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Maria Rosário Carneiro
Opinião de Maria Rosário Carneiro
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Interpelação

29 nov, 2016 • Opinião de Maria Rosário Carneiro


Francisco publicou a Carta Apostólica “Misericordia et Misera”, uma interpelação a toda a Igreja, sem dúvida, mas uma interpelação a toda a humanidade.

Todos os dias vemos surgirem novas formas de injustiça, pobreza e exclusão, enquanto tantas outras permanecem e muitas vezes se agravam, comprometendo de forma grave a dignidade das pessoas.

Basta olhar para o número crescente de populações que se vêem forçadas a emigrar porque os seus países estão em guerra, porque aconteceu um cataclismo, porque as suas comunidades continuam arredadas do desenvolvimento e não lhes permitem condições de vida digna; para o número de crianças para quem a educação continua um bem de difícil acesso e de sucesso, condenando-as a vidas nem livres nem autodeterminadas; para o número imenso de pessoas sem trabalho ou salário justo; para o número de pessoas vítimas de discriminação pelo seu sexo, fé, cor ou estatuto social; para o número sem fim de pessoas vítimas de múltiplas e persistentes formas de violência.

No dia 20 de Novembro de 2016, o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica “Misericordia et Misera” no termo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Uma interpelação a toda a Igreja, sem dúvida, mas uma interpelação a toda a humanidade. Vigilância e solidariedade, restituição de dignidade às pessoas “consentindo-lhes uma vida humana”.

A misericórdia tem uma dimensão social que não permite indiferença, inércia ou hipocrisia, que não consente em projectos inócuos, vazios, desajustados ou incumpridos, que impele a um comprometimento de todos e de cada um, governante e/ou cidadão, numa acção efectiva e empenhada para que a justiça e o direito a uma vida digna não continuem a ser meras palavras de circunstância, antes um pacto activo.

Poucos dias antes, na conferência internacional “Líderes empresariais promotores da inclusão económica e social” o Papa sublinhou a actividade dos empresários como agentes de inclusão económica e social, constituindo assim um “exercício da misericórdia”: “o dinheiro deve servir e não governar”, promovendo a inclusão cujo valor é incalculável para o progresso e para o desenvolvimento social e económico de todos.

Hoje, votado o orçamento, no rescaldo de debates acessos e cheios de sobressaltos, iniciado o tempo da sua concretização, é sem dúvida, esta a interpelação que todos somos convocados a realizar.

Comentários
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  • MASQUEGRACINHA
    29 nov, 2016 TERRADOMEIO 19:22
    Com a grande simpatia que me merece o Papa Francisco (simpatia e alguma compaixão), e todo o respeito que me merecem as crenças e opiniões da articulista, ao ouvir/ler este género de discurso sinto, de forma automática, vergonha reflexa por tão pia conversa fiada, por tão auto-complacente dissonância cognitiva... Disse compaixão, porque me parece que o Papa (este Papa) sofrerá, entalado entre tronos e tiaras, enquanto prega aos tubarões. O que me parece um verdadeiro milagre é que a mensagem de Jesus tenha resistido tanto tempo, apesar de se ir diminuindo o tamanho dos camelos e aumentando o dos buracos das agulhas.
  • António Costa
    29 nov, 2016 Cacém 09:54
    "...novas formas de injustiça, pobreza e exclusão...". Novas? Ou as "mesmas", mas com nomes diferentes? Penso que "chover no molhado" não leva a nada. Tentar perceber, como se melhorou e se pode "melhorar" mais um pouco que seja, a situação em que vivemos. Apenas um pouco. Todos esses "poucos" acabam por se tornar muito. Perceber a importância do Cristianismo é de vital importância. Em vez de o "misturar", tipo "batido", como se apenas fosse mais uma "religião" entre muitas outras. Apenas mais uma. Isso é que o Cristianismo não é e nunca foi! O Cristianismo é uma religião de "Anti-Poder" e foi isso que nos levou até hoje, que nos leva até nós as pessoas que "fogem da guerra" ( Ou não será antes, que fogem para as sociedades que defendem valores Cristãos?)