20 fev, 2017
O livro autobiográfico do ex-Presidente Cavaco Silva tem sido largamente referido e comentado na comunicação social. Como ainda não o li, não o comento agora. Mas julgo saudável que o político português que exerceu durante mais tempo os cargos de primeiro-ministro e de Presidente da República continue a escrever livros autobiográficos.
É uma tradição na Grã-Bretanha que, em Portugal, é pouco seguida. Já no século XIX, os governantes portugueses não tinham grande inclinação para escreverem memórias - embora existam memórias notáveis, como as do Marquês de Fronteira e as do Duque de Loulé.
Claro que as memórias não são documentos imparciais, pois transmitem visões pessoais de protagonistas da história. Por isso, são necessariamente alvo de controvérsia, que, às vezes, se prolonga por séculos. No seu habitual tom furibundo, José Sócrates já reagiu ao livro de Cavaco Silva.
Mas mesmo memórias que nem sempre se revelam verídicas têm interesse - é o caso, por exemplo, das “Mémoires d’Outre-Tombe”, de Chateaubriand, escritas há quase dois séculos. Compete aos historiadores avaliar a veracidade das autobiografias, comparando-as com outros documentos.
Até há pouco, havia uma fonte histórica importante que está a desaparecer: as cartas, agora cada vez mais substituídas por telefonemas, sms, e-mails, intervenções nas redes sociais, etc., material que não perdura.
Daí, a responsabilidade acrescida de quem desempenhou cargos de grande responsabilidade: deve escrever memórias.