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Luís Cabral
Opinião de Luís Cabral
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​Censura política 2.0

10 mar, 2017 • Opinião de Luís Cabral


Não é a primeira vez que se dá esta sequência de convite-desconvite, nomeadamente no âmbito universitário; temo que não seja a última.

A conferência de Jaime Nogueira Pinto planeada a para Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa foi cancelada. A justificação oferecida pela Direcção da FCSH prende-se com questões de segurança.

Não é a primeira vez que se dá esta sequência de convite-desconvite, nomeadamente no âmbito universitário; temo que não seja a última.

Para muitos — certamente para mim — o ideal da liberdade de expressão é essencialmente um ideal da esquerda. Esta perspectiva é em parte influenciada por ter crescido ainda num ambiente de censura política que afectava principalmente a esquerda portuguesa, situação que apenas terminou em 1974. Por este motivo, é um pouco irónico que o clamor pela livre expressão seja hoje, essencialmente, um clamor da direita, nomeadamente da direita mais extrema (a direita "libertária", para utilizar a terminologia norte-americana).

Não quero com isto dizer que as situações sejam simétricas: o que a direita fez à esquerda há 50 anos não é o mesmo que a esquerda faz à direito de hoje. A questão da liberdade de expressão é uma questão de balanço, balanço entre os direitos de uns (livre

expressão) e os direitos de outros (bom nome, segurança, etc). Por esse motivo, trata-se, em última análise, de uma questão de bom senso. Há que analisar cada caso como um caso concreto.

Por exemplo, o "desconvite" da Universidade de Berkeley ao "enfant terrible" Milo Yiannopoulos foi justificado pela polícia local como uma questão de contenção de acções de violência. Os estudantes que preparavam o boicote declararam que "Milo é um instrumento do governo fascista de Trump: ele não tem o direito de falar em Berkeley ou em qualquer outro sítio". Infelizmente, Berkeley já tem alguma tradição no campo dos boicotes; aliás, a propósito do caso Yiannopoulos já se tinham dado casos de violência que, de alguma forma, justificam a decisão da polícia.

Que dizer do caso Nogueira Pinto? Não tendo conhecimento completo do caso, pelo que apenas poderei tecer comentários um pouco mais gerais.

Se os problemas de segurança foram verdadeiramente reais, então vergonha da Associação de Estudantes por faltar ao respeito pela liberdade de expressão. Se os problemas de segurança não foram verdadeiramente reais, vergonha da Direcção da FCSH por aproveitar uma desculpa fácil para uma decisão talvez mais vantajosa para os seus interesses mas claramente menos honrosa.

A censura política, mesmo que se trate de censura dos "fascistas"

(verdadeiros ou alegados), é o pior que se pode fazer para honrar aqueles que, em tempos idos, lutaram por um direito que lhes foi negado.

Comentários
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  • ALETO
    13 mar, 2017 Lisboa 22:19
    Respondendo à provocação do senhor Teófilo, os genes de Hitler, Mussolini, Franco, Pinochet, entre outros, estão em muitos partidos que vivem na esperança de retornar ao totalitarismo militar, de permanente vigilância e perseguição de inocentes, em que todos são culpados, em especial, os mais inteligentes e progressistas. É estranho como ainda existem mentes como a de Teófilo e outros, em que Treblinka e Auschwitz não existiram, nem a Ilha 10 (do Chile), onde Pinochet mandou os presos democratas e comunistas; nem mesmo Tarrafal existe ou pode ser considerado um ponto de referência. Esta gente ainda vive sob o pesadelo da inquisição e as perseguições aos judeus; vive também o profundo flagelo do «miguelismo», dos enforcamentos no Porto aos liberais e da tortura infligida no forte de São Julião da Barra por Teles Jordão. Vivem entre as sombras, admirando Salazar e os seus carrascos da PIDE. Quem habita nas trevas, não poderá nunca ver a luz do progresso humano.
  • Teofilo
    12 mar, 2017 Lisboa 09:38
    Os genes de Lenine,Staline,Trostky,Pol-Pot etc estão em mts partidos q vivem a esperança de retornar ao totalitarismo trucidário , permanentemente trauliteiro em que todos são culpados mesmo sem culpa desde que não sejam fieis e submissos ao poder ditatorial instituído.Sem Patria,Familia ou religião tudo proibido só cartilha permitida.
  • Afonso
    11 mar, 2017 lisboa 12:01
    A direita não totalitária não tem partido no terreno e o seu aparecimento atormenta a hegemonia esquerdista radical e moderada.
  • Marco Visan
    11 mar, 2017 Lisboa 09:14
    Concordo com a opinião de Luís Ribeiro. Basta ver os comentários de PRAKACH RATILAL e ALVARO, para perceber que algo está errado na concepção de uma mensagem que lhe foi dada a ler. Um escreve disparates acerca da história e atira as culpas para a primeira república e o 25 de Abril. Prakach Ratilal nunca investigou nem leu nada sobre o antigo regime, sobre o descontentamento contra a monarquia em Portugal e sobre as torturas, perseguições e prisões no tempo de Salazar. Quase que acredito que nas cabeças de qualquer Prakach Ratilal ou mesmo até Álvaro, Auschwitz foi um sonho lindo, desenvolvido por alguém maravilhoso para a época, como o nome de Adolf Hitler. Em conclusão, aquilo que PRAKACH RATILAL só pode ser mesmo o resultado de uma grande ignorância ou até mesmo miséria de pensamento.
  • Luis Ribeiro
    10 mar, 2017 Faro 20:57
    A questão que se coloca parece-me simples: será o direito de expressão o topo da pirâmide de direitos ou liberdades? Ora, esta questão faz com que tenhamos de reflectir. Desde logo a responsabilidade da Universidade na defesa do pluralismo mas também na consagração de um espaço onde valores do Humanismo e da Humanidade devam prevalecer. É aqui que me parece que devemos parar. Quando num espaço como uma Universidade por exemplo, se pretende proclamar princípios violadores de conceitos básicos, primários da Humanidade esse pretenso direito de expressão não pode prevalecer sobre valores da Humanidade. É por isso que aceito a atitude da Associação de Estudantes. Se no limite o orador convidado fosse um tal Adolf Hitler ou Josef Staline seria incompreensível. Na Inglaterra, um lugar foi negado como local de discurso de Trump. Não lhe foi negada a expressão. Foi-lhe negado a divulgação de ideias contrarias aos conceitos básicos britanicos numa casa que os compete defender. Parece que a histeria do direito de expressão confunde alhos com bogalhos. É pena.
  • Alvaro
    10 mar, 2017 Evora 20:54
    A esquerda não faz à direita o que a direita fez à esquerda porque não pode. Onde pode faz, e por cá, se puder também o fará. Aliás já o tentou em 75.
  • prakach ratilal
    10 mar, 2017 braga 19:35
    Os portugueses não conhecem a história de Portugal. A pior desgraça que tivemos nos tempos modernos, foi a primeira república e o 25 de Abril A esquerda depois do 25 de Abril deu cabo do nosso património económico, deixando-nos na miséria. A esquerda leva os povos à miséria, para mais fácil as dominar, onde estão as grandes casas, mobiladas, com aquecimento central, distribuídas, aos trabalhadores dos Koukozes e Subkoukozes? Um bébé nascia numa grande maternidade moderna, ficava com a mãe durante um ano, depois ia para um berçário, um infantário, pré-primária e, quando acabasse o curso universitário, tinha há espera um grande emprego; mas, como é um grande revulcionário e patriota, não aceita o emprego que lhe é oferecido, mas, oferece-se como voluntário, para trabalhar junto dos camaradas, nos koukozes e subkoukozes. É lindo!... Esquerda portuguesa não querem experimentar?
  • Nuno
    10 mar, 2017 Almada 15:08
    Nogueira Pinto, como salazirista convicto, provou um pouco do remédio que salazar dava em grandes quantidades: censura. Não gostou de ser ele a senti-la na pele... É natural, aos outros é sempre mais fácil, mas não tem argumentos para falar. Quanto a Rafael Borges, recomendava uma visita ao Tarrafal ou Peniche, para tentar perceber o que acontecia. Duvido que compreendesse, mas devia ter uma oportunidade para aprender
  • João Lopes
    10 mar, 2017 Viseu 09:31
    Artigo interessante!
  • Miguel Botelho
    10 mar, 2017 Lisboa 09:13
    Infelizmente, Sr. Luís Cabral, discordo da sua conclusão. Em 50 anos, a direita que Jaime Nogueira Pinto defende, deu provas de ser contra a liberdade de expressão e a favor da prisão e tortura de presos políticos. Se a associação se defende de uma intervenção, como a de Jaime Nogueira Pinto e o seu grupo «Nova Portugalidade», é para defender os interesses da liberdade (conquistada ou resgatada ao fascismo, no 25 de Abril de 1974). O Sr. Luís Cabral fez alguma pesquisa quanto ao grupo «Nova Portugalidade»? Sabe que um dos membros desse grupo fez uma romagem à campa de Salazar, fotografou-se para a facebook no acto e declarou que «sobrou chorar os mortos, já que os vivos nos dão tantas provas de os não merecerem». Um acto solene de Rafael Pinto Borges no cemitério do Vimieiro que defende simplesmente o regresso a esse passado tenebroso, onde as vítimas de perseguições políticas foram muitas. Quanto ao caso de Milo Yannopoulos, sabe que esta figura defende a pedofilia? O próprio Milo Yannopoulos já participou numa festa de pedófilos num iate de ricos americanos, perto da California, sem perceber que assistindo a uma ilegalidade como aquela em que estava a participar, deveria reportar às autoridades, dado que a pedofilia constitui crime naquele estado. Para mais dados sobre esta figura, porque não ver o programa de Jimmy Dore:https://www.youtube.com/watch?v=k_UtZUcJjIw.