01 jul, 2016
Muito se tem falado sobre os cenários pós-Brexit, quer para o Reino Unido, quer para a União Europeia. Menos se tem falado sobre os efeitos no outro lado do Atlântico.
Apesar da "insularidade" e "auto-suficiência" por que os Estados Unidos são conhecidos, o referendo da semana passada, bem como os desenvolvimentos subsequentes, têm sido cobertos a um nível que raramente é atribuído a acontecimentos na Europa. E com razão, pois as consequências para o mundo em geral e para os Estados Unidos em particular são potencialmente muito significativas.
Os Estados Unidos encontram-se em plena época eleitoral. As convenções dos partidos Republicano e Democrata terão lugar na segunda metade de Julho, e a eleição presidencial na primeira Terça-feira de Novembro. As sondagens têm variado, mas a distância entre os candidatos não é grande. Neste contexto, qualquer pequeno "choque" no sistema poderá ser decisivo.
O paralelo entre o referendo Brexit e a plataforma do candidato Donald Trump é inevitável. Aliás, tenho dito que uma forma de caracterizar a posição dos "bréxitos" (os britânicos que votaram pela saída) é adaptar a frase registada do Trump, "Let's Make America Great Again", substituindo "America" por "Britain".
Sobre o paralelo estamos de acordo. Sobre o efeito que isto terá na campanha do Trump é mais difícil responder. Penso que há principalmente dois efeitos de sinal contrário.
1. O efeito de legitimação. Há uma fracção do eleitorado americano que gosta da atitude do Trump contra o status-quo político americano. Entre estes milhões de eleitores que estão fartos das "falcatruas" de Washington, há uns quantos que sentem um peso na consciência: a política de imigração do Trump não é justa, não é humana. Para eles o Trump tem agora uma resposta: "se me chamam maluco pelo que digo sobre os imigrantes, então também estão chamando malucos a metade dos ingleses".
2. O efeito de desmitificação. Como resultado da cobertura mediática sobre os efeitos do Brexit, muitos eleitores não familiarizados com a economia compreendem melhor o desastre que é dar um passo na direcção da autarquia, isto é, um passo na direcção oposta ao comércio livre. Entre esses eleitores, há uns quantos que agora compreendem a falácia da política comercial do Trump, que basicamente implicaria um acréscimo do proteccionismo.
Qual destes efeitos prevalecerá? Em Novembro teremos a resposta.