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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​O crédito malparado da CGD

24 mar, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Helena Garrido chama a atenção para os riscos de o malparado da CGD ser sobreavaliado.

Os portugueses continuam à espera de uma auditoria independente à Caixa Geral de Depósitos, que indique os motivos de tanto dinheiro dos contribuintes ter sido perdido pelo banco público no passado recente. Negócios falhados, crédito malparado, influências políticas – tudo isso mais tarde ou mais cedo deve ser esclarecido.

Entretanto, sobre o crédito malparado da CGD Helena Garrido, uma destacada analista da nossa vida económica e financeira, levantou no “Observador” uma questão pertinente, que eu ainda não tinha visto referida.

O cálculo das imparidades (perdas prováveis) da CGD mudou. Ao contrário do critério de avaliação usado para a banca portuguesa até há pouco (assente na continuidade do negócio), na CGD agora avaliaram-se as imparidades como se os créditos malparados tivessem de ser vendidos de imediato. Claro que isto fez subir o montante do malparado na CGD.

O que tem as suas vantagens, ao limpar de vez o passado. E, como escreve H. Garrido, “precisando a CGD de um aumento de capital, então o melhor é elevar esse valor ao máximo possível”, para não ter de repetir o processo.

Mas há aqui um risco sério. Explica H. Garrido: “a desvalorização excessiva dos créditos gera margem para os devedores pagarem muito menos do que aquilo que devem e para as empresas que compram crédito malparado fazerem bons negócios”. E até pode acontecer que um eventual “banco mau” possa ter lucros ao vender créditos da CGD a preço superior ao preço que pagou pela sua aquisição. Isto à custa de todos nós, contribuintes.

Esperemos que a administração da CGD e o Governo não cedam a essas tentações. O alerta de Helena Garrido contribui para estarmos atentos a este perigo.
Comentários
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  • silva
    25 mar, 2017 coimbra 10:50
    Claro que pagaremos tudo o que for necessário , perante famílias politicas e, administradores , decisores absolutamente impunes. Não esquecer que a CGD passou a dar prejuízos desde que os políticos ali meteram a mão e não por outra razão qualquer. Essa impunidade levou ao esbanjamento de milhões oferecidos pela CEE , á destruição das pescas e da agricultura, por exemplo e á actual bancarrota em que se encontra Portugal. Foram as medíocres e corruptas elites que nos tem governado que nos puseram no fundo e nesse fundo, o que aconteceu á excelência desses gestores ? O que pagam eles do prejuízo causado a todos nós ? Nada. Só uma mudança drástica de regime, coisa que surge como impossível e uma opção pela seriedade , competência e honestidade política como valores essenciais poderiam mudar os rumos e colocar o país noutro caminho. Continuando a "bagunçada" de alguns só mudam as intenções...a asneira mantem-se. Basta acompanhar um pouco um parlamento eticamente falido , em termos de conhecimento nulo , e democraticamente comprometido para ter pouca esperança num futuro resgatado neste crime compensa em que vivemos.
  • Humberto
    25 mar, 2017 Lisboa 06:19
    Helena Garrido esqueceu se foi de referir que esta também é uma forma das administrações apresentarem lucros mais depressa. Provisiona se o maximo, aumentam se as comissões, despedem se pessoas/fecham se os balcões e vendem se activos. Uma fórmula usada no Lloyds e desenhada pelos grandes estrategas e gestores brilhantes. Daqui a um ano estamos a canonizar o Paulo Macedo por ter feito a Caixa dar lucros outra vez. A emitir dívida a quase 11%, estas provisões serão uma benção e os jornalistas menos atentos ou enviesados proclamarão o milagre na Caixa. Está tudo dito.
  • de mal a pior!
    24 mar, 2017 Santarém 22:18
    A CGD não esteve melhor que os bancos privados nas trafulhices que fez, para quem defende a banca nacionalizada como imaculada foi um grande tiro no pé!.
  • Manuel
    24 mar, 2017 Setubal 19:07
    Eu tambem gostaria de saber quem sao os verdadeiros caloteiros, mas pelos vistos alguem nao os quer revelar, porque sera ?
  • Amaral
    24 mar, 2017 Aveiro 09:28
    Eu quero é saber quem são os grandes caloteiros, isso é que importa mas pelos vistos não interessa revelar.Porque será?