03 out, 2016
Foram tornados públicos recentemente, os resultados do Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens e de Mulheres, uma parceria entre o CESIS e a CITE, segundo os quais, apesar de as mulheres trabalharem cerca de menos duas horas semanais que os homens no trabalho pago, verifica-se que diariamente trabalham mais uma hora e quarenta cinco minutos no trabalho não pago.
No apuramento do saldo de trabalho pago e não pago, este representa uma carga de mais uma hora e treze minutos por dia para elas.
Ainda segundo os resultados acima referidos, e apesar da assimetria no cuidar das crianças ser menor do que na generalidade das tarefas domésticas, mesmo assim, as mulheres gastam mais 52 minutos diários que os homens em tarefas como dar banho, vestir ou alimentar.
Um outro estudo, de difusão ainda mais recente, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, coordenado pelo Professor Farinha Rodrigues, sobre o impacto da crise e da austeridade nas desigualdades económicas em Portugal entre os anos 2009 e 2014, revela que o índice de pobreza nas mulheres aumentou, em particular para aquelas que são as únicas responsáveis pela família. De acordo com os dados divulgados, verifica-se uma descida de 20% dos rendimentos, enquanto nos homens se regista 8%, para além de uma maior exposição ao risco de desemprego.
Em suma, trabalham mais, ganham menos!
Esta assimetria está errada, representa uma clara violação do princípio da igualdade, fere a dignidade das mulheres, e da humanidade no seu conjunto. Nada tem de natural, antes representa a persistente permanência de uma organização social e económica, arcaica e violadora dos direitos fundamentais.
O ordenamento jurídico português é claramente progressista, consagra de forma inequívoca os princípios fundamentais da igualdade e da dignidade, mas atavismos, preconceitos, abuso de poder, indiferença, são, sem dúvida, barreiras bem fortes à sua concretização. A vida quotidiana continua marcada por uma desigualdade que ofende e que é contrária a uma sociedade sustentável. Mais do que denunciar, é preciso querer e mudar, militantemente.