07 jun, 2015 • Aura Miguel
Mal saímos do avião papal, três helicópteros militares, com soldados atiradores debruçados de metralhadora apontada para a pista, sobrevoaram por cima de nós, em círculos de baixa altitude. Numa terra tão martirizada por uma guerra étnico-religiosa e com feridas ainda abertas desde a guerra nos anos 90, os cuidados reforçaram-se para assegurar a protecção de um visitante tão ilustre. De facto, no percurso do aeroporto até ao centro da cidade, vê-se um ou outro cemitério e alguns edifícios ainda guardam as marcas da guerra. Marcas físicas e não só.
“Esperamos ter aprendido as lições do passado recente e que, à nossa frente, se abra um tempo novo de compreensão, reconciliação e colaboração”, disse o responsável sérvio em funções da presidência tripartida da Bósnia Herzegovina. Francisco condenou todo o tipo de “barbárie que usa as diferenças como pretexto para o ódio e a violência”. E ao falar de paz, fez votos para que “cada um, no seu contexto, construa, pratique a paz” e “respeite as diferenças”, para que “o conjunto das diferentes vozes formem um canto harmonioso e não gritos fanáticos de ódio”.
Como um pai que vem dar apoio e consolar, Francisco não se limitou a falar; também teve tempo para ouvir. Ouviu as alegres canções de um coro misto de crianças cristãs e muçulmanas de Sbrenicza – um dos locais a poucos km de Sarajevo onde, há 20 anos, a violência dos massacres envolveu ortodoxos e muçulmanos. E comoveu-se com os testemunhos de dois sacerdotes e uma religiosa vítimas do horror da guerra. Presos, torturados e ameaçados de morte, entre 1992 e 1993, estes “mártires vivos” hoje tudo perdoaram. Um deles, pároco em Banja Luka, agradeceu ao Papa as suas palavras de paz e consolação, com lágrimas nos olhos: “Estou convencido de que a sua visita e a sua palavra são como um bálsamo para as feridas de muitos nesta terra. Obrigado por ter vindo despertar a semente da bondade no coração de muitos que praticaram o mal.”
No regresso a Roma, em conversa com os jornalistas, Francisco esclareceu a sua preferência: “São tão europeus como os outros; tal como os albaneses. Não integram a União Europeia, mas são Europa, por isso, decidi começar as minhas visitas a este continente por estes dois países. Quanto ao futuro (leia-se, próximas viagens europeias), logo se vê!”.