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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​A desregulamentação financeira

10 fev, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Muitos dos que votaram no novo presidente dos EUA começam a ser traídos.

Várias vezes tem sido apontado, até nesta coluna, o paradoxo de Trump ter sido eleito graças à insatisfação de milhões de americanos da classe média baixa, que vêem os seus vencimentos quase estagnados desde há décadas – e ter formado um governo onde predominam multimilionários. Mas a bolsa de Nova York subiu após a eleição de Trump; começa agora a perceber-se porquê.

Trump iniciou o desmantelamento da regulação financeira criada após a chamada crise do "subprime", que levou à recessão global. O presidente dos EUA eliminou a norma que proibia aos bancos especular por sua própria conta. Colocou entraves à acção do Gabinete de protecção financeira dos consumidores. E vai alterar a lei que impõe aos bancos que actuem em benefício dos clientes. Diz o presidente que faz isto porque empresários seus amigos têm dificuldades de obter empréstimos bancários para os seus excelentes projectos.

Quando Trump assinou estas primeiras medidas de desregulamentação bancária (são só o começo!) a seu lado estavam os presidentes do banco J. P. Morgan Chase e do fundo de investimento Blackstone. Não por acaso.

Ou seja, Trump, que na campanha eleitoral tanto acusou Wall Street, beneficia abertamente os grupos de pressão da finança. Como é frequente acontecer com os populistas, quem sai a perder é a maioria dos que votaram no novo presidente. E que começam a ser traídos.

Comentários
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  • Marco Visan
    11 fev, 2017 Lisboa 09:14
    Não esquecer que Donald Trump foi escolhido por um grupo de cidadãos anónimos, pertencentes à classe trabalhadora americana que se diz esquecida por Obama. Donald Trump aceitou o convite, mas quis terminar a sua participação em Abril de 2016, dizendo aos seus apoiantes que já tinha ido muito longe. Donald Trump venceu todos os 16 candidatos nas primárias republicanas, incluindo Jeb Bush. Os maiores motivos para a sua eleição como presidente foram o trabalho e a economia. Não podemos esquecer que os Estados Unidos vive uma penúria, em termos sociais, gritante. Não esquecer que segundo últimas estatísticas, cerca de 43 milhões de americanos viviam na pobreza. Segundo outras, os números são muito mais elevados, devido a um orçamento muito mal gerido e que vai quase todo para os homens da guerra.
  • MASQUEGRACINHA
    10 fev, 2017 TERRADOMEIO 16:10
    Bom, até um cego via que a traição era inevitável - só a alacridade e impudor são um pouco surpreendentes, pelo menos por enquanto, que a este ritmo daqui a umas horitas já estamos habituados. Já o referi várias vezes, mas repito: preocupa-me sobremaneira quando chegar a hora de outra inevitável traição, àqueles apoiantes de Trump que, como M. BOTELHO bem refere, são capazes de pegar em armas e usar a segunda emenda. E digo inevitável, pois que a sua utilidade se esgotou no tal apoio, e a sua ideologia não tem qualquer interesse para a economia à la Trump, leia-se capitalismo hiper-selvagem. E eles, boa ou má, têm ideologia, e não se deixarão gozar impunemente. De resto, é o sistema capitalista puro e duro em todo o seu esplendor a (querer) funcionar, sem se dar sequer ao trabalho da hipocrisia, para quê? Têm o poder, o melhor deles foi eleito democraticamente, não é o que basta? Pois, parece que não: o sistema assenta na separação de poderes, e ainda ninguém votou para que assim deixe de ser. Por outro lado, não é por alguém ser defensor do sistema capitalista, e até da sua filosofia pretensamente moral baseada em supostos "méritos" e "oportunidades", que se torna inabilitado para criticar as suas piores práticas e abusos, sobretudo quando atingem esta dimensão. Pelo contrário, conhecendo bem o sistema, conhece-lhe bem as consequências. Se se assusta, é porque há de facto razão para estarmos todos assustados. Por isso, espero, e agradeço, que S. Cabral continue a avisar-nos.
  • isabel dente
    10 fev, 2017 alcainça 15:51
    bem vindo á realidade,pena que não tenha notado antes o que é ser liberal.Todas as normas que penalizem o capital serão eliminadas como na Europa já foram ou estão a ser.Só ficam as que protegem o ilegal superávit alemão que estranhamente os comentadores cá da terra não falam
  • Justus
    10 fev, 2017 Espinho 12:13
    Quando por cá aconteceu a mesma coisa, ou seja, quando Passos Coelho prometeu na campanha eleitoral uma coisa e fez precisamente o contrário, Sarsfield Cabral esteve sempre muito calado e até apoiou aquilo que o governo anterior fazia. Passos Coelho prometeu não cortar nas pensões e salários e foi o que se viu, cortes atrás de cortes. Prometeu continuar com o serviço nacional de saúde, com as escolas públicas, etc., etc, e a privatização estava em marcha até este governo tomar posse. Prometeu emprego e melhor economia e acabou por forçar muitos portugueses à emigração e a viver na miséria, com uma economia a regredir décadas e décadas! São assim os demagogos e vira casacas, os incompetentes e oportunistas. Não precisava Sarsfield Cabral de ir buscar Trump para exemplo do desmantelamento da regulação financeiro. Tem aqui o seu amigo Passos Coelho que, em dois ou três anos , deu cabo da economia e levou à falência Bancos como o BPN, BPP, BES, Banif e desregulamentou outros que agora estão a ser capitalizados, como a CGD, o BPI e o BCP. Sarsfield Cabral não viu nem vê o que está à frente dos olhos, interessa-lhe mais o que anda por longe. E, com respeito a Trump, parece ser obsessivo! Já é tempo de o deixar em paz!
  • Miguel Botelho
    10 fev, 2017 Lisboa 09:04
    Ainda é cedo para conclusões tão precipitadas como aquelas que o Sr. Sarsfield Cabral resume. A grande maioria dos americanos concorda com a decisão proteccionista aplicada por Trump e rejeitada pelo juiz federal. Aqueles que atacam Trump, usam as manifestações e os protestos cívicos. Aqueles que defendem Trump pertencem a uma classe capaz de pegar armas por Trump e fazer uso da segunda emenda da constituição..