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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​De terrorista a obreiro da paz

23 mar, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Foi guerrilheiro e líder do IRA, mas McGuiness passou a construtor da paz na Irlanda do Norte.

Vai hoje a enterrar Martin McGuiness em Londonderry, na Irlanda do Norte (Ulster). Este homem foi um militante terrorista, responsável por muitas mortes. Chegou a ser líder do IRA (Exército Republicano Irlandês).

Mas depois disso tornou-se um infatigável obreiro da paz na Irlanda do Norte. O chamado acordo de Sexta-feira Santa (1998), em cujas negociações McGuiness participou activamente, pôs fim ao longo e sangrento conflito entre protestantes e católicos no Ulster. Há dois meses McGuiness demitira-se, por doença, do governo autónomo do Ulster, integrado pelo Sinn Fein e pelo partido unionista, pró-britânico. Era vice primeiro-ministro desse governo.

Nascido num bairro pobre de Londonderry, James Martin Pacelli McGuiness – Pacelli em homenagem a Pio XII – enveredou na juventude pelo terrorismo, aliás condenado pelo episcopado católico do Ulster. Um passado que ele nunca renegou nem procurou esconder.

McGuiness empenhou-se depois na negociação do acordo de 1998 e a seguir em manter a paz na Irlanda do Norte, que ele ambicionava integrar, um dia, na República da Irlanda, mas pela via pacífica. Dele disse agora Theresa May, primeira-ministra britânica: “deu uma contribuição essencial e histórica para a extraordinária passagem da Irlanda do Norte do conflito para a paz”.

Ora essa paz ainda não está solidamente assegurada no Ulster. Vai ser sentida a falta de Martin McGuiness.


Comentários
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  • António Costa
    24 mar, 2017 Cacém 08:11
    Para o Justus, Espinho: Gostei do seu a artigo a 100%. Aos cruzados, que refere no fim, queria apenas dizer que uma das cruzadas (a 4ª ) foi "usada" para devastar e saquear Constantinopla, "concorrente" de Roma.
  • Justus
    23 mar, 2017 Espinho 18:58
    Sarsfiel Cabral chama "terrorista" a McGuiness! Tivesse ele conseguido unir a Irlanda do Norte à República da Irlanda e talvez o distinguisse agora com o título de "herói". Hoje apelida-se de terrorista a torto e a direito, de acordo com os interesses de certas maiorias que não querem perder privilégios. Há terroristas e terroristas e não podemos meter tudo no mesmo saco. Até nem sei porque é que Sarsfield Cabral não chama terrorista ao nosso D. Afonso Henriques e aos reis que se lhe seguiram. Também eles não mataram e saquearam no intuito de separar Portugal de Castela e depois expulsar os mouros do território português? Bem sei que foi há séculos, mas as razões não são muito diferentes. Quando nos dá jeito chamamos heróis às pessoas, quando não nos dá, o termo da moda é o terrorismo. E então para quem se diz cristão e católico a cautela deve ser grande, porque aqui os telhados são todos de vidro. Quando os cruzados e outros guerreiros cristão eram abençoados e ungidos para matarem em nome de Deus o melhor é estar calado!
  • MASQUEGRACINHA
    23 mar, 2017 TERRADOMEIO 18:52
    Nem essa paz está solidamente assegurada, nem o Brexit vai ajudar nada à festa, como é evidente. Com uma fronteira daquelas à moda antiga entre as duas Irlandas, com uma pertencente à UE e outra não, e decorrentes profundas diferenças a tantos níveis que nem vale a pena listá-los, das duas, três: ou voltam a engalfinhar-se à primeira fricçãozita (e serão inevitavelmente muitas); ou ganham juízo e unem-se; ou ganham juízo e adaptam-se. Certo, certo, é que, a haver problemas, ninguém parece ter pensado muito nisso antes e pós referendo - devem estar a contar com mais "extraordinários contributos", o que é sempre arriscado. Esperemos que o exemplo de McGuiness tenha lançado raízes no povo irlandês, que de guerras de tipo jihadista já vamos estando todos fartos.
  • António Costa
    23 mar, 2017 Cacém 16:16
    O "Terrorismo" é um meio. Um meio utilizado por quem não tem acesso a meios militares "convencionais". Extremamente violento, é também extremamente diferente de grupo para grupo e de cultura para cultura. Atinge desde objetivos militares ao extremo de massacres orquestrados e planeados em grande escala. No Ocidente continua-se de uma forma vergonhosa e cobarde a Ignorar ostensivamente as razões porque ele é utilizado. A razão é simples, pois o $$$$ que paga e mantém o terrorismo é o mesmo que mantém os políticos corruptos calados. Assim continua-se a culpar os operacionais, como sendo minorias "radicalizadas" e não o que realmente são. As SS de Hitler não eram uma "minoria radicalizada". Os terroristas islâmicos de hoje, também não.
  • José Vieira
    23 mar, 2017 Lisboa 15:24
    Alguém disse algo como "One man's terrorist is another man's freedom fighter." Era já bem tempo de as pessoas que se consideram responsáveis deixarem a propaganda de lado. McGuiness, Gerry Adams e todos os outros eram "terroristas" e participavam numa guerra "religiosa" de católicos (por coincidência, "mera" coincidência, irlandeses) contra protestantes (por coincidência, "mera" coincidência, ingleses), dizem os ingleses. E porque razão a versão dos ingleses terá que ser melhor que a dos irlandeses? A versão irlandesa vale menos, ou não vale mesmo nada, apenas porque os ingleses, do alto da sua arrogância e mania imperial, os subjugou e menorizou durante séculos?
  • emaria
    23 mar, 2017 porto 15:21
    A igreja,tao imaculada como sabemos,condenou a luta Se nao existisse nunca haveria negociaçoes. É assim , infelizmente. Os mais fortes só dao espaço quando temem perder tudo. Obrigada pela luta!