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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Um país, dois sistemas?

27 mar, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


As aspirações democráticas de Hong Kong são cada vez mais frustradas pelo Presidente da China.

Hong Kong, onde vivem mais de 7 milhões de pessoas, elegeu ontem a nova chefe do executivo daquele território autónomo da China. “Elegeu” não é a palavra certa: Carrie Lam foi escolhida por 777 votos num restrito comité de 1200 membros, os quais foram por sua vez nomeados por um conjunto de personalidades locais e por um quarto do eleitorado total de Hong Kong. Até os candidatos ao cargo de líder político do território têm de ser previamente aprovados por aquele comité.

Este complicado sistema tem apenas um objectivo: garantir que o governo de Pequim seja quem, de facto, designa o chefe do executivo de Hong Kong, não obstante ter sido previsto o sufrágio universal quando a administração do território passou da Grã-Bretanha para a China em 1997.

A aspiração democrática é forte em Hong Kong, em grande parte por influência britânica. Em 2014, os protestos contra a interferência de Pequim em Hong Kong duraram 79 dias – sem resultados visíveis.

Pelo contrário, em Macau, que transitou da administração portuguesa para a chinesa em 1999, a população de pouco mais de meio milhão de habitantes não mostrou grande interesse pela democracia política.

Aliás, antes e depois do 25 de Abril quem mandava realmente em Macau era a China, que por várias vezes obrigou os representantes portugueses a recuos humilhantes.

Em Janeiro, o Presidente chinês, Xi Jinping, foi ao fórum de Davos defender o comércio livre contra o proteccionismo, ou seja, contra Trump já eleito. Mas em matéria de direitos e liberdades, a começar pelos direitos políticos, Xi Jinping é mais repressivo, ainda, do que os seus antecessores. Por isso, não é de esperar qualquer avanço democrático em Hong Kong.

O que põe em causa o princípio “um país, dois sistemas”, que teoricamente se aplica a Hong Kong e Macau, bem como a Taiwan (Formosa). Só que a ficção quanto a Taiwan não é a democracia, que ali funciona e é estimada pelos seus 24 milhões de habitantes, mas a pertença à República Popular da China.

Comentários
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  • JP
    28 mar, 2017 Cegões 08:22
    Que saudades da assembleia nacional. Não é verdade sr Cabral? Sr. Cabral os povos têm o direito de escolher o regime que querem se estão mal existem as revoluções. No seu tempo até faziam excursões à capital para apoiar o regime. De manhã eram deixados no cais das cebolas, abriam o farnel composto por azeitonas, broa e 5 litros de tintol. À tarde iam dar vivas ao líder adorado. Ainda há gente que nada fez para mudar o regime e que hoje ainda sentem saudade.
  • maria
    27 mar, 2017 lisboa 18:42
    O regime da china comunista é repressivo , anti-democratico, prende os seus opositores, não há liberdade de expressão , espanta-me a ignorância do Sr justos ( o colegio eleitoral dos estados unidos para nós é estranho mas é democratico)
  • Justus
    27 mar, 2017 Espinho 15:14
    Para S. Cabral os direitos, liberdades e sistema democrático tem que ser aquele que ele idealiza e gosta de defender, ou seja, tudo aquilo que vá de encontro aos seus interesses e aos interesses dos que seguem o mesmo ideal. Só é democrata e tem regime democrata quem ele entenda. Que dizer então da maioria dos países que se entende terem regimes democratas mas que têm sistemas eleitorais diferentes, a começar pelos EUA? O Presidente dos EUA não é eleito por um colégio eleitoral constituído maioritariamente por quem teve uma minoria de votos dos eleitores? E em Portugal? O partido que teve mais votos relativamente aos outros não governa, porque, no nosso sistema eleitoral as eleições legislativas não são para escolher o governo mas, pura e simplesmente, para escolher deputados para a Assembleia de República. Esses deputados e os partidos que eles representam é que vão eleger o governo. Daí a mentira inúmeras vezes repetida pelos partidos da atual oposição e seus seguidores dizendo que ganharam as eleições. Perderam-nas, esta é que é a verdade nua e crua. Porque no nosso sistema eleitoral as eleições ganham-se ou perdem-se no parlamento, onde se formam as maiorias.A atual oposição e seus seguidores, como S. Cabral, fazem-se de estúpidos. Só que a maioria dos portugueses não é estúpida nem se faz de estúpida, por isso está a governar de acordo com sistema eleitoral vigente. Hong Kong tem também o seu sistema eleitoral. Não é aquele que S. Cabral queria, mas é o que ali existe
  • Manuel Fernandes
    27 mar, 2017 Barreiro 14:07
    Também em Portugal vivemos num país dois sistemas sem que o articulista manifeste qualquer preocupação com o assunto. Os cidadãos insulares elegem 3 níveis de Poder Local como estipulado no art. 246º da CRP de 1976. Já os desgraçados dos Continentais só elegem dois, porque ainda não atingiram a maturidade para mais. E se a não eleição dos 3 níveis do Poder Local já constitui um atentado à CRP que o PR jurou cumprir e fazer cumprir, deixa violar também o artº 13º que no seu número 1, estipula que os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Para FSC isso é pouco importante. O que importa são os chineses.
  • António Costa
    27 mar, 2017 Cacém 10:50
    A China não é o Reino Unido. Não é a mesma coisa. A China tem mais de 1 000 milhões de pessoas. Só no século passado, "viveu" a ocupação europeia as famosas "concessões", a terrível invasão japonesa e uma sangrenta guerra civil. A China e a "filosofia" chinesa influenciaram a Cultura Europeia de uma maneira sem precedentes e ainda hoje muito mal compreendida ( Ver a "mensagem" do Antigo Testamento vs Novo Testamento, e podemos observar neste último muitas influências de "bom senso" Budista, é a minha opinião ) .
  • O país da diversão
    27 mar, 2017 Lisboa 10:25
    Não percebo porque razão falar em Hong Kong se temos outros exemplos mais perto. O atual presidente do EUA teve menos votos que Hillary Clinton, que democracia é esta? Cá também o principal poder não resulta de eleições populares e parece que ninguém questiona isto! Não podemos falar dos outros e não sermos muito diferentes dos outros. Fala-se muito neste país, mas pouco no que realmente é importante.