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Maria Rosário Carneiro
Opinião de Maria Rosário Carneiro
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09 fev, 2016 • Opinião de Maria Rosário Carneiro


Cidadãos analíticos, reflexivos e sistemáticos, críticos e livres são o reflexo de uma longa preparação, que passa também pela escola. Escola que não complica nem complexifica desnecessariamente, antes escola que atrai, convida e motiva, escola leve, criativa, libertadora.

No mês passado, visitei os meus filhos que vivem em Washington DC e tive oportunidade de acompanhar um pouco o trabalho escolar do meu neto mais velho. Tem oito anos e frequenta o segundo ano do ensino básico, na escola pública do seu bairro.

Tive, por isso, ocasião de ver em mais detalhe uma ficha de trabalho para casa. Uma folha A4, com letra gorda. Um texto de quatro linhas a descrever uma situação, uma informação genérica para o que era proposto (um facto é o que é, uma opinião é o que tu pensas), e o desafio: do texto que leste, escolhe três factos e dá três opiniões. Uma linha para cada. Ele escreveu três factos e três opiniões, um por linha.

Perguntei-lhe se fazia muitas fichas daquelas e se achava difícil. Disse que era normal ter fichas daquelas e que não achava difícil.

Devo confessar que fiquei encantada pela forma expedita como tantas competências são trabalhadas de forma simples, sistemática, não entediante, possível: a análise, a objectividade, o espírito crítico, a liberdade de expressão.

Quando cheguei, e porque os meus filhos há muito fizeram o segundo ano do ensino básico, tentei informar-me junto de quem tem filhos desta idade, na escola pública, se também faziam este tipo de trabalhos. A informação generalizada foi de que não.

Não pretendo com esta história concluir que o ensino deles é óptimo e o nosso não, mas simplesmente fazer uma reflexão acerca de métodos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento.

Cidadãos analíticos, reflexivos e sistemáticos, críticos e livres são o reflexo de uma longa preparação, que passa também pela escola. Escola que não complica nem complexifica desnecessariamente, antes escola que atrai, convida e motiva, escola leve, criativa, libertadora. Mas também que adestra na objectividade dos factos, e por isso mesmo consente e estimula a análise pessoal e a sua manifestação.

Temos todos, pais e escola, um longo e empenhado caminho a percorrer, mas se não o fizermos, faremos dos nossos filhos reféns de uma aprendizagem nem capacitante, nem libertadora.

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  • Paula Martins
    09 fev, 2016 Sintra 15:13
    Interessante.
  • António Costa
    09 fev, 2016 Cacém 10:21
    O seu artigo é interessante. Aqui em Portugal ( e não só) quando se têm "opiniões próprias" sobre algo, são imediatamente diagnosticados "problemas de aprendizagem". O aluno é "excelente" apenas quando "como um papagaio" repete a matéria "exatamente" como o "professor diz". A alteração de uma vírgula dá direito a "incompleto". Há uma falha muito grande, nos EUA. Muito mesmo. Para sermos "analíticos, reflexivos e sistemáticos, críticos e livres" temos que ter INFORMAÇÃO! INFORMAÇÃO alternativa! Se não sabemos o que são "laranjas" como podemos fazer juízos de valor se as "laranjas" são "verdes" ou "maduras"? Na Europa as "opiniões" sobre "laranjas" são as "replicas" das respetivas "forças politicas". Nos EUA há um "especialista" que SÓ sabe de "laranjas". Nos EUA, fora do expert, ninguém tem a MÍNIMA ideia do que são "laranjas". Na História, por exemplo, tentei ensinar aos meus filhos como pensava um romano e como pensava um cartaginês. Assim seria muito mais fácil perceber as guerras púnicas. Perceberem O PORQUÊ do CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES romana e cartaginesa. Se as pessoas analisassem as DIFERENTES formas de pensar das DIFERENTES culturas haveria muito mais respeito de uns pelos outros.....talvez......."que não percebem como pensam os jihadistas, é incrível! E pessoas com responsabilidades na área!"