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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Tentar perceber

A venda de armas, sector em alta

21 jan, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Está em expansão a venda de armamento e de material militar.

Não se prevê uma significativa aceleração do crescimento económico mundial em 2017. Mas um sector vai de vento em popa: a indústria de armamento e de material militar. É chocante uma actividade em que se ganha dinheiro graças a matar pessoas, e onde haverá quem fomente conflitos para lucrar. Mas a defesa militar é uma necessidade no mundo em que vivemos. Pena é que estejam a ser revertidos alguns avanços no desarmamento depois do fim da Guerra Fria, sobretudo no nuclear.

Trump e Putin já anunciaram investir na modernização dos seus arsenais nucleares. O que pode trazer problemas financeiros à Rússia, cuja economia atravessa uma recessão, mas é mais um passo para o prestígio interno de Putin. Por outro lado, os conflitos que se multiplicam no Médio Oriente e em África, assim como o combate ao terrorismo, além do próprio terrorismo, promovem as despesas militares e a procura de armas.

A Europa, que viveu tempo demasiado à sombra da protecção militar americana, sabe que, com Trump na Casa Branca, terá de gastar mais na defesa. E a China, que se tem armado significativamente, suscita receios na Ásia, levando à compra de armas pelos países vizinhos.

EUA: maiores exportadores

A corrida armamentista é preocupante, mas significa lucros para as empresas do sector. Segundo um estudo do Congresso de Washington, citado pelo "New York Times", os Estados Unidos continuam a ser os maiores exportadores mundiais de armas. Em 2015 terão vendido ao estrangeiro cerca de 40 mil milhões de dólares de armamento convencional, cerca de metade do mercado global deste material. Isto, naturalmente, a somar às compras internas do seu Departamento de Defesa. Estas, como se sabe, são enormes e têm importantes repercussões económicas e tecnológicas noutras empresas americanas, fora da área militar.

O estudo do Congresso americano coloca a França em segundo lugar na exportação de armas em 2015, embora a grande distância dos EUA. Já o Stockholm International Peace Research põe a França em quarto lugar, depois da Rússia e da China, país que quase duplicou a venda de armas ao estrangeiro em 2015.

Seja como for, as vendas de material militar francês estão em alta. O sector conta quatro mil empresas em França, empregando cerca de 165 mil trabalhadores, e precisa de exportar para ter dimensão susceptível de ser lucrativa.

Material sofisticado

O negócio não se confina, hoje, aos equipamentos tradicionais – aviões, tanques, canhões, metralhadoras, mísseis, navios, submarinos. Inclui também computadores, sistemas de vigilância (por satélite, nomeadamente), “drones” telecomandados a milhares de quilómetros de distância, aviões de alta tecnologia, sensores, serviços tecnológicos de informação, óculos de visão nocturna, etc.

Material caríssimo, mas que países ditos em vias de desenvolvimento não desdenham adquirir. Quem mais comprou em 2015 foram esses países, com destaque para o Egipto, Arábia Saudita, Qatar, Paquistão, Emiratos Árabes Unidos e Iraque.

Existe, ainda, o mercado ilegal de armas, alimentado em boa parte por organizações terroristas como o autoproclamado Estado Islâmico e o Boko Haram, e que envolve morteiros, armas ligeiras, granadas, minas, munições, etc. É uma área tenebrosa, que prospera vendendo armas principalmente a países pobres – Estados falhados, movimentos rebeldes, organizações terroristas...

Comentários
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  • MASQUEGRACINHA
    22 jan, 2017 TERRADOMEIO 19:44
    Economias sustentadas na indústria da guerra, sem sequer a desculpa de uma ideologia. Apenas o alimentar das taras da ganância e do poder de quem já tem e já pode quase tudo. Para 8 (oito!) indivíduos terem tanto dinheiro como mais de três mil milhões de pobres... É espantoso. E é esta maravilhosa civilização que a SpaceX tanto porfia em exportar para Marte - devem andar a abrir novos mercados, que por aqui a concorrência já não se aguenta. É estupidamente espantoso tudo isto. O que fazer? Dizia Gandhi, numa frase pouco citada, provavelmente porque pouco compreendida, que, se tivesse que escolher entre a cobardia e a violência, escolheria a violência. Às vezes pergunto-me se, perante a evidência do que se passa no mundo, estaremos a ser pacifistas ou cobardes.
  • Vasco
    21 jan, 2017 Viseu 19:00
    Não dá para entender, por um lado o Senhor Donald Trump declara que irá pura e simplesmente extinguir o auto proclamado estado islâmico, por outro é o Presidente do País que, segundo se lê na notícia, mais armas vende e que pretende ainda aumentar mais este setor de exportação, assim sendo não dá para perceber lá muito bem como é que irá conseguir vender armas a mortos, mas ele lá saberá melhor que ninguém!!!
  • Miguel Botelho
    21 jan, 2017 Lisboa 15:29
    Precisamente, o estado e a democracia que Sarsfield Cabral mais defende no planeta, é o mais gastador na indústria de guerra. Porque é que os americanos não têm um programa de segurança social igual ao do Canadá e porque razão os medicamentos são caros e não comparticipados? Porque os Estados Unidos prefere reverter esse dinheiro na sua indústria de guerra e na administração interna (prisões e campos de prisioneiros). Seria interessante o Sr. Sarsfield Cabral contar as bases militares norte-americanas que estão espalhadas pelo planeta. Quanto gasta o estado americano em proteger as mesmas bases militares? Enfim, mais uma contradição do professor. Quer fazer parecer que é contra a indústria militar, ao mesmo tempo defendendo a continuação do mesmo sistema.