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Conversas Cruzadas - Dijsselbloem e as reacções - 26/03/2017

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Costa "fez a Dijsselbloem o mesmo que a Teodora ou ao BdP", diz Álvaro Almeida

26 mar, 2017 • José Bastos


"O primeiro-ministro fez a Dijsselbloem o mesmo que a Teodora ou ao BdP", diz Álvaro Santos Almeida. "Tese de Disselbloem é visão errada”, diz Luís Aguiar-Conraria.

“Nós temos, pelos vistos, o único primeiro-ministro na Europa a pedir a demissão de Jeroem Dijsselbloem, assim decorre da imprensa internacional - ou seja, a solicitar o afastamento de uma instituição europeia do único responsável de topo que é da família política do Partido Socialista”, sustenta Álvaro Santos Almeida, no Conversas Cruzadas, na análise à polémica metáfora do presidente do Eurogrupo na entrevista ao “Frankfurter Allgemeine Zeitung”.

“Ver António Costa a fazer o jogo do Partido Popular Europeu - PPE que aproveita a oportunidade de se livrar do único socialista num lugar de topo europeu - é sinal de que para António Costa não há solidariedade política, não há interesse nacional que se sobreponha à vontade mesquinha de vingança pessoal”, diz o economista.

“Vingança pessoal foi o que António Costa fez com Jeroem Dijsselbloem, foi isso que fez com Teodora Cardoso, foi isso que fez, e está a fazer, com Carlos Costa. Esse aspecto é aqui o mais grave desta polémica: ter um primeiro-ministro que se rege por vingançazinhas pessoais atacando toda a gente que não faz a festa com ele”.

Antes ainda de criticar a gestão do primeiro-ministro na “polémica Dijsselbloem”, Álvaro Santos Almeida diz ser preciso distinguir pontos prévios: “a boçalidade sem sentido” da frase e a tese de que se gastou exageradamente nos países do sul“. Importa referir a boçalidade da expressão utilizada pelo sr. Dijsselbloem. É altamente infeliz e ninguém concorda com uma expressão desta natureza aludindo a ‘gastar dinheiro com copos e mulheres’. É algo que não faz sentido nenhum. Esta é uma parte da análise”, afirma o antigo quadro superior do FMI, em Washington.

“Outro aspecto é a ideia de que houve gastos exagerados nos países do sul. E aí, não sei como se pode, ao mesmo tempo, estar a analisar a Caixa Geral dos Depósitos e os empréstimos feitos e não concordar com a substância da afirmação do sr. Dijsselbloem. Como se pode falar do Parque Escolar e não pensar nessa afirmação”, diz.

“Obviamente que houve gastos exagerados quanto mais não seja ao abrigo do critério básico - o primeiro de todos - que é gastar em função daquilo que se têm. Por definição, se temos défice e se temos dívida é porque se gastou mais do que se tinha. Por definição é assim. Portanto quanto a isto não há qualquer tipo de dúvida”, afirma Álvaro Santos Almeida.

“Terceiro ponto: a reacção às declarações do sr.Dijsselbloem que me parece perfeitamente despropositada. Se todos os responsáveis políticos que utilizam expressões boçais fossem demitidos o que deveria ter sido feito ao ministro da "feira de gado"? Augusto Santos Silva devia ter sido demitido”, diz.

“Achei ridículo que o mesmo ministro que usa, ele próprio, a expressão "feira de gado" - também uma expressão infeliz - e não se demitiu, nem o primeiro ministro o demitiu, tenha vindo exigir a demissão de alguém que também usa uma expressão infeliz e pela mesma razão”, critica o professor de economia da Universidade do Porto.

Luís Aguiar-Conraria contrapõe: “Mas Augusto Santos Silva pediu desculpa na primeira oportunidade que teve” com Santos Almeida a retorquir que “Jeroem Dijsselbloem também pediu desculpa. Foi como Augusto Santos Silva”.

“Não. Não pediu”, insiste o professor de economia da Universidade do Minho. “Na primeira oportunidade que teve para o fazer, claramente não pediu. E, depois, veio dizer um 'se alguém se sentiu ofendido, então...' e isso não é um pedido de desculpa formal. Isso é eu dar-te um murro e dizer desculpa se te magoei. Isso não faz sentido”, diz Luís Aguiar-Conraria.

Luís Aguiar-Conraria: “É errada a tese de Dijsselbloem”

Já Luís Aguiar-Conraria diz ser importante debater se a metáfora de Jeroem Dijsselbloem representa mais que uma metáfora infeliz. “Quanto ao machismo das declarações, a falta de oportunidade tudo isso é óbvio e estaremos todos de acordo que foi muito infeliz, mas o que interessa mais é discutir se este discurso representa a forma como somos olhados pelo cidadão europeu médio da Europa do Norte”, afirma o economista.

“Para nós a possibilidade é, de facto, assustadora, e faz lembrar as palavras de Wolfgang Schauble, a semana passada, o 'vejam lá se não precisam de resgate' porque, de facto, estes países parecem estar a perder a paciência connosco”.

“Agora se deixar de lado a parte da forma e centrar na substância acho também que as declarações de Dijsselbloem também são criticáveis. Esquecendo a frase "as mulheres e a aguardente", esta tese de que se andou a malbaratar dinheiro e - está aqui implícito - que bastava não termos esbanjado dinheiro para os problemas estarem resolvidos, constitui uma visão muito errada dos problemas que a Europa tem. Para resolver os problemas não basta agora, de repente, passarmos a gastar menos dinheiro. Se assim fosse a austeridade tinha resolvido os problemas em Portugal e não resolveu”, faz notar Luís Aguiar-Conraria.

“Não resolveu? Resolveu os problemas do défice”, interpela Álvaro Santos Almeida. “Não. Não resolveu”, responde Luís Aguiar-Conraria. “Continuamos com um crescimento económico baixíssimo e com este crescimento o rácio da dívida pública não vai baixar de forma substancial. Os problemas não se resolvem só com austeridade. Não se resolvem só não esbanjando dinheiro”, diz o professor de economia da Universidade do Minho.

Daniel Bessa: “Louvar-me-ia em Jaime Gama, grande senhor do socialismo”

Já na análise à metáfora da polémica Daniel Bessa relembra que “algumas das maiores complicações em que me meti na vida tiveram a ver com piadas e com exercícios de humor. Às vezes está a correr tudo muito bem e depois eu resolvo meter a minha graça e acabo por estragar tudo”, diz o antigo ministro da economia.

“O sr. Dijsselbloem ia muitíssimo bem na entrevista. O que é que o sr. Dijsselbloem diz? Ponto um: que os povos do Norte não falharam na ajuda e que esperariam dos povos do Sul o reconhecimento e o contributo para que as coisas se corrigissem. Acho tratar-se de uma declaração inatacável. Depois... deu-lhe para a graça e o sr. Dijsselbloem estragou tudo”, afirma Daniel Bessa.

“Mas, por mim, louvar-me-ia num grande senhor do socialismo português. A malta da esquerda - hoje em dia - diz que eu estou muito à direita, mas eu louvar-me-ia num grande senhor do socialismo luso por quem o maior respeito e a quem sempre tirei o meu chapéu. Trata-se de Jaime Gama”.

“Nas 'Conversas à Quinta', promovidas pelo jornal Observador, Jaime Gama disse - e eu nem precisaria de ir tão longe - que estávamos na presença de um bom presidente do Eurogrupo e que teve um momento infeliz. Nisso estaremos todos de acordo”, conclui Daniel Bessa.

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  • Pois é oh j.Lopes
    28 mar, 2017 O tal do R.Q.T.Pa-ta 11:39
    P- os defensores Je. Dijsselbloem, que pelos vistos devem ser todos uns lambe botas deste sujeito, do shauble e quejandos... porque é que toda a austeridade a que os portugueses, uns mais do que os outros, claro, não resolveu a crise? Foram cortes na saúde, até ao ponto de morrer gente à míngua por falta de condições, foram aumentadas horas de trabalho gratuitas, corte de feriados, cortes nos subsídio e perda de direitos, até agora estão congelados os salários da função pública, e nem todos estão vivendo à grande, como muitos querem fazer parecer, muitos trabalhadores da f.pública vivem na precariedade também. O que seria dos muitos trab. do público se dependessem do privado, pois é este que muitas vezes nem trabalho se tem para dar, só sabem é malhar na f.pública e por todos no mesmo saco. Critiquem o mexias e de quem lhe dá por dia mais de 5 mil e quinhentos Eu. Foram 4 anos de austeridade e o de fazer empobrecer sem olhar a meios, retirando a dignidade a muitas famílias, mas para estas bestas que comentam aqui, todos fascistas do psd/cds, isto passa ao lado, o povo está cansado de austeridade, mas ainda assim há que dar a razão a este monte de estupidez, que nem acabou o mestrado, e vive na parasitagem da politica europeia. Assim se vê a personalidade desta gente, que nem para defender o seu país, ainda abaixem as calças a um idiota como este. Tenho vergonha de vocês. NOJ--TOS! Não é J.Lopes, Eborense e quejandos, vocês já são conhecidos como o cão da má cara...
  • Carlos Vieira
    27 mar, 2017 Porto 22:13
    Substantivamente, muito bom. Como sucede com quase todos os programas da RR. Passa muito ao lado do "castrador politicamente correcto" e daí, também, o enorme interesse que tem para quem não se conforma o marasmo reinante ou a propensão, por alguns ambicionada, de uma certa unicidade de pensamento. Concordo, especialmente, com a opinião do prof. dr. Álvaro S. Almeida sobre o momentoso caso criado pelas infelizes e censuráveis palavras do presidente do Eurogrupo. Tenho pena de não conseguir passar o programa a "link" para difusão pelos meus contactos.
  • António
    27 mar, 2017 Portugal 16:56
    O cidadão honesto e trabalhador não se sentiu ofendido porque a afirmação é para quem governou o País. Só se sentiu ofendido quem teve culpa na situação. O sr a costa sentiu-se ofendido? É natural porque fez parte do governo da bancarrota. O pessoal do bloco sentiu-se ofendido? É natural, apoiam quem levou o País à bancarrota. Eu estou de consciência tranquila e gostei que alguém dissesse a verdade a essas pessoas que prejudicaram o País.
  • Manel Almeida
    27 mar, 2017 Almeida, Guarda 12:03
    Almeida...quem? Quem é?
  • Amigo de Jeroem
    26 mar, 2017 Lisboa 23:31
    Meu caro Jeroen Dijsselbloem, Nós não gastamos o dinheiro só em mulheres e álcool. É verdade que gostamos muito de estar com mulheres mas costumamos tê-las de borla. Quer dizer, não fazemos como na Holanda, o teu país, que tem o maior número de prostitutas por metro quadrado em todo o mundo e até as põe à venda em montras. Aí é que se gasta muito dinheiro mal gasto em mulheres. Fica a saber que os gajos mais bêbados que conheci em toda a minha vida foram dois holandeses lá para os anos 80, que costumavam acampar na Barragem de Castelo de Bode e apanhavam um pifo que durava quinze dias. Mas eram admiráveis porque ao fim da tarde atravessavam a barragem a nadar de costas, completamente bêbados, e não chegaram a morrer. De mulheres parece-me que não gostavam muito. Devia ser para pouparem dinheiro para a pinga. Mesmo assim, é melhor gastar dinheiro em vinho do que em haxixe ou outras drogas, como no teu país. Nós não temos cá desses cafés onde se podem fumar umas ganzas em liberdade, mas temos umas belas tascas com mesas de mármore onde se bebem uns copos de três, se joga à sueca e canta à alentejana. És do Partido do Trabalho mas trabalhas pouco. Há quase 20 anos no Parlamento da Holanda, depois no Parlamento Europeu e agora como Ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, também temos cá vigaristas.. Depois, li por aí que não conseguiste acabar o Mestrado mas que te intitulaste Mestre até seres apanhado. Tu estudaste economia agricola, porque não vês se estão maduros???
  • JC Andorinha Meixedo
    26 mar, 2017 Lisboa 23:13
    O presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem desconhece os costumes no seu proprio pais sobretudo em Amsterdam: um pais cheio de prostitutas a exibirem-se nas vitrinas, um pais onde a droga é comercializada sem qualquer problema, um pais onde as maiores empresas da Europa estabeleceram ai a sede para pagar menos impostos nos seus respectivos paises (19 das 20 do PSI20 no caso português ...), um pais que não quer comprar nada aos outros, mas quer impor ao resto da Europa os seus produtos e os seus juros altos assim como a Alemanha de Schaüble ... Os paises do Norte assim como os paises germanicos so olham pelos proprios interesses economicos e so querem ver afundar-se novamente as economias do sul, ... Existem lobbies fortes atras disso tudo, interessados no colapso dos paises do sul ... So que a Espanha e Portugal estão a levantar-se novamente com alguma força (o défice baixou, o desemprego também e o PIB esta a subir). As agências de rating cumplices continuam a arrasar com falsidade os paises do sul ... Estão interessados, é sim, na mão de obra barata do sul da Europa e sobretudo nos juros altos impostos aos do sul ... No entanto, assim como em França, os politicos portugueses, espanhois, italianos e gregos continuam envolvidos em varias casos de corrupção e negocios sujos. Esses sim, politicos, nunca contribuiram directamente ao melhoramento da economia, são as empresas e o desempenho dos funcionarios/povo que enriquecem o pais. Mas é enfim o que fica na mente dos do norte....
  • João Lopes
    26 mar, 2017 Viseu 21:11
    Concordo com Álvaro Almeida: o mais grave desta polémica é «ter um primeiro-ministro que se rege por vingançazinhas pessoais atacando toda a gente que não faz a festa com ele».
  • Negociante
    26 mar, 2017 Gado 20:28
    Claro que alguém afirmar "não posso gastar tudo em alcool e mulheres e depois pedir ajuda" em sentido figurado, e só enfia a carapuça quem acha que serve, é muito mais grave que um ministro referir-se directamente aos parceiros sociais como "uma feira de gado"... Haja decência....
  • Urgel Soares
    26 mar, 2017 Carregosa 19:40
    Eh pa a carga de cavalaria pesada da direita ressabiada (almeida santos e daniel bessa) reduz a fumo e cinzas o socialista democratico luis aguiar
  • Ofelia Patro
    26 mar, 2017 Lisboa 19:07
    A escola da hipocrisia é parte integrante do político nacional. Todos eles, sabem que o homem tem razão. As suas declarações são inatacáveis, defende a solidariedade e faz a ressalva de que, essa solidariedade tem regras e obriga a determinadas políticas. A história do vinho verde, não passa de uma imagem, para colorir a mensagem. A mensagem está correcta e é a verdade. Quem recebe ajuda, não deve estranhar que lhe exijam determinadas acções. O alarido só existe porque a narrativa nacional é de que temos direito a viver consumindo mais do que produzimos, sem preocupações especiais.Lá estarão os europeus para tapar o buraco (3 mil milhões/mês, mais ou menos) ........ É a pouca vergonha institucionalizada, vivem à conta e ainda se ofendem com o pato que paga a conta............(lembrar ainda o episódio do finlandês que interpelou Passos Coelho, no Funchal, e o avisou: "veja lá se não vamos ser nós lá em Helsínquia a pagar a conta desse jantar!"....