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Opinião de Graça Franco
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Marcelo será Presidente. Só não sabemos quando

22 jan, 2016 • Opinião de Graça Franco


Por muito que uma segunda volta reforce a “estratégia ganhadora” do candidato da esquerda das esquerdas, é difícil imaginar que o centro, subitamente perdido por Maria de Belém, esteja disposto a dar-lhe o seu voto.

Marcelo será Presidente. Só não sabemos quando. No próximo domingo ou a 14 de Fevereiro? Esta é pelo menos a conclusão óbvia das indicações de voto resultantes da leitura cruzada das três grandes sondagens dadas a conhecer nesta ponta final da campanha.

Mas será mesmo assim, ou a dinâmica de uma eventual segunda volta pode ainda trazer surpresas e fazer do quase desconhecido Sampaio da Nóvoa um novo Soares?

Quase impossível. Por muito que uma segunda volta reforce a “estratégia ganhadora” do candidato da esquerda das esquerdas, é difícil imaginar que o centro, subitamente perdido por Maria de Belém, esteja disposto a dar-lhe o seu voto. Marcelo já provou ser o comentador de todos os portugueses. Do Bloco de Esquerda ao CDS-PP, não assusta ninguém.

Não é preciso fazer muitas contas para perceber que há pelo menos 60% de hipóteses de Marcelo ganhar à primeira volta. Mas 40% de hipóteses de existir segunda é uma enormidade. Basta pegar na sondagem de hoje do “Correio da Manhã”, onde Marcelo “ganha à primeira” com 51,5% seguido de 22,6% de Sampaio da Nóvoa, para se perceber que, tendo em conta a margem de erro, o eleitorado marcelista se situa num intervalo de 48,1% e 54,9% ou seja, a vitória pode ser esmagadora à primeira volta ou, pelo contrário, ser forçado a passar à segunda.

Claro que quando um candidato passa de uns confortáveis 60% de intenções de voto em período pré-eleitoral para uns escassos 48% o efeito pode ser além do mais devastador, o que não facilita a tarefa a Marcelo, sobretudo contra uma estratégia adversária que vai no sentido oposto: Nóvoa começou francamente abaixo de Maria de Belém com uns escassos 16% contra uns sólidos 18% da ex-ministra, mas o desastre da primeira semana de campanha da candidata socialista acabou por permitir a Sampaio da Nóvoa ficar em melhor posição na luta pelo segundo lugar.

Fruto ou não da “batota” denunciada por Vera Jardim… a verdade é que Nóvoa não tem parado de crescer nas intenções de voto desde aí. É por isso difícil prever o efeito final dos dois efeitos conjugados (desencorajamento da campanha marcelista e unidade da esquerda em torno de uma dinâmica “vencedora” em crescendo…), mas a verdade é que, a acreditar nas mesmas sondagens, Marcelo continuaria ganhador.

Uma coisa parece certa, a cada dia que passa a tarefa de Marcelo será mais difícil para manter (para já não falar em aumentar …) a sua margem de manobra. Em 2006 Cavaco Silva evitou a segunda volta por escassos 33 mil votos. Ora, basta que Paulo Morais e Henrique Neto reforcem o seu score de descontentes com o sistema ou a abstenção aumente na ordem dos 2 a 3 pontos percentuais (o que vários analistas consideram como cenário possível) para que fiquem em jogo bastante mais de 250 mil votos, baralhando assim todas as certezas das sondagens.

A confirmar-se a descida de Maria de Belém (ironicamente vítima da sua defesa coerente da Constituição numa matéria tão impopular quanto a defesa do princípio da confiança nas subvenções vitalícias), será interessante perceber como a sua queda acaba a beneficiar muito mais Marisa Matias, como efeito secundário do debate a nove de que a candidata esteve ausente, do que por exemplo Paulo Morais, com o discurso mais marcadamente populista da campanha, ou até o próprio Sampaio da Nóvoa.

Para o Bloco ver Marisa colocar-se em terceiro lugar será sem dúvida uma vitória retumbante, a somar à sua crescente influência na acção governativa (via coligação informal de suporte ao executivo de Costa).

Este dado baralhará também o jogo à esquerda, onde o PCP se arrisca a conseguir um dos seus piores resultados de sempre com a escolha de Edgar Silva para candidato do partido. Este, nas suas melhores sondagens fica-se por uns escassos 5%, muito abaixo da votação do partido e a anos-luz do máximo de 8,9% conseguidos por Jerónimo de Sousa.

Parte deste desastre será certamente explicável pelo desvio do eleitorado comunista atraído pelo “voto útil” em Sampaio da Nóvoa, cujo discurso zeca-afonsista colhe bem no eleitorado conservador do PCP.

Seja qual for o resultado de domingo uma coisa é certa, a senhora “abstenção” ameaça desempenhar papel fulcral nesta eleição. Num momento em que o próximo presidente precisa de uma legitimidade reforçada seria trágica uma vitória, mesmo à primeira volta, que não obtivesse, à semelhança das últimas presidenciais, nem sequer um terço dos portugueses.

Recomenda-se, por isso, vivamente um passeio até às urnas no próximo domingo. Para votar, seja em que candidato for, mas votar. Só isso garantirá que apesar de legitimada pelo sufrágio universal, a magistratura de influência que se espera do cargo não se esgote numa nova retórica presidencial, à direita ou à esquerda, sem influência nenhuma.

Comentários
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  • rosinda
    22 jan, 2016 palmela 22:25
    temos um governo socialista ! um presidente da assembleia da republica socialista !chega de socialistas!
  • Marteladas
    22 jan, 2016 Alcatraz 20:52
    Com o meu voto o prof Martelo nunca será presidente, não quero em Belém o Kavako II
  • lv
    22 jan, 2016 Lisboa 19:01
    A Gracinha já nós sabemos, é jornaleira do antigo regime desde sempre!