As ideias que formamos acerca das coisas podem atormentar-nos muito mais do que as próprias coisas, por piores que elas sejam!
A nossa racionalidade preenche os espaços vazios do conhecimento com criações da imaginação. Mas o resultado nunca é bom, quando se acaba por confundir o imaginário com o real. A imaginação tende a deformar a realidade, apresentando-nos como pior o que não é tão mau, ou melhor, o que não é tão bom.
Quando se imagina o melhor e mais sublime, o risco de desilusão aumenta de forma brutal, ao ponto de bastar um instante de realidade para que a catedral que construímos se reduza a uma mera sombra de pó que paira sobre as ruínas.
Quando a imaginação se deixa guiar pelo mal, cria desgraças de tal forma trágicas que nos fazem sofrer mais do que se fossem reais.
Assim, importa assumir uma certa distância entre a realidade e a representação que dela nos faz a imaginação.
Já é preocupação bastante tentar resolver os problemas reais de hoje, não nos perdendo em hipóteses mais ou menos credíveis. De que vale fugir dos males de hoje rumo ao que nos parece ser um sonho se, na realidade, nos estivermos a lançar para um verdadeiro pesadelo?
O que há de mais certo é a incerteza e importa aprender a viver com ela, apesar dos medos e das ilusões.
O pior dos sonhos é que passam; o melhor dos pesadelos é que passam também.