18 out, 2016
Corro o risco de parecer obcecada, como me é por vezes insinuado, mas a verdade é que nas últimas duas semanas fui confrontada com atitudes permanentes de desinteresse, enfado e incómodo que demonstram como é longo e difícil o caminho para a igualdade, e que me levam a voltar ao tema.
Quando comecei a trabalhar nesta área, deparei-me com estas mesmas atitudes. Mas o país entretanto progrediu muito em matéria legislativa e de definição de políticas públicas. A população está mais escolarizada e tem acesso a informação que poderia ter contribuído para um maior esclarecimento e consequentemente para a necessária consciencialização e mudança de pensamento e comportamentos.
Infelizmente, os números da desigualdade entre mulheres e homens persistem e, em situações de crise, como a que vivemos, agravam-se. Apesar das campanhas e das medidas postas em prática, esta realidade mantém-se e piora pelo silenciamento a que assim se vêem constantemente obrigadas todas as formas de opressão que quotidianamente ferem profundamente a dignidade de cada mulher e violam os direitos humanos. Desinteresse, enfado e incómodo são pois atitudes incompreensíveis.
Pertencemos a uma civilização que elegeu a dignidade de cada pessoa como estruturante da nossa organização, que consagrou a igualdade entre homens e mulheres como direito fundamental. A sua realização é determinante para a sustentabilidade das comunidades e do seu desenvolvimento. Este é, aliás, um compromisso assumido a todos os níveis, internacional, regional e nacional. O seu incumprimento representa uma tremenda violação aos valores fundamentais e um tremendo risco ecológico.
Não vou citar de novo os números avassaladores que tenho referido em muitos dos artigos que escrevi, que bem encontramos em relatórios técnicos, estudos científicos, notícias diversas. Vou relembrar somente que a Organização das Nações Unidas definiu como um dos objectivos estratégicos do desenvolvimento sustentável a igualdade entre mulheres e homens, que o Governo português elegeu como prioritário.
A indiferença, o faz de conta, contribui para a invisibilidade, retarda a intervenção necessária e urgente.
O desinteresse, o enfado e o incómodo agridem.