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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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Reino Unido e União Europeia

05 fev, 2016 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Optimista como sou, estou confiante que as exigências do Reino Unido podem ser o primeiro passo para uma reforma muito profunda da União, que desactive o actual complexo burocrático-federalista e que a reponha no estatuto que foi o da CEE até 1992.

As negociações que neste momento se realizam entre o Reino Unido e as autoridades comunitárias sobre as condições de permanência dos britânicos na União Europeia são um bom começo e principalmente uma pressão bem-vinda para uma eventual reforma da União.

Efectivamente, dos pontos que o primeiro-ministro britânico Cameron adiantou como base de negociação, três merecem a minha inteira concordância e deveriam ser estendidos a toda a União.

O primeiro desses ponto s a exigência de que o euro não seja reconhecido como a única moeda europeia. Penso que faz todo o sentido. O fiasco indesmentível em que se tornou a união monetária, aconselha a que se inicie um caminho de recuo nesta matéria e o primeiro passo terá de ser, justamente, o reconhecimento de que não tem de haver uma moeda única na União.

O segundo é o de não obrigar os estados membros (Cameron, como é evidente, refere-se apenas ao Reino Unido, mas alargo a todos os estados) a aceitarem uma maior integração política. Para um estado relativamente pequeno como Portugal, este ponto é da maior importância porque, como se tem visto, o reforço da integração política tem significado uma cada vez menor possibilidade de Portugal se auto-governar, transformando-nos progressivamente num protectorado europeu.

O terceiro ponto, que está ligado ao anterior, exige a atribuição de maiores poderes aos parlamentos nacionais para bloquear eventuais iniciativas legislativas comunitárias. Trata-se, também, dum elemento essencial para travar o avassalador processo de centralização de poder que tem caracterizado a União desde há duas décadas.

Optimista como sou, estou confiante que as exigências do Reino Unido podem ser o primeiro passo para uma reforma muito profunda da União, que desactive o actual complexo burocrático-federalista e que a reponha no estatuto que foi o da CEE até 1992: uma organização de estados soberanos e iguais (repito: soberanos e iguais) que recusam a formação de um super estado europeu e que cooperam em certos domínios de interesse comum.

Comentários
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  • José M. R. Gonçalves
    06 mar, 2016 Braga 23:18
    Deus lhe dê razão. Neste momento a UE é uma manta de retalhos, um serviço ao gosto de cada um. Costumo ver isto nos restaurantes "self-service", ou seja, só como do que gosto, o resto ..., dispenso.
  • antonio
    07 fev, 2016 calcuta 23:11
    Joao nao sabes dizer....pao. .
  • Sérgio Sodré
    07 fev, 2016 Carcavelos 20:08
    Concordo com João Ferreira do Amaral e aconselho a leitura dos livros que tem escrito sobre a União Europeia.
  • Carlos
    07 fev, 2016 Lx 15:24
    "uma organização de Estados soberanos e iguais" é uma utopia, se uns gastam muito e se endividam e outros não se endividam deixam de ser iguais e soberanos pois passam a depender de quem lhes empresta o dinheiro.
  • Francisco Crespo
    07 fev, 2016 Lisboa 13:24
    Meu caro amigo, totalmente de acordo,, acrescentava que então poderíamos propor com êxito alternativas de pagamento da dívida dependente do crescimento económico anual....
  • elvira candida azeve
    07 fev, 2016 v.n.famalicão 13:05
    como sempre João f. amaral está com a solução certa para os graves problemas de crescimento económico do nosso depauperado Portugal,
  • Zé Açor
    07 fev, 2016 Açores 12:59
    Totalmente de acordo com o ideário de Ferreira do Amaral. Portugal tornou-se num protectorado de Bruxelas, que apenas obedece aos ditames de Berlim. A actual política monetária europeia só favorece um país: a Alemanha. Esta conseguiu através da economia o que não obteve com duas guerras, o domínio da Europa.
  • AASOUSA
    07 fev, 2016 VALONGO 11:51
    Completamente de acordo com a posição do Prof Ferreira do Amaral. Pena é que a qualidade dos políticos portugueses seja tão fraca que não sigam os conselhos deste qualificado economista e patriota. Façamos votos que a superior visão política de Cameron provoque "mossa" nos burocratas da UE e os nossos se atrelem às suas exigências.
  • Brandão Ferreira
    07 fev, 2016 Algés 09:17
    5 estrelas!
  • victor
    05 fev, 2016 lx 11:46
    Subscrevo inteiramente esta intenção de mudança, só tenho pena que esta linha de pensamento, sempre representada por Ferreira do Amaral, não tenha representatividade orgânica no n/ quadro político...