26 nov, 2015
A Alegoria da Caverna foi escrita por Platão, como diálogo de Sócrates com Glauco, no livro VII de “A República”, no séc. IV antes de Cristo, Nela, Platão imagina homens a viver dentro de uma caverna, desde o nascimento, sempre de costas voltadas para a entrada. Os seus sentidos apenas captam sombras e movimentos projectados no fundo da caverna, a par de sons. A realidade sensível resume-se à que os sentidos conseguirem captar e a realidade inteligível será, para cada um, a que conseguir elaborar a partir da realidade sensível. Se um deles for perscrutar o mundo exterior e regressar à caverna a dizer que há mais mundo e bem diferente daquele, os seus antigos companheiros, por não terem percepcionado a nova realidade sensível, não acreditarão nele e matá-lo-iam se fossem forçados a ir descobrir aquele novo mundo.
A Europa tem vindo a construir uma verdade a partir da idealização de um poder e influência que já não tem, uma verdade só sua, sem adesão à realidade! Continua a imaginar que basta o bater das asas de uma borboleta europeia, para provocar um tornado na América! E teima em pensar o mundo actual a partir das sombras reflectidas no fundo desta caverna chamada Europa! Ou, com mais propriedade, no fundo das cavernas que compõem (ou em que se decompõe) esta ideologicamente fragmentada Europa, sem uma ideia do “todo” e da força que um “todo” teria! E do bem que este “todo” faria por si, na afirmação contra estratégias onde não cabe uma grande e fortalecida Europa.
Tudo indica também que ainda não percebemos o caos ideológico a que chegámos e o efeito que este tem na incapacidade de gerarmos um conceito estratégico europeu de defesa do espaço, da cultura e dos valores. Nem, tão pouco nos apercebemos, no dia-a-dia, do nível de alienação atingido, ao ponto de mesmo a razão prática se deter receosa à entrada das tenebrosas cavernas que habitamos. E quando, um rasgo de génio humano se solta do fundo das cavernas e nos puxa para a luz, logo um reflexo condicionado o aponta como “sonhador” e assim o mata. Porque, se é sonho, até pode ser muito belo e logo verdade!... Contudo, e por cautela, o melhor é não o sonharmos, porque ainda nos imaginamos com muito a perder. Sem nos darmos conta de que, quando matamos a diferença estamos a alimentar a indiferença e com ela o ódio, e estamos a matar a esperança que o sonho transporta! E, sem o querer, servimos “outro senhor”!...
Sei que iremos reagir! Infelizmente, só quando muitos sentirem que já não há nada a perder! Só então subiremos das cavernas e começaremos, também nós, a arrancar pedras da calçada!...