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Opinião de Aura Miguel
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Enfrentar a verdade

01 dez, 2015 • Opinião de Aura Miguel


Ao proclamar Bangui a “capital espiritual do mundo”, o Papa está a convidar cada um de nós a enfrentar a verdade e a reparar no que se passa à nossa volta.

Pela primeira vez, confrontei-me com a realidade dos bairros de barracas de Nairobi, com a sua esmagadora dimensão, onde a pobreza extrema coabita com a violência e a promiscuidade, onde o esgoto e os lamaçais, as crianças e as lixeiras assumem uma normalidade perturbadora.

“É uma grande dor e ninguém repara”, desabafou o Papa. Alguns dias depois, aconteceu o mesmo em Bangui, quando visitou o único hospital pediátrico da República Centro-africana. “Ali, falta-lhes tudo, não há garrafas de oxigénio e são tantas as crianças malnutridas, que as crianças acabarão por morrer, porque não têm resistências”, comentou Francisco.

“Se a humanidade não muda, continuarão as misérias, as tragédias, as guerras, as injustiças. Esta é a verdade e, sem enfrentar a verdade, as coisas não mudam.” E foi isso mesmo que o Papa fez: saiu do seu conforto quotidiano e chamou a atenção do mundo para a África, levando-lhes o amor e a humanidade de Cristo, lá mesmo, onde vivem e sofrem. E ao abrir a primeira porta santa do jubileu da misericórdia na catedral de Bangui - e não na Basílica de São Pedro, como sempre se fez ao longo dos séculos -, Francisco mergulhou numa das mais duras realidades do mundo e falou da urgência da conversão.

Ao proclamar Bangui a “capital espiritual do mundo”, o Papa está a convidar cada um de nós a enfrentar a verdade e a reparar no que se passa à nossa volta. Ou seja, a tomar a sério as exigências de perdão e misericórdia pelas quais o nosso coração e o coração de cada um tanto anseiam.

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  • António Costa
    01 dez, 2015 Cacém 07:37
    Veja-se a tremenda força dos media quando acontece qualquer coisa na Europa. Quando em 1994 foram mortas entre 500 000 a 1 milhão de pessoas em 3 meses, no Ruanda, praticamente isso passou ao lado dos europeus. O Ruanda tem apenas 11 milhões de habitantes, 3 vezes menos que a Síria, por exemplo. Na Síria já morreram 250 mil pessoas. No Ruanda em proporção foi 10X mais em apenas 3 meses! Passou praticamente "ao lado"!