13 mar, 2017
A barafunda nas Cortes, ainda na Monarquia Constitucional, foi um dos factores que acelerou a mudança de regime, em 1910. Mas durante a I República o Parlamento não funcionou melhor, continuando os gritos, os insultos e, de vez em quando, as bengaladas entre deputados. Tudo isto deu ao regime ditatorial após 1926 argumentos contra a democracia pluripartidária, argumentos que grande parte da opinião pública aceitava.
Ainda não chegámos aí, mas há o risco de para lá caminharmos. Ao contrário do que acontecia há um século, agora as sessões parlamentares têm larga cobertura televisiva. E o que muitos portugueses demasiadas vezes vêem e ouvem na Assembleia da República provoca-lhes desconforto e promove o desprezo pela política.
É tudo culpa de A. Costa? Uma grande parte é, de facto. O seu hábito de não responder a perguntas incómodas, preferindo atacar a oposição com provocações irónicas, que nada têm a ver com o assunto em causa, agrada ao PCP e ao BE, mas é deprimente.
A oposição, sobretudo o PSD, ainda não encontrou o tom adequado. E Passos Coelho, que quando era primeiro-ministro mostrou tranquilidade e resiliência em situações muito difíceis, enerva-se às vezes com o estilo chocarreiro de A. Costa.
Infelizmente, o presidente da AR, Ferro Rodrigues, não tem mostrado autoridade nem independência bastantes para uma acção pedagógica eficaz junto dos deputados. Resta esperar que estes pensem duas vezes antes de enveredarem de vez pelo insulto e pela chicana política. A democracia agradeceria.