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Raquel Abecasis
Opinião de Raquel Abecasis
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​A pós-verdade de cada dia que nos dão hoje

23 nov, 2016 • Opinião de Raquel Abecasis


A realidade e a ficção deixaram de ser coisas distintas e a ordem natural das coisas deixou de ser uma coisa conveniente a quem quer impor uma ordem não natural às coisas.

Pós-verdade foi a palavra escolhida pelos dicionários Oxford para palavra do ano de 2016.

O termo foi escolhido porque foi o conceito que segundo os eleitores foi determinante para a vitória do Brexit no Reino Unido e de Donald Trump nos Estados Unidos. Dizem os analistas que nos dois actos eleitorais a mentira que deu jeito para o discurso político prevaleceu sobre a verdade factual.

Verdade, verdade é que até para dizer que nos dois actos a mentira prevaleceu sobre a verdade foi preciso inventar uma expressão nova, que não diz a verdade sobre a mentira, ou seja, chama pós-verdade à mentira.

Sabemos que os políticos, sobretudo os mais populares, não são muito diferentes do comum dos mortais que os elegem. Logo, a dita pós-verdade tem que estar culturalmente a afectar-nos a todos, para estar a ter tanto sucesso no mundo político.

Um simples olhar sobre a realidade do nosso tempo permite perceber o que está a acontecer e permite também perceber que não foram os políticos que inventaram este mundo de faz de conta. A verdade é que, culturalmente, vivemos há muito num mundo de faz de conta, onde tudo é possível e o seu contrário também.

A realidade e a ficção deixaram de ser coisas distintas e a ordem natural das coisas deixou de ser conveniente para quem quer impor uma ordem não natural às coisas.

Senão vejamos: as palavras que durante séculos serviram para definir coisas tão simples como vida e morte, homem e mulher, verdade e mentira, têm vindo aos poucos a ser banidas dos dicionários porque agridem quem prefere cultivar a morte em vez da vida, a opção de género em vez da realidade natural e, por fim, querem chamar verdade à mentira.

O que se passa actualmente no cenário político internacional prova que a realidade é real demais para se deixar enganar pela ficção e os defensores de um mundo virado ao contrário começam a sofrer os efeitos das muitas mentiras que ao longo das últimas décadas quiseram impor às sociedades ocidentais.

Para quem quer, apesar de tudo, continuar a viver num mundo real, e não de ficção, importa não esquecer que, por mais que queiramos enganar-nos, um homem será sempre um homem e um gato será sempre um bicho.

Comentários
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  • CF
    24 nov, 2016 Beja 18:51
    Resumindo e perspetivando: A pós-verdade de hoje será a pré-mentira de amanhã e a pré-verdade de hoje poderá ser a sua pós-mentira. Agora a verdade a sério deverá vir sempre à tona da água e a mentira essa pode escoar-se pelo nosso esquecimento.
  • António Costa
    24 nov, 2016 Cacém 14:47
    "...as palavras que durante séculos...", vamos recuar uns séculos, até ao antigo Egipto e ao dos nossos amigos escribas. Chega? Mesmo nestes tempos "recuados" as coisas não eram muito diferentes das de hoje em termos de Verdade vs Mentira. O "novo" Faraó, ao tomar o poder mandava reescrever a História. Assim, muitas citações eram "marteladas" de maneira a que os "gloriosos" feitos do Faraó anterior passavam para o Faraó atual. Em termos de propaganda as coisas andavam pelo mesmo. O Faraó Ramsés II, por exemplo na batalha de Kadesh (1275 ac) é descrito como enfrentando sozinho centenas de carros de combate hititas (carro puxado por cavalos, de onde eram disparadas flexas s/ o inimigo). A propaganda e as "verdades históricas" não foram inventadas "ontem". Já estamos "aqui" há "algum tempo" e a Verdade e a Mentira tem-nos acompanhado, também.
  • Alexandre
    24 nov, 2016 Lisboa 08:17
    Raquel Abecassis quis escrever um texto clarividente, de grande qualidade e visto como o melhor de todos que já escreveu. No final, depois de tanto esforço e suor, saiu um texto confuso e de má qualidade.
  • MASQUEGRACINHA
    23 nov, 2016 TERRADOMEIO 19:59
    Texto confuso, sem sentido aparente, quase hermético. Não percebo aonde quer chegar, afinal qual ordem natural é que não interessa a quem? E o gato, que parece ser metáfora de estimação da articulista, aparece como remate final, em contraposição ao humano, para simbolizar o quê? Ou é só estilo? O estilo excessivo também é uma forma de pós-verdade: o inteligente escreve, nem que seja má prosa poética, para dizer alguma coisa aos outros; quem não o entende finge entender, para não parecer... gato. Sinceramente, não entendi. Queria dizer alguma coisa e esqueceu-se no meio do estilo?
  • João Galhardo
    23 nov, 2016 Lisboa 18:31
    Este artigo pode ser considerado uma «pós verdade» ou um «mundo ao contrário» de todos os artigos já alguma vez publicados por Raquel Abecassis.
  • e
    23 nov, 2016 a 15:44
    A sério?! a pós-verdade eleitoral de Outubro de 2015? Bolas, eu já me referi a esses assuntos e fui banido dos comentários da RR. Os jornaleiros da RR não estavam preparados... ou então é porque não me chamo Abecasis!