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Eunice Lourenço
Opinião de Eunice Lourenço
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Opinião

Tempo novo, slogans novos

01 mai, 2016 • Opinião de Eunice Lourenço


CGTP quer aumentos na função pública e progressão nas carreiras. Governo pretende congelar até ao fim da legislatura.

O primeiro-ministro proclamou que Portugal vive “um tempo novo”. Os partidos que o apoiam assinaram por baixo. E até a CGTP – a central sindical que liderou a oposição nos últimos quatro anos – fala na esperança do tempo novo.

Ora, o tempo novo levou slogans novos à Alameda, lugar de eleição das celebrações do Dia do Trabalhador organizadas pela CGTP. Depois de anos a ouvir “A luta continua, Governo para a rua”, custa habituar o ouvido e perceber que “a luta continua”, mas agora “nas empresas e na rua”.

O também clássico “É possível, é urgente uma política diferente” passou a “É urgente, é necessário, aumentar o salário”. Mas a verdadeira estreia foi: “Temos voto na matéria, queremos mudança séria”. Uma nova palavra de ordem que corresponde a uma nova atitude, tanto dos partidos parceiros do Governo, como da central liderada por Arménio Carlos.

O Governo, liderado por António Costa – que, à hora da manifestação, acompanhava a procissão do Senhor Santo Cristo dos Milagres – já mostrou que é possível fazer diferente, mas ainda não chega. E, por isso, é preciso continuar a pressioná-lo para alcançar as mudanças que, sobretudo o PCP e a CGTP, consideram ser do interesse de todos os trabalhadores. E Jerónimo de Sousa até avisou que a solução governativa será tanto mais duradoura quanto melhor souber dar resposta a essas reivindicações.

O Governo foi rápido na reposição dos salários da função pública e no fim da sobretaxa. Mas está a demorar no regresso às 35 horas, tema central deste 1º de Maio, tanto por parte da CGTP como da UGT. No entanto, as ameaças de greves caso a reposição não fosse feita antes de Julho (o prazo previsto pelo Executivo) ficaram pendentes. Pelo andar dos trabalhos do grupo de trabalho que, no Parlamento, está a tratar do assunto não parece que haja lei em vigor em Julho.

Há, no entanto, outra reivindicação muito mais à frente. No orçamento deste ano, o PCP deixou passar o congelamento de carreiras na função pública, mas avisou que era melhor não repetir. No programa de governo, o congelamento está previsto até 2018 e já se sabe que será para manter até ao fim da legislatura, acompanhado muito provavelmente de contenção salarial. É assim que o executivo pensa conter a despesa nos próximos anos.

Arménio Carlos, no entanto, considera “necessário e urgente o aumento geral dos salários”, como disse este domingo na Alameda. E avisou: “Um aumento geral dos salários tem de contemplar também os trabalhadores da administração pública.” Para o líder da CGTP, “a redacção da despesa pública não passa pelo congelamento de salários e de carreiras profissionais”, mas por cortes em parcerias público-privadas, em “negociatas” com escritórios de advogados e de consultoria, “pelo fim dos apoios aos banqueiros e ao financiamento do sistema financeiro”. Claro que também pediu a ruptura do Tratado Orçamental e a renegociação da dívida.

António Costa irá empurrando com a barriga, como é mestre em fazer, como o PS está a fazer com as 35 horas no Parlamento… mas quando tempo será possível empatar a CGTP e a sua mobilização de massas? “O povo unido jamais será vencido” continua a ser o clássico dos clássicos e não faltou neste 1º de Maio.

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