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José Miguel Sardica
Opinião de José Miguel Sardica
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A liquidação da URSS

28 dez, 2016 • Opinião de José Miguel Sardica


Passaram 25 anos. Herói acidental para uns, vilão traidor para outros, Gorbi tem hoje 85 anos.Os media russos censuram-no e os políticos do Kremlin voltam-lhe as costas.

Foi há 25 anos que todo o Leste da Europa se despediu do seu passado, selando o fim da Guerra Fria e culminando o processo de libertação contra o comunismo iniciado em 1989, com a queda do Muro de Berlim.

A 26 de Dezembro de 1991 – no fecho do ano que começara com a derrota de Saddam Hussein na 1.ª Guerra do Golfo – uma resolução do Soviete Supremo de Moscovo pôs fim à URSS, liquidando assim, de forma burocrática e prosaica, 70 anos de história, e dissolvendo o que durante o século XX fora a grande pátria irradiadora do comunismo à escala global. No dia anterior, Mikhail Gorbachev, o 7.º e último líder da União Soviética, declarara extinto o seu cargo e entregara todos os poderes ao presidente da Rússia, Boris Ieltsin.

Não era assim que “Gorbi” gostava de ter entrado para a história. Quando chegou ao Kremlin, em 1985, vinha para reformar o sistema, relançando a economia soviética, cimentando a confiança na ideologia comunista e reforçando a solidez da União das 15 Repúblicas. A Perestroika e a Glasnost surpreenderam. Parecia uma nova NEP, com um Lenine muito mais urbano e simpático. Como também surpreendeu a retirada do Afeganistão, compreensível porque a URSS não conseguia já custear aquele “Vietname do Cáucaso”. Gorbachev não queria ser o coveiro da União Soviética: mas a energia reformadora e os ventos de abertura que semeou deixaram-no progressivamente isolado, entre os “liberais” que lhe pediam mais e os “ultras” que lhe reprovavam as inovações e as simpatias que suscitava (e que ele cultivou) no Ocidente (Reagan, Bush, Thatcher ou Kohl).

Quando os ventos de liberdade chegaram ao Leste da Europa, Gorbi deixou claro que, com ele, não se repetiriam 1956 ou 1968. Chernobyl já demonstrara a obsolescência do aparelho industrial soviético. No final da década, as reformas paralisaram, a corrupção era gigantesca, a ideologia já não mobilizava ninguém e, pior, os separatismos independentistas saíram à rua. Depois da tentativa de golpe de Estado dos “ultras”, em Agosto de 1991, e no espaço de poucas semanas, todas as repúblicas se separaram da União. A chamada CEI, Comunidade de Estados Independentes, foi formalizada a 21 de Dezembro, com 11 ex-Repúblicas da URSS (ficaram de fora os Estados bálticos e a Geórgia). Gorbachev esperou pelo Natal para fechar a porta e entregar a chave.

Passaram 25 anos. Herói acidental para uns, vilão traidor para outros, Gorbi tem hoje 85 anos. Viúvo desde 1999, entretém-se a presidir a uma Fundação discreta. Os media russos censuram-no e os políticos do Kremlin voltam-lhe as costas. Há vozes na corte de Vladimir Putin que gostavam de o processar e julgar por ser “agente estrangeiro” e ainda mais pelo “crime” de ter provocado o colapso da URSS. Gorbachev, por seu turno, reconhece ser um dos homens mais detestados da Rússia, e sente-se também traído pelos EUA, a quem critica a expansão da NATO para o Leste.

À actual Rússia, acha ele, faltam liberdades e democracia, e o bem-estar económico está sequestrado por uma oligarquia estatista. No seu juízo, Putin está a sofrer do mesmo mal de que ele reconhece ter padecido: “excesso de autoconfiança”. Por isso critica a nova agenda internacional aventureira de Moscovo, que é diplomaticamente arriscada e, sobretudo, caríssima. Como ele bem experimentou, um império sem dinheiro colapsa como um castelo de areia. E se isso acontecer à Rússia actual, as consequências domésticas e internacionais serão imprevisíveis e poderão ser cataclísmicas. Um quarto de século volvido, estará Putin a caminho de vir a terminar como Gorbachev?

Comentários
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  • Alexandre Costa
    29 dez, 2016 17:03
    Rectifico um erro no meu post anterior: por lapso, escrevi "Turcomenistão", quando deveria ter escrito "Turquemenistão". Obrigado.
  • Alexandre Costa
    29 dez, 2016 16:56
    Um texto pouco inspirado e que nada de novo acrescenta ao que já (muitos) outros escreveram sobre o assunto, tal como foi referido em comentários anteriores. Gostaria apenas de salientar um detalhe que revela pouca atenção e/ou desconhecimento de geografia asiática por parte do articulista: o Afeganistão fica no centro da Ásia, na charneira entre a Ásia Central e a do Sul, partilhando fronteira com o Paquistão nas suas regiões meridionais e a oriente, com as ex-repúblicas soviéticas do Tajiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão a norte, a ocidente com o Irão, e ainda com a China, na extremidade de uma pequena franja de território a nordeste. Não vejo como seja possível situar este país no Cáucaso ("Vietname do Cáucaso), conceito geográfico que designa não apenas a cordilheira homónima mas também a região limítrofe da Europa e da Ásia localizada entre o Mar Negro e o Cáspio...
  • Marco Visan
    28 dez, 2016 Porto 22:26
    Sr. Sardica em vez de lamentar as mortes do «tupolev 154» que caiu no mar negro, põe-se a copiar aquilo que já todos escreveram sobre a implosão da URSS. Ao que parece, os mortos daquele acidente aéreo não contam para o Sr. Sardica. Não existe pesar, nem pêsames, apenas puro calculismo e oportunismo em copiar o que já todos escreveram e fazer de conta que a opinião é nova. Será que Sardica tem alguma coisa a escrever sobre os 92 passageiros que morreram no mar negro? Será que lamenta o sucedido? Não acredito.
  • Fred
    28 dez, 2016 Lx 21:16
    Acredito ser necessario lembrar alguns factos da historia sovietica porque hoje em dia parece que temos muitas pessoas sem qq sapiencia que defendem putin.
  • Makiavel
    28 dez, 2016 Cascais 19:27
    Essa do Putin vir a acaba como o Gorbatchev é assim a modos que um desejo para 2017, certo?
  • Alexandre
    28 dez, 2016 Lisboa 13:36
    Em vez de escrever acerca da queda do avião russo «TU 154» que vitimou 92 pessoas, 60 das quais pertenciam ao coro russo, Miguel Sardica prefere copiar o que muitos já disseram sobre este assunto. Ou seja, em vez de seguir uma linha mais criativa e original, Sardica segue o comum e o fútil.
  • Ceifador de Taquáras
    28 dez, 2016 Taquáras 13:20
    APELO DA SENHORA DE FÁTIMA À HUMANIDADE Mensagem da Senhora de Fátima a ENOC - Colômbia, 23 de Dezembro de 2016 Filhos do meu coração, a paz do Senhor esteja convosco. Filhos, todas as profecias que o céu vos deu estão por se cumprir, e irão cumprir-se. Aproxima-se o cumprimento da profecia de Fátima, nos 100 anos da minha aparição na Cova de Iria. Estou muito triste porque a humanidade segue pecando. A Rússia não foi consagrada ao meu coração como eu o pedi. Sim continua sem ser consagrada. Se esta não for consagrada como eu pedi converter-se-á em tormento para a humanidade. Filhos, não paro de rogar a esta humanidade tão relaxada que continua sem tomar consciência dos acontecimentos que estão para se desenrolarem. Acontecimentos que vão fazer com que grande parte da humanidade se perca. Vivem o dia à dia como no tempo de Noé, sem prestarem atenção aos apelos do céu o que os vai levar ao infortúnio, de um momento para o outro perderão suas almas. Se este ano que está por começar não for consagrada a Rússia ao meu imaculado coração, vos asseguro que vós ireis lamentar porque o céu não irá deter os tormentos do comunismo que se estão a espalhar, como uma praga, pelo mundo. O comunismo é ateísta e busca subjugar os povos, levando-os à escravidão. Meu adversário valer-se-á dele para flagelar as nações. Os exércitos de Gog e Magog são seus aliados. Faço um apelo urgente ao Papa e aos cardeais para que antes do 13 de maio 2017, a Rússia seja consagrada ao meu Imaculado Coração.
  • João Galhardo
    28 dez, 2016 Lisboa 08:11
    Miguel Sardica não acrescenta nada de novo ao processo da implosão da União Soviética, nem à figura de Gorbatchev. Apenas repete e copia aquilo que outros já disseram sobre o mesmo tema.