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Em Nome da Lei - O caso da bebé retirada à mãe- 25/03/17

Em Nome da Lei

Pobreza, risco de vida ou negligência? Porque retira a justiça o bebé a uma mãe de Matosinhos

25 mar, 2017


Mãe que não dava de mamar nem mudava as fraldas ficou sem o filho. Jovem de 23 anos tenta recuperar a criança sem sucesso. Protecção de Menores entende que a recém-nascida corre risco de vida.

Há mais de um mês que uma jovem mãe de Matosinhos tenta recuperar o filho recém-nascido, colocado numa casa de acolhimento pela Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR, antiga CPCJ). O bebé nasceu em Fevereiro, no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. Foi retirado à mãe, uma estudante de 23 anos, alegadamente porque esta não acordava de noite para dar de mamar. Nem sabia mudar fraldas.

A comissão de protecção de menores de Matosinhos interveio, a pedido do hospital. A mãe assinou um consentimento a permitir o acolhimento do filho. Mas, um dia depois, quis voltar atrás na sua decisão e recuperar o bebé. Sem sucesso.

No debate do programa Em Nome da Lei deste sábado, o advogado da mãe promete apresentar queixa-crime porque considera que está em causa “uma situação de sequestro”. Aníbal Pinto explica que o bebé tinha de ser entregue à mãe, a partir do momento em que ela revoga a decisão de o institucionalizar. Em alternativa, a CNPCJR tinha de decretar “uma situação de perigo comprovado”, o que não foi feito.

José Matias de Sousa, director executivo da CPCJ, diz que o procedimento da estrutura de Matosinhos “foi ética e deontologicamente correcto, tendo de resto sido validado pelo Ministério Público”. No entanto, admite que a CPCJ de Matosinhos “nunca chegou”, de facto, “a declarar a situação de perigo, uma vez que a mãe a mãe assinou o consentimento”.

José Matias de Sousa diz que a CPCJ foi chamada pelo Hospital Pedro Hispano, cujo relatório médico é inequívoco “quanto fala em perigo de vida para o bebé”. Recusa dar mais detalhes, alegando que “não é médico e o processo está em segredo de justiça”.

A CPCJ nega que as difíceis condições económicas em que vive a mãe do bebé tenham pesado na decisão de lho retirar. “Em nenhuma circunstância a pobreza pode ser justificação”, garante José Matias de Sousa.

A argumentação da CPCJ é contestada pelo advogado da mãe. Aníbal Pinto sublinha que a sua cliente vive com mãe, sobrevivendo ambas com uma pensão de pouco mais de 300 euros. O advogado afirma que “em situações de carência, o Estado dá às famílias um subsídio de 30 euros, mas às instituições que fazem o acolhimento das crianças paga 800 euros. Por isso, há quem suspeite da existência de um negócio do acolhimento.”

Aníbal Pinto afirma que a Comissão de Protecção de Matosinhos “não defendeu o superior interesse da criança quando separou um recém-nascido da mãe num período fundamental para a vinculação”. A opção correcta, diz, “se havia perigo, era encontrar uma casa de acolhimento onde mãe e filho pudessem ficar juntos”.

O advogado argumenta ainda que o bebé já está perfilhado e que “o pai também reclama o bebé e tem condições para o acolher”.

A CPCJ “nega que o pai tenha reclamado a criança. E admite que também ele possa não ter condições para ficar com o filho”. O advogado Aníbal Pinto desmente e diz, “que todos os pais beneficiam de uma presunção de capacidade, a não ser que tenham sido sinalizados, o que não aconteceu”.

A advogada de direito da família Cristina de Sousa diz que casos como este têm de ser abordados “com calma e ponderação”, até porque há aspectos do caso que estão em segredo de justiça. A jurista “não acredita que perante um caso tão delicado, as entidades de protecção não tenham actuado no estrito cumprimento da lei”.

Comentários
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  • Vasco
    27 mar, 2017 Santarém 22:24
    Pelo relato da situação o que mais parece evidente é que quem deveria ter sido institucionalizado seria a mãe com o filho para aprender a ser mãe e adulta e responsável porque se é verdadeiro o que se relata é mais do que evidente que essa menina nunca deveria ter sido responsabilizada em casa para aprender um pouquinho da vida ou então é mesmo burra e casmurra o que também há muito disso por aí.
  • otário cá da quinta
    26 mar, 2017 coimbra 12:44
    Sra. CATARINA, gostei do seu comentário e não deixa de "TER" alguma razão, mas acha que prevenir é enforcar de imediato o possível assassino ? Então estamos na presença de outros assassinos, não será ? EU NÃO SEI COMO FORAM DESCOBRIR que a mãe não amamentava e não limpava o bebe durante a noite, O QUE PODE TER A CERTEZA QUE É NORMAL COM TODAS AS MÃES, PODE TER A CERTEZA, mas se lá descobriram isso, não seria dever em primeiro lugar, conversar, fazer ver à mãe, enfim, ACORDAR para a realidade da vida, que era mãe daquele bebe e como mãe, mais tarde ou mais cedo sairia da penumbra e de todo desejaria o que criou dentro de si e que É SEU, MAS É MESMO SEU, que seria um TERRIVEL PECADO DE REMORSO para toda a sua vida, entende ? Isto que se passa aqui em Portugal, pelo que se vai vendo e como somos bons a copiar, é uma cópia do que se passa em Inglaterra. OLHE E ISTO COM CRIANÇAS É TAL E QUAL COMO ESSES SACANAS QUE SÃO APANHADOS A TRAFICAR PESSOAS PARA SEREM ESCRAVIZADAS, DE TODAS AS MANEIRA.
  • Catarina
    25 mar, 2017 Lisboa 19:38
    A pessoas estão de facto a defender uma mãe que não amamenta um recém-nascido durante a noite? Não sabem a frequência com que eles têm de ser alimentados, quanto mais passar fome uma noite inteira? Ainda por cima uma criança com fome durante a noite chora. E isso quer dizer que a criança chorou noites inteiras sem que a mãe sequer tentasse acalmá-la (porque se tivesse tentado a primeira coisa que fazia era dar-lhe leite). É por causa destas notícias que procuram puxar a lágrima que se fazem escândalos onde só há precaução. Depois quando aparecem crianças mortas ou vítimas de maus-tratos criticam todos as instituições por não terem actuado a tempo. Decidam-se. Ou se previne ou se age tarde demais.
  • Tiago
    25 mar, 2017 Faro 17:46
    Não sei de que lado ficar mas que existe por ai muito casal ou mãe solteira maluquinha e totalmente irresponsável existe. Tazlvez a crinaça fique melhor na instituição.
  • Bela
    25 mar, 2017 Coimbra 16:34
    «O advogado afirma que “em situações de carência, o Estado dá às famílias um subsídio de 30 euros, mas às instituições que fazem o acolhimento das crianças paga 800 euros. Por isso, há quem suspeite da existência de um negócio do acolhimento.”» Será só negócio de acolhimento? Uma criança não é propriedade dos pais, mas faz-me parecer que há muita gente interessada em aproveitar-se, do facto de as famílias por vezes não terem recursos. Sou de opinião que as autoridades competentes deveriam averiguar o destino que algumas dessas crianças levam.
  • otário cá da quinta
    25 mar, 2017 coimbra 16:16
    Eu, honestamente, nem acabei de ler na totalidade esta noticia, mas o que me apraz dizer sobre esta questão e muitas outras, é que creio que estamos na presença de um negócio de seres humanos, como se vulgares animais se tratassem. Esta jovem mãe teve um filho e com certeza para o ter, esta criança também teve de ter um pai, porque a mãe não é de certeza a VIRGEM MARIA. Portanto, deve haver mais alguém que deve ter direito à criança, a começar pelo pai e depois seus avós, tios, etc.. Com certeza que a mãe num ato de desespero, ou muito influenciada por esses/as negociantes de crianças, caiu em autorizar que o bebe fosse acolhido numa instituição. A questão da mãe não acordar de noite para mudar fraldas, etc., não é razão para que a criança lhe seja retirada e até gostava de saber se as pessoas que ordenaram o roubo (?) do bebe, se têm filhos, se nunca os tiveram borrados e sobretudo durante a noite. HIPÓCRISIA. Mas se vamos pela questão de não haver condições económicas, então porque é o ESTADO que paga a essas instituições para acolherem essas crianças e antes NÃO DEVERIA DAR UM SUBSÍDIO ,PARA ALÉM DO ABONO DE FAMILIA, para que estes pais criassem o seu próprio filho, porque é com os verdadeiros pais que eles devem ser criados e não andar a encher a barriga a negociantes de crianças. Creio que quem adota crianças, fica a receber um subsídio ( não sei se é verdade), então porque não é dado aos legítimos pais ? A MÃE ESTÁ ARREPENDIDA, QUER O QUE É SEU, PORQUE LHE DEU VIDA.
  • diogo
    25 mar, 2017 oeiras 15:19
    Diz o artigo que a CPCJ «nega que o pai tenha reclamado a criança» de seguida diz «que admite que ele pai também não tenha condições de ficar com o filho». Isto tudo é fenomenal, admitem não o sabem, se o admitem é por falta de meios económicos, ou porque outros motivos, falta explicar, para nós o sabermos. Digo isto pois se o (os) dão a famílias de acolhimento a troco salvo erro de 800 euros porque não dar aos pais esse dinheiro assim sempre a criança fica no seio da família. A não ser o que me custa a acreditar, que seja um grande negócio que ande por ai. Mas isto pensamento meu acho que está fora de questão, pessoas tão bem intencionadas que seu objetivo seja único e só mesmo único proteger as crianças fizessem uma coisa destas. Claro que me refiro ficarem com os pais ou só com um deles aquando o problema mesmo for falta de verba para os sustentar.
  • mariajulia sampaio
    25 mar, 2017 arcozelo... vila nova de gaia 14:35
    boa tarde ouvi o vosso debate continuo com o meu coraçao apertado desde que em fevereiro conheci esta triste noticia....nao sei como isto e possivel....tirar um filho a uma jovem mae logo que nasceu....isto e um roubo...que ninguem tem o direito.....e pobre ajudem mais... nao sabe lidar ensinem....roubaram um pedaço de alma daquela menina....por favor tenham AMOR que e o que vos falta. espero portudo que acabe bem...parabens a renascença...maria julia...
  • desatina carreira
    25 mar, 2017 queluz 14:29
    suspeito?
  • Maria
    25 mar, 2017 Lisboa 14:07
    À instituição dão 800 euros? Indícios de rapto e crime. Pobreza não justifica e inexperiência também não que se separe mãe de um filho. Que consciência terão as pessoas que permitem isto? Por muito mais não se retiraram crianças a tempo, e por tão pouco se tiram logo as crianças. Se a jovem mãe precisar, tudo se arranja, peça e arranjamos enxoval. Não desista do seu filho.