendada tendo em vista tão obscura cura.
  • António Lopes
    31 mar, 2017 Lx 13:50
    Não foram as "elites" os mais beneficiados pela adesão: depois da adesão à UE, a esperança média de vida aumentou bastante, a mortalidade precoce caiu vertiginosamente, o nível de qualificações dos portugueses subiu de forma exponencial, as rede de apoio social e de cuidados de saúde alargaram-se a todos os pontos do país, sem esquecer os ganhos de produtividade e o avanço tecnológico. As elites já tinham isto tudo antes.
  • Fernando
    31 mar, 2017 Lisboa 13:22
    CARLOS S. Sabes qual é a profissão de João Ferreira de Amaral? Tu, o que fazes para além de comentares matérias de que nem desconfias? Deves ser um iluminado que discute tudo e mais alguma coisa, um autêntico treinador de bancada. O JFA poderá ser unico a dizer aquilo que diz. Tu então tens muitos ignorantes a dizer as mesmas palermices que dizes. Cala-te, mantêm o País menos poluido.
  • Luis
    31 mar, 2017 Lisboa 13:16
    Como é que é possivel? É fácil. Primeiro, elites é coisa que neste país à beira mar encalhado não existem? Elites que vivem todas penduradas e dependentes do Estado não são elites. São xulos. Segundo, uma classe politica de autêntico refugo que tem mais medo de perder os privilegios que obtem da EU que o diabo tem da cruz. Terceiro, um povo que ao fim de mais de quarenta anos de "Merdocracia" ainda hoje vê a politica como vê o futebol. Apesar de ter visto delalpidar milhões de milhões em reservas de ouro, em fundos comunitarios, em privatizações e em assaltos à banca. Por isso somos vistos como os grandes saloios da Europa a que muitos acusam de bêbedos e mulherengos.
  • Lusitano
    31 mar, 2017 Lisboa 12:33
    Mais uma vez tenho que dar os parabéns ao autor do artigo acima exposto. É dos poucos, neste país que ainda tem a coragem de pensar pela sua própria cabeça e não pelo que o "rebanho", ou os mentores do mesmo, lhe ditam. Mas, sou forçado a dar os parabéns, igualmente, a todos os políticos traidores deste país, bem como aos tecnocratas e burocratas da UE, quanto ao seu trabalho de formatação e criação de uma pseudo- mentalidade europeia, que se tem revelado a todos os níveis desastrosa. Serão ainda esclarecidos, um dia, os motivos e motivações de uns e outros relativamente aos seus comportamentos e o julgamento será devidamente feito pelos povos europeus... Infelizmente, já não estamos em 1640, senão os de cá pagavam muito caro pela traição. É pena. mas também é igualmente com pena e tristeza que vejo o modo como o nosso povo é tão cobarde e medroso, ao ponto de ver o seu medo e estupidez como uma virtude, como um politicamente correcto, pensando que, se rastejar mais e melhor que os outros, consegue, quiçá, obter um biscoito maior que o do parceiro do lado. É este o nível a que chegámos, o qual, se não fosse triste, seria hilariante. Mas não é hilariante... Como é possível perder a noção de honra e dignidade como povo, perder voluntáriamente a nossa soberania, com medo de alguns sacrifícios, que já agora nos são muito presentes na nossa vida diária, só para não deixar de ter as migalhas que nos dão? Porquê esta mentalidade dependente da Europa?Antes da Europa, nós!
  • António Costa
    31 mar, 2017 Cacém 12:00
    "Um degrau de cada vez." É o bom senso popular. A UE além de ter tentado subir um "lanço de escadas" de uma vez, ainda por cima se "esqueceu" dos degraus. Acho que qualquer cidadão, já percebeu o que esta mal. As "elites" é que ainda não, parecem ter um raciocínio lento, ou será outra coisa? Por exemplo terem as mãos muito ocupadas com $$$$ ?
  • Carlos S.
    31 mar, 2017 Lx 09:28
    A única maneira que este sr. tem de se fazer ouvir é defender o que a maioria não quer. A saída da UE seria um desastre, muitos produtos importados que hoje são fáceis de adquirir, começariam a faltar porque não tínhamos euros nem dólares para os importar, o novo escudo não valeria nada. Basta ler a história de Portugal, nunca fomos ricos com o escudo, o abandono da UE seria o regresso ao isolamento do Estado Novo, ninguém nos emprestava dinheiro porque o nosso rating seria pior que lixo.