29 nov, 2016
Todos os dias vemos surgirem novas formas de injustiça, pobreza e exclusão, enquanto tantas outras permanecem e muitas vezes se agravam, comprometendo de forma grave a dignidade das pessoas.
Basta olhar para o número crescente de populações que se vêem forçadas a emigrar porque os seus países estão em guerra, porque aconteceu um cataclismo, porque as suas comunidades continuam arredadas do desenvolvimento e não lhes permitem condições de vida digna; para o número de crianças para quem a educação continua um bem de difícil acesso e de sucesso, condenando-as a vidas nem livres nem autodeterminadas; para o número imenso de pessoas sem trabalho ou salário justo; para o número de pessoas vítimas de discriminação pelo seu sexo, fé, cor ou estatuto social; para o número sem fim de pessoas vítimas de múltiplas e persistentes formas de violência.
No dia 20 de Novembro de 2016, o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica “Misericordia et Misera” no termo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Uma interpelação a toda a Igreja, sem dúvida, mas uma interpelação a toda a humanidade. Vigilância e solidariedade, restituição de dignidade às pessoas “consentindo-lhes uma vida humana”.
A misericórdia tem uma dimensão social que não permite indiferença, inércia ou hipocrisia, que não consente em projectos inócuos, vazios, desajustados ou incumpridos, que impele a um comprometimento de todos e de cada um, governante e/ou cidadão, numa acção efectiva e empenhada para que a justiça e o direito a uma vida digna não continuem a ser meras palavras de circunstância, antes um pacto activo.
Poucos dias antes, na conferência internacional “Líderes empresariais promotores da inclusão económica e social” o Papa sublinhou a actividade dos empresários como agentes de inclusão económica e social, constituindo assim um “exercício da misericórdia”: “o dinheiro deve servir e não governar”, promovendo a inclusão cujo valor é incalculável para o progresso e para o desenvolvimento social e económico de todos.
Hoje, votado o orçamento, no rescaldo de debates acessos e cheios de sobressaltos, iniciado o tempo da sua concretização, é sem dúvida, esta a interpelação que todos somos convocados a realizar.