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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​O desprestígio do Parlamento

13 mar, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O insulto e a chicana política estão em crescendo na AR. Os portugueses não gostam.

A barafunda nas Cortes, ainda na Monarquia Constitucional, foi um dos factores que acelerou a mudança de regime, em 1910. Mas durante a I República o Parlamento não funcionou melhor, continuando os gritos, os insultos e, de vez em quando, as bengaladas entre deputados. Tudo isto deu ao regime ditatorial após 1926 argumentos contra a democracia pluripartidária, argumentos que grande parte da opinião pública aceitava.

Ainda não chegámos aí, mas há o risco de para lá caminharmos. Ao contrário do que acontecia há um século, agora as sessões parlamentares têm larga cobertura televisiva. E o que muitos portugueses demasiadas vezes vêem e ouvem na Assembleia da República provoca-lhes desconforto e promove o desprezo pela política.

É tudo culpa de A. Costa? Uma grande parte é, de facto. O seu hábito de não responder a perguntas incómodas, preferindo atacar a oposição com provocações irónicas, que nada têm a ver com o assunto em causa, agrada ao PCP e ao BE, mas é deprimente.

A oposição, sobretudo o PSD, ainda não encontrou o tom adequado. E Passos Coelho, que quando era primeiro-ministro mostrou tranquilidade e resiliência em situações muito difíceis, enerva-se às vezes com o estilo chocarreiro de A. Costa.

Infelizmente, o presidente da AR, Ferro Rodrigues, não tem mostrado autoridade nem independência bastantes para uma acção pedagógica eficaz junto dos deputados. Resta esperar que estes pensem duas vezes antes de enveredarem de vez pelo insulto e pela chicana política. A democracia agradeceria.

Comentários
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  • Luis B.
    14 mar, 2017 Para cá da muralha da China 09:43
    Tal como na Venezuela ou em Cuba, hoje em Portugal começa a ser perigoso ou simplesmente desconfortável, criticar a esquerda no poder. Uma simples opinião não abonatória para o derrotado Costa "geringôncio", gera as mais diversas criticas contra quem opina, coartando futuras opiniões sobre o mesmo tema, do mesmo autor. Vivemos uma mudança à esquerda populista, demagógica e em permanente negação da aceitação da inadaptação entre as suas teorias governativas, o discurso de campanha eleitoral e a ideologia que os move. As coisas correm mal? A culpa é da direita. Extrema direita dizem os da extrema esquerda do Bloco e do PCP. O buraco do BPN que resultou de uma decisão de Sócrates não se questiona. Questiona-se sim o apoio que o Governo PSD CDS deu aos bancos, e ao BES entre outros, numa altura em que o sistema bancário ameaçava falir, arrastando o país ara tempos de incerteza e miséria. Costa satiriza com a falta de fiscalização dos movimentos bancários para os off-shores, ataca Passos com responsabilidade politica (wtf?), mas quando se vem a saber que afinal é o Governo geringôncio quem tem a maior fatia de responsabilidade da falta dessa fiscalização, sai de cena com um cândido "não dou mais troco ao PSD". Cinismo, hipocrisia, maus democratas é assim que vejo este Governo que vai vivendo das "sementes" que o PSD CDS plantaram, em tempos muito complicados a nível interno mas também na Europa. Com Espanha a crescer 3% ao ano, é natural que a nossa economia vá à "boleia"...
  • Raposo Tavares
    14 mar, 2017 Beja 09:00
    O comentário de Sarsfiel de Cabral é pertinente e é melhor que seja lido com atenção. Quem tem dúvidas que leia o discurso do General Gomes da Costa em Maio de 1928. Raposo Tavares
  • Fernando
    14 mar, 2017 Lisboa 07:21
    JUSTUS Não é só o Parlamento que, como diz e bem, está desprestigiado de há muito anos a esta parte. O jornalismo também. Jornalistas neste País existem apenas uma duzia deles. O que se desenvolveu nos ultimos anos, como autênticos cogumelos, foi uma nova classe de profissionais ligados ao jornalismo que de jornalistas nada têm pois são mais jornaleiros que outra coisa que escrevem por encomenda. Têm os seus patronos e escrevem o que estes lhes mandam escrever. Hoje temos um autêntico jornalismo de sargeta dominado por escribas a soldo. Na ditadura havia a censura a qual só enganava os mais distraidos. Agora temos muito pouca informação, muita manipulação da informação e muita contra informação. Na origem de tudo isto está toda uma classe politica de autêntico refugo. É tudo demasiado evidente.
  • Luis
    14 mar, 2017 Lisboa 07:09
    Este continua vesgo do olho esquerdo. Só que de tanto ver apenas com o olho direito já tem a vista muito cansada. E como tal troca tudo, vê tudo ao contrario. Há muito que é conhecida esta incapacidade visual.
  • Manuel Costa
    13 mar, 2017 Mondim de Basto 19:19
    Credo! Não acredito nos comentários que estou a ler. Por acaso o escriba disse alguma mentira? Anda tudo cego, surdo e mudo, ou quê? Ou isso ou não sabem ler e interpretar Português. É isso.. deve ser, Ou então palas nos olhos.
  • António Costa
    13 mar, 2017 Cacém 18:56
    "Cicciolina foi eleita para o Parlamento Italiano em 1987..." diz-lhe, alguma coisa? O parlamento é um "reflexo" das diferentes tendências da sociedade civil, apenas isso. Em países, como a Rússia, a "Democracia" não tem desses problemas. Ao contrário existem outros países onde até cenas de pugilato, ocorrem entre "deputados". O Dr. Francisco Sarsfield Cabral sente-se, possivelmente próximo da "educação", da "segurança" e da "ordem" do "sistema" do presidente Putin. Não se preocupe, não é o único. Para mim, a "chicana política" em Democracia, só significa que ela, a Democracia "ainda" existe. Só.
  • Justus
    13 mar, 2017 Espinho 18:27
    É certo que a Assembleia da República, de vez em quando, mais parece uma "feira da ladra" do que um lugar onde se discutem e fazem as leis. E a culpa é de todos os partidos e de muitos deputados de qualquer bancada. Claro que Sarsfield Cabral, como não podia deixar de ser, tinha que atacar o PS e o seu líder, que até nem é dos piores! Mas isso só prova, mais uma vez, a sua "partidarite" aguda, a falta de isenção e a miopia de análise. Para se escrever sobre este assunto, "desprestígio do Parlamento", não se pode ter em consideração o que se passou hoje ou ontem, mas o que se passou e vem passando há meses e há anos. Se queria focar o que se passou recentemente na AR, Sarsfield Cabral podia faze-lo, mas era obrigado a escrever: ontem os deputados desprestigiaram o Parlamento. É assim que faz qualquer escriba intelectualmente honesto e isento. Sarsfied Cabral, não. Quer sempre fazer dos outros parvos, mas engana-se. Ou então pensa e quer que a Assembleia da República se transforme naquela "União Nacional" onde todos diziam "amém". Mas essa, felizmente acabou.
  • Astrolabio
    13 mar, 2017 capital 16:30
    O desprestígio do jornalismo...Se Sarsfield Cabral conseguisse fazer uma análise isenta das vergonhosas sessões parlamentares, escreveria que os deputados do PSD Luís Montenegro, Passos Coelho, Hugo SOares e André qualquer coisa se têm salientado no insulto soez ao PM A. Costa, que não lhes responde na mesma moeda, para não descer tão baixo. Pensa Sarsfield Cabral que os portugueses são cegos? Veja as sondagens, senhor!
  • MASQUEGRACINHA
    13 mar, 2017 TERRADOMEIO 16:24
    E também temos a agradecer ao PSD e adjacência a introdução no hemiciclo, de forma sistemática, do sapateado e da lambada nas bancadas, nas bancadas propriamente ditas... como diria o Eça, é à inglesa, é bom de certeza. O Passos, senhor de uma impressionante frieza (quem se esquecerá dos "piegas", do "ir para além da troika", do "sair do espaço de conforto" e coisas que tais?) e sonso cinismo (a subscrição pública para "ajudar" os lesados do BES, para a qual ele também participaria!, o seu inalienável direito a esquecer-se de pagar impostos, como qualquer português!, e etc., etc., etc.,), pois o Passos está, enfim, a perceber que a realidade insiste em não contar com ele, em não precisar dele para mais nada, em tratá-lo como um criado que se usa e despede, em gozá-lo existencialmente - daí a confrangedora excitação, quase birra infantil, típica de um carácter evidente e definitivamente imaturo. Não passou de um deslumbrado, de um idiota útil para Bruxelas, para o FMI, para o Paulo Portas, e agora para o Costa. Se não fosse pieguice, até fazia pena assistir-lhe ao descontrolo.
  • Juca
    13 mar, 2017 Pv. Sto. Adrião 15:53
    A democracia agradecia que o senhor não proferisse a palavra democracia.