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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A integração europeia em causa

29 mar, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O colapso da UE não é uma fatalidade, se os políticos europeus ouvirem os cidadãos.

Os 60 anos da assinatura do Tratado de Roma deram ensejo, em Portugal, a violentas críticas à UE e ao euro por parte do PCP e do BE, partidos que apoiam um governo socialista pró-europeu.

E, em França, Marine Le Pen anunciou a “morte da UE”, se for eleita presidente, porque "as pessoas já não a querem".

De facto, nas últimas duas décadas, o projecto europeu perdeu apoio das pessoas. Mas o “brexit”, conjugado com a hostilidade de Trump à UE e com a agressividade de Putin (que ajuda os eurocépticos) parece ter sido um choque para muitos europeus, confrontados com a possibilidade de a Europa comunitária se desfazer. E terão percebido quanto iriam perder com isso.

Em parte, como reflexo desse choque, no domingo passado Angela Merkel obteve uma inesperada vitória nas eleições no pequeno estado alemão do Sarre. E na Bulgária as eleições legislativas foram ganhas pelo partido pró-europeu de centro-direita, contra o partido socialista, pró-Putin.

Em 22 deste mês, o partido europeísta venceu claramente, na Holanda, o partido anti-UE. Nas últimas semanas várias sondagens revelaram, noutros Estados membros, uma certa inversão na tendência eurocéptica.

Como é óbvio, nada de importante vai mudar na UE antes das eleições em França e na Alemanha. Por isso não vale a pena estar, agora, a propor modificações ao Tratado da UE, como, por exemplo, a desejável criação de um Senado com uma representação igual de deputados eleitos em cada país membro.

Mas importa que, desde já, os líderes europeus falem para os cidadãos e sobretudo ouçam as suas preocupações. É a única maneira de derrotar de vez o populismo eurocéptico. O colapso da UE não é uma fatalidade.

Comentários
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  • Eduardo Rocha
    29 mar, 2017 Lisboa 22:30
    Três citações proféticas da autoria de Natália Correia (1923-1993): 1. "A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista." 2. "Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente." 3. "As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro."
  • Eduardo Rocha
    29 mar, 2017 Lisboa 22:21
    A UE já não interessa nem aos países que mais beneficiaram com ela! A UE continuar a interessar apenas aos países parasitas e que sofrem do síndroma de Estocolmo! A União Europeia contribuiu para destruir a indústria, a agricultura e as pescas nacionais, em troca de subsídios que só tornaram os portugueses ainda mais chicosespertos e parasitas do que já eram. Por exemplo: A Alemanha está a vender pouco leite? Subsidiam-se os portugueses e gregos para desmantelarem a sua indústria leiteira. Rapidamente o mercado fica mais aliviado, porque se elimina a concorrência. Fingindo-se que se está a ajudar um país com subsídios, apenas o estão a retirar do mercado e a torna-lo num país mais dependente. A França está a vender pouco vinho? Dá-se um subsídio aos agricultores para abater vinhas. E eis que a França passa vender mais vinho. A Inglaterra está a vender pouco peixe? Mandam-se subsídios para os portugueses abaterem a sua frota pesqueira. Os países mais fracos ficam cada vez mais fracos, passam de activos concorrentes a passivos consumidores e ainda se tornam assíduos clientes do BCE, pois um país que não produz, rapidamente cai em dívidas.
  • Alexandre
    29 mar, 2017 Lisboa 19:57
    Os quatro anos em que PSD e CDS-PP (des)governaram o país, serviram para estes dividirem entre si os lugares do estado. Alguns desses lugares serviram (mal) para beneficio de privados. Ainda está para esclarecer o que se passou na Segurança Social. A maior parte dos lugares foram preenchidos por gente ligada ao CDS-PP. Quanto ao (des)governo em si, Pedro Passos Coelho prometeu não aumentar impostos, para depois basear a sua governação à custa do aumento de impostos e numa austeridade sem fim, vendendo os activos nacionais aos estrangeiros. Pedro Passos Coelho, portou-se como um colaborador da «Troika». Na nossa história, vimos colaboração desta natureza durante a perda da independência ou durante a governação de Beresford. Se Sarsfield Cabral não critica Pedro Passos Coelho, é porque votou no seu partido. Só assim se explica o seu silêncio em relação ao governo de Passos Coelho, como também o modo agressivo como ataca o governo de António Costa.
  • MASQUEGRACINHA
    29 mar, 2017 TERRADOMEIO 16:23
    Os povos europeus, mais ou menos uni-europeístas, começaram a fazer melhores contas à vidinha, sem dúvida - mas, tanto quanto me parece, o principal factor para isso foi o que se passou (e passa, e passará) com a cada vez mais ditatorial e islâmica Turquia; e com as cobras proto-fascistas (por enquanto) Polónia e Hungria que acalentámos no nosso seio; e com a Rússia, tornada novamente um "inimigo às portas" de comportamento imprevisível; e com as fagulhas que vão saltando do braseiro mal apagado dos Balcãs. Do Grande Tuítador, pouco se espera - talvez só o dedo do meio esticado a acenar-nos. Basicamente, as nações e os indivíduos temem, acima de tudo, a guerra - e não é preciso recorrer à memória documental, a grande maioria de nós decerto recorda Serajevo e Sbrenika, e tudo o resto, mesmo aqui ao lado. Pressentindo o perigo, preferimos unir-nos ao vizinho que conhecemos, ainda que não gostemos particularmente dele, do que ser atacado e enfrentar o mal sozinhos. E, de forma mais ou menos inconsciente, é muito essa prudência o que está a afastar as pessoas dos sistemas de "orgulhosamente sós".
  • Justus
    29 mar, 2017 Espinho 15:23
    Sou europeu convicto e desejo uma UE cada vez mais forte e coesa, o que não significa acordo com tudo o que na UE se tem feito, a começar pelo que respeita a Portugal. Foi um autêntico desastre, para não dizer roubalheira, aquilo que nos fizeram, com a complacência e conluio do PSD/CDS, partidos que nos governaram a mando e instruções da Troika. Emprestaram-nos dinheiro para asfixiarem e aniquilarem a nossa economia e o nosso sistema bancário, levando-os à falência. Sabemos que isto é assim porque ninguém empresta nada de graça. E também sabiam disso os políticos da altura, imberbes e com cursos que lhes foram dados por universidades que eles criaram para o efeito. Só que, como incompetentes e ignorantes, precisavam duma troika que lhes servisse de almofada e permanente desculpa dos erros que iam cometendo. Venderam-nos o nosso melhor património a chineses que antes apontavam como diabos e a outros estrangeiros. Levaram todo o nosso sistema bancário à ruína e nada conseguiram no tocante à baixa do défice e da dívida pública, esta, aliás, subindo assustadoramente. Depois do fracasso rotundo andaram ainda um ano a fazer diagnósticos errados, tentando esconder o sucesso duma política diferente. E, no fim de tudo, ainda vêm dizer que somos uns pedintes indesejáveis e desprezíveis, porque gastamos tudo em "copos e mulheres". Aprende Passos Coelho, porque o que foi dito é mesmo para ti. Deram-te dinheiro e tu esbanjaste tudo em copos e mulheres. O servilismo dá nisto: arrogância.
  • António Costa
    29 mar, 2017 Cacém 11:07
    É o centro de tudo. O maior desafio dos nossos tempos. "...não é uma fatalidade..". Se "os problemas" não são uma fatalidade, vamos tentar "melhorar". Com ideias. Com soluções. Soluções de "esquerda", de "direita" ou de "centro", não interessa! Agora "parados no tempo", sem reagir, sem nada fazer, apenas a "repetir" regras e regras, porque "está escrito". Isso não! Fatalismo, "não obrigado".
  • Miguel Botelho
    29 mar, 2017 Lisboa 09:40
    E porque não escrever acerca daqueles que desconfiam ou são contra a UE? Será porque a UE é assim tão boa para viver? Será porque viver na UE, significa menos opressão e pressão financeira de estados (como a Alemanha)? Será porque um país, como Portugal, tem de viver consoante os desejos e as perspectivas de um tal de Wolfgang Schäuble, o tal que disse «Certifiquem-se de que não precisam de resgate»?